No dia 27 de maio, fomos
surpreendidos com a notícia de que Maeda, um dos mais tradicionais grupos do
agronegócio no Brasil, fundado por imigrantes japoneses há 80 anos em
Ituverava (SP), vendeu seu controle acionário para a Arion Capital, fundo de
investimento controlado pelo bilionário Enrique Bañelos, expoente da bolha
imobiliária espanhola. O Maeda ocupa uma área de 100 mil hectares nos
estados de Goiás, Mato Grosso e Bahia.
O fato não é isolado. A compra do Maeda é a expressão da crescente
desnacionalização de nossas terras e usinas, entregues ao controle de
grandes especuladores internacionais. O governo, infelizmente, assiste de
camarote o fenômeno, enquanto o Congresso Nacional, timidamente, começou a
discutir uma forma de limitar a ganância dos gringos.
Mas é no
setor de cana-de-açúcar que verificamos uma verdadeira avalanche de fusões e
aquisições bancadas pelo capital externo. No fim do ano passado, a
multinacional americana Bunge arrematou cinco usinas do Grupo
Moema por 1,5 bilhão de dólares, triplicou sua capacidade de moagem e
assumiu o posto de terceiro maior produtor de açúcar e álcool do País.
Em
setembro, a francesa Louis Dreyfus Commodities comprou o controle da
Santelisa Vale, criando a segunda maior companhia do setor em todo o
mundo. Este ano, a holandesa Shell uniu-se à Cosan, maior
empresa de álcool e açúcar do mundo, e formou uma gigante com faturamento
estimado em 40 bilhões de reais.
Segundo
dados da Datagro, maior consultoria de açúcar e álcool do Brasil, a
participação dos estrangeiros na moagem de cana era de apenas 4 por cento em
2003. Essa fatia saltou para 12,4 por cento em 2008, 23,2 por cento em 2009,
e já está em 25,6 por cento. Até 2020, metade do mercado deve estar nas mãos
dos estrangeiros. Atualmente, existem 179 grupos econômicos controlando 457
usinas no País. A previsão da Datagro é que, em 15 anos, existirão, no
máximo, 60 grupos.
O excessivo
endividamento das usinas as tornou alvo fácil dos especuladores
internacionais. E essa indústria é cada vez mais uma indústria de energia,
voltada para o etanol, o combustível limpo cobiçado em todo mundo,
principalmente pelos países destituídos de petróleo, e cada vez menos
indústria de alimentos. Essa, aliás, já é a causa central da especulação que
se pratica com o preço do açúcar, produto cada vez mais escasso.
Exemplo
disso é o que ocorre no Centro-Oeste e Nordeste do País, regiões em que
predomina o cultivo da soja. Hoje, ao menos 20 grupos estrangeiros exploram
essas novas fronteiras agrícolas. Exemplo: a Adecoagro, empresa controlada
pelo mega-especulador George Soros, já produz commodities em 340 mil
hectares de terra distribuídos entre Brasil, Argentina e
Uruguai.
Algumas
dessas empresas especializaram-se em comprar terras de baixo custo para
valorizá-las e vendê-las por um preço muito mais alto. Segundo estimativas
da AgraFNP, o preço das fazendas disparou: nos últimos 36 meses, o preço
médio das terras agricultáveis subiu 54 por cento no Maranhão, 70 por cento
no Piauí e 68 por cento no Tocantins.
Outro fato
igualmente grave é que, enquanto constatamos a crescente produtividade
dessas usinas e a especulação com as terras, os trabalhadores continuam
sendo tratados como escravos e muitos outros são expulsos das áreas onde que
antes trabalhavam para a periferia das grandes cidades.
Todos esses
fatos reforçam nossa preocupação de que a concentração da produção nos
biocombustíveis, como o etanol, é justo do ponto de vista da defesa do meio
ambiente, mas não pode representar restrição das áreas de alimentos e a
precarização da mão-de-obra.
E a certeza
de que sem uma ação do Estado e sem uma legislação para combater esses
flagrantes e perversos fenômenos, o futuro da Nação estará comprometido pela
ameaça à segurança alimentar, à dignidade dos trabalhadores e à soberania do
país.