Brasil -
Pará
Agente de saúde da Funasa morre em conseqüência de
intoxicação no combate à dengue e malária |
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Este foi o
terceiro funcionário intoxicado da Funasa a morrer somente
neste ano. |
Mais um agente de endemias da Fundação Nacional de Saúde (Funasa)
morre em decorrência da contaminação com mercúrio e os
inseticidas DDT e Malathion. José Idemar
Oliveira morreu na terça-feira, 8, em Conceição do Araguaia,
após conviver por mais de uma década com as seqüelas da
intoxicação, contraída quando fazia trabalho de campo no
combate à dengue e à malária. Com apenas 36 anos, arrimo de
família, ele deixou três filhos menores. Este foi o terceiro
funcionário intoxicado da Funasa a morrer somente neste ano.
Para o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público
Federal no Estado do Pará (Sintsep), a morte do agente de
saúde poderia ter sido evitada se a Funasa viesse garantindo
um atendimento médico adequado aos contaminados.
“Infelizmente, estes falecimentos estão se tornando
previsíveis, diante do abandono a que estão relegados pelo
governo”,
afirma o coordenador- geral do Sintsep, Cedício Vasconcelos.
A situação se torna mais grave pelo fato de as condições de
vida de Oliveira terem sido denunciadas ao governo federal
oito meses antes da morte do servidor.
No dia 12 de março deste ano, o Sintsep enviou um documento
denunciando o caso de Oliveira à Secretaria Especial de
Direitos Humanos e à Presidência da República, mas o governo
federal sequer se manifestou. Em um pequeno dossiê, a
entidade relata que o servidor convivia com
“diabetes,
perturbações neurológicas, fadigas, dores musculares e
lombares, nervosismo, alucinações e transtornos emocionais
com vontade de matar e de morrer”.
Burocracia
O documento relata, ainda, que o servidor encontrava- se em
um quadro depressivo, sobretudo pela impotência sexual
decorrente da contaminação. Os diretores do Sintsep garantem
que todos os distúrbios foram acarretados pela intoxicação,
pois o exame admissional do servidor à Funasa atestava que
Oliveira tinha uma vida saudável e aptidão para assumir o
cargo.
Segundo o próprio setor de Recursos Humanos da
Funasa, cerca de 300 agentes de endemias
encontram-se nessa situação somente no Pará. A
falta de equipamentos de proteção para a
atividade foi a principal causa da intoxicação. |
O estado de saúde dele piorou há cerca de dois anos. O
atendimento médico vinha sendo garantido pela Funasa de
forma limitada e isto porque o Sintsep conseguiu uma tutela
antecipada na Justiça Federal. De acordo com as denúncias da
entidade sindical, a Funasa só garantia atendimento nas
especialidades médicas que o servidor necessitava quando a
contaminação foi detectada. “O problema é que a intoxicação
se agravava e acarretava outros problemas de saúde, que o
governo se recusava a atender”,
revela Cedício Vasconcelos.
Segundo Genival Rodrigues, colega de Oliveira, ao invés de
garantir um atendimento médico adequado ao agente de
endemias, o órgão tentava denegrir a sua imagem,
“considerando-o
como bandido, preguiçoso, malandro, irresponsável e
cachaceiro”.
Desconto
Apesar de vários laudos médicos atestarem a contaminação e
indicarem o afastamento do servidor de suas atividades, a
Funasa não o afastou e, ainda, descontou o salário do
servidor nos meses de junho, julho e agosto, quando Oliveira
não compareceu ao trabalho, em virtude da intoxicação.
O servidor ingressou no serviço público no dia 9 de
fevereiro de 1987, ainda na antiga Superintendência de
Campanhas de Saúde Pública do Ministério da Saúde (Sucam),
atual Funasa. Em 2001, foi cedido para prestar serviço na
Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa), onde
aumentaram as perseguições sofridas por ele em virtude das
condições debilitadas para trabalhar.
Como a
doença foi descoberta
A primeira denúncia de contaminação pelos inseticidas DDT
e Malation surgiu em 1996, quando funcionários da
antiga Sucam relataram a intoxicação, durante um congresso
da categoria, em Marabá. Na época, o sindicato formalizou a
denúncia na Funasa, na Secretaria Municipal de Saúde (Sesma)
e na Secretaria Executiva de Saúde do Pará (Sespa), mas não
foi dada muita atenção ao problema e as antigas direções do
Sintsep também não deram importância ao caso.
A médica toxicologista da Fundação Oswaldo Cruz de Recife
Idê Gurgel acompanhou os servidores e constatou juntamente
com outros médicos a contaminação. Com exames e prontuários
médicos, a Funasa foi imediatamente procurada, mas nunca se
responsabilizou de fato pelo atendimento dos intoxicados.
Segundo o próprio setor de Recursos Humanos da Funasa, cerca
de 300 agentes de endemias encontram-se nessa situação
somente no Pará. A falta de equipamentos de proteção para a
atividade foi a principal causa da intoxicação.
Negligência
Os funcionários relatam que, quando trabalhavam no combate à
dengue e à malária, houve negligência por parte da Funasa,
que não alertou, como deveria, sobre o perigo da
contaminação.
“Os
coordenadores de serviços do campo da Sucam falavam que
podíamos até beber o DDT que não fazia mal algum”,
conta um servidor intoxicado, que prefere não se
identificar.
Segundo ele, os agentes de saúde chegavam até a dormir em
cima das caixas de inseticida, por falta de espaço e de
condições dignas de trabalho.
Publicado en
O Liberal, Belém – PA
14-11-2005
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