Dois
trabalhadores piauienses, vítimas de trabalho escravo em usinas de
cana-de-açúcar em outros estados, foram encaminhados na semana passada à sede da
FETAG/PI para buscar auxílio jurídico.
Um deles, Manoel José
Gomes, está impossibilitado de trabalhar por conta de problemas físicos. Já
Cícero Júnior da Silva está com 90% da visão comprometida. Os dois apresentam
seqüelas das atividades a que eram submetidos nos estados do Pará e Goiás,
respectivamente.
De acordo com o
secretário de assalariados da Fetag/PI, Anfrísio de Moura,
não há dúvidas de que os dois
casos são de trabalho escravo e revelam a exploração e a falta de compromisso
das empresas com os trabalhadores.
"Pretendemos entrar na Justiça para que não se tornem casos impunes, para que
essas pessoas possam ser indenizadas por danos morais e receber seus direitos
trabalhistas".
O presidente da
federação, Evandro Luz, disse que já tomou providências com relação aos
dois trabalhadores. "Nós já fomos ao Ministério do Trabalho, estamos levando
também ao INSS para ver a questão do auxílio acidente e estamos ingressando com
uma ação na Justiça para indenização por danos da própria empresa".
Manoel José
Gomes,
de 28 anos, que reside no município de Nossa Senhora dos Remédios, viajou para o
estado do Pará em abril de 2005 em busca de emprego. Chegando lá, foi contratado
pela empresa Pagrisa,
que assinou sua carteira de trabalho e passou a remunerá-lo com um salário
mínimo. Um laudo médico revela hoje a impossibilidade de ele voltar a trabalhar,
e diz que ele "necessita ficar afastado definitivamente de sua função".
O piauiense
conta que até hoje nunca teve férias e que trabalhava a semana inteira, sem
direito à folga, inclusive nos feriados. E foi na noite de um feriado que um
trator ficou por duas horas sobre seu corpo. "O
carro estava com defeito nos faróis e no freio e tombou sobre um monte de barro
que havia no terreno. O veículo virou e ficou por cima de mim". Somente duas
horas depois ele foi resgatado e levado ao médico, onde realizou uma cirurgia na
bacia. Para que ele fosse retirado, um cano teve de ser quebrado. O prejuízo foi
descontado do salário do trabalhador.
Cícero Junior
da Silva,
da cidade de São João da Varjota, passou mais de um ano trabalhando para a
empresa MB Ltda.,
no estado de Goiás. Em fevereiro de 2007, ele foi para São Paulo, onde foi
contratado para ser cortador de cana. No mês de maio, ele sentiu que estava com
algum problema na visão e procurou o médico da empresa.
"O médico me
deu um encaminhamento imediatamente para um especialista na área de retina. O
especialista tinha convênio com a usina e viu que meu caso era grave. Ele me deu
um relatório dizendo que eu tinha que passar alguns dias em casa, que tinha que
procurar outro especialista". Depois disso, segundo Cícero, a empresa forneceu
um atestado e ele se dirigiu ao INSS, mas teve o pedido de afastamento recusado.
"Aí eu voltei e
o médico falou:
- ¿Nós vamos
dar o tratamento, mas você vai ficar sem ganhar?
-Aí eu falei:
¿Doutor, mas como é que eu vou viver aqui? Eu tenho que comer, pagar luz, água,
aluguel, como eu vou viver aqui?
-O médico
disse: ¿Eu não posso fazer nada?
Anfrísio de
Moura
diz que esses são apenas
dois casos de muitos que acontecem no Brasil. Muitas vezes, a pressão
psicológica exercida pelas empresas sobre os trabalhadores acaba impedindo-os de
denunciar. "Os casos são muitos, mas as pessoas que têm coragem de denunciar são
poucas".
FETAG/PI / CONTAG
24 de junho de 2008
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