É secretário geral da Federação Argentina de
Trabalhadores Cervejeiros e Afins (FATCA) e
participou da I Conferência Internacional da
Federação Latino-Americana de Trabalhadores
da InBev, realizada recentemente em Buenos
Aires. Em diálogo com Sirel, traçou um
panorama da realidade dos trabalhadores
cervejeiros da Argentina e anunciou a
intenção da FATCA de, em breve, voltar a
filiar-se à UITA.
-Como está a situação dos
trabalhadores cervejeiros na Argentina?
-A indústria local acompanha
o movimento geral que vem ocorrendo em toda
América Latina, que é o aumento da
participação de capitais brasileiros, não só
nas cervejarias, mas também na economia em
geral. A InBev controla as principais
cervejarias nacionais há quase três anos.
Primeiro se instalaram como Brahma na
cidade de Luján de onde competiram
especialmente com a empresa líder local que
era a Cervejaria Quilmes a qual,
finalmente, terminaram comprando.
-Que posição exatamente a
Quilmes tinha no mercado local?
-Quase 80 por cento do
mercado.
-Quantas pessoas o setor
cervejeiro emprega e, em particular, a
InBev?
-Toda a indústria emprega
umas 5 mil pessoas, das quais umas 3.200
estão nas cinco empresas da InBev na
Argentina. Estas cifras se referem
exclusivamente a trabalhadores de produção e
vendas, já que os distribuidores têm um
sindicato diferente.
-Quais são os problemas mais
importantes identificados, atualmente, pelos
trabalhadores cervejeiros?
-Alguns são exclusivamente
setoriais, porém outros derivam da
interferência das políticas nacionais. Este
é um país bastante complicado no qual um dia
se entra em acordo por uma coisa, mas que no
dia seguinte passa a não ter mais sentido,
porque alguma coisa alterou as condições. O
salário, por exemplo, é muito afetado por
uma inflação forte. Mas, em nosso ambiente
específico, os trabalhadores cervejeiros
vêem com preocupação a política de expansão
da InBev, já que as empresas globais
estão expostas a crises também globais, como
já aconteceu com outras transnacionais, e
nesse caso nos perguntamos como isso
afetaria os trabalhadores. É mais difícil se
defender localmente de uma empresa que atua
em uma escala mundial.
-O que acontece com os
Convênios Coletivos?
-Estão indo bem. Inclusive,
escutamos nesta reunião da Federação
Latino-Americana, que temos mais ou menos os
mesmos níveis salariais e os mesmos
inconvenientes. Por isso, acredito que nos
integrarmos a esta Federação será um passo à
frente para começar a solucionar alguns dos
problemas que foram apresentados hoje.
-A FACTA esteve filiada à
UITA…
-Sim, durante
muitos anos, e participamos de várias das
Conferências Latino-Americanas da
Internacional. Em 2001 a economia argentina
veio abaixo e isso afetou muito os
sindicatos que perderam numerosos filiados e
grande parte da sua renda. Agora, estamos
nos recuperando e estamos fazendo as gestões
para voltarmos a nos filiar, em breve.
-O que esperam ao se filiar à
UITA?
-É fundamental ter contacto
com os demais trabalhadores cervejeiros da
região, estabelecer mecanismos de
comunicação mais fluidos e constantes,
levando em conta que a InBev avança
muito rápido, inclusive às vezes submetendo
os sindicatos locais. Por isso, este âmbito
é uma excelente possibilidade de conseguir
melhores posições para defender a legislação
nacional e os acordos locais. Acreditamos
que o melhor caminho em relação a isso é a
UITA, e será a única possibilidade de nos
defendermos do ataque empresarial dirigido
aos trabalhadores cervejeiros.
-Como você avalia esta I
Conferência Internacional da Federação?
-Vimos que quase todos os
problemas que temos são similares. É
evidente que esta empresa só tem interesse
em faturar, sem se importar com as
conseqüências do que fizer para alcançar
esse objetivo. Só querem ganhar dinheiro.
Acredito que o que falta aos trabalhadores,
seja de qual país for, é se despojar da
crença de que uns são melhores que outros
porque, finalmente, o que todos fazemos é
ganhar um salário para que nossas famílias
possam viver. A melhor posição para isso
será nos comunicarmos mais e melhor e nos
mantermos fortemente unidos. Esta
Federação é uma excelente ferramenta, e
devemos usá-la para reagir rapidamente e de
forma uníssona quando ocorrer qualquer
agressão empresarial em qualquer que seja o
país. Individualmente os sindicatos não
têm nenhuma saída. As soluções serão
alcançadas por todos juntos.
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