Na quinta-feira
passada, 31 de julho, vários integrantes da Polícia Nacional da
Nicarágua interromperam abruptamente a quarta videoconferência realizada
diante do Edifício Pellas pelos membros da Associação Nicaraguense de
Portadores de Insuficiência Renal Crônica (ANAIRC), organização filiada
à UITA. Dezenas de pessoas e de organizações internacionais assistiram
ao vivo, através da Web, à brutal e injustificada repressão policial
que, aparentemente, marca uma mudança de atitude deste corpo repressor
em relação aos ex-trabalhadores da indústria açucareira.
“Já
havíamos começado a videoconferência quando a polícia chegou e, sem
dizer nada, começou a nos atacar, contou ao Sirel a presidenta
da ANAIRC, Carmen Ríos.
Quando
tentei falar com eles, para lhes dizer
que
estavam violentando os meus direitos, mandaram eu calar a boca, dizendo
que só por falar com eles eu já estava lhes faltando com o respeito e
começaram a me bater. Tentei me defender, porém os agentes, entre eles
uma mulher, partiram para cima de mim e recebi até um chute no útero”.
Segundo
o relato de Carmen Ríos, os agentes não deram nenhuma explicação
do porquê da desocupação, e muito menos da atitude extremamente violenta
contra a sua pessoa e a dos companheiros que tentaram defendê-la.
“Meus
companheiros também foram espancados pela Polícia ao tentar me defender.
Pessoas muito doentes foram jogadas no chão. Ao final, fui levada à
força, junto com outros três companheiros, até um posto do 5º. Distrito
Policial.
No
caminho –continuou Ríos– continuei apanhando, principalmente de
uma mulher policial que leva a placa número 8168 e de nome Juana. Quando
chegamos ao posto policial começou outro pesadelo.
A
mulher quis me despir e continuou me batendo. Diante da minha
resistência, colocou uma pistola na minha testa dizendo que se eu não
tirasse a roupa ela me mataria. Ela até insultou um agente que entrou no
quarto reclamando do tratamento que eu estava recebendo dela”, denunciou
a presidenta da ANAIRC.
“Depois
dos golpes e da violação dos meus direitos fui conduzida a outra sala
diante de outra policial, e comecei a protestar porque nunca na minha
vida pensei que algum dia a nossa Polícia Nacional, que surgiu da
Revolução para defender os direitos do povo, iria agir desta maneira.
Nesse
momento entrou a mesma policial e, com novos insultos, voltou a me bater
nas costas”, concluiu Carmen Rios em seu relato.
O mais
absurdo de toda esta lamentável situação é que, segundo Ríos, de
repente apareceu um subcomissário do 5º. Distrito Policial informando
que se tratava de um erro, e que a atuação dos agentes se devia a uma
denúncia pelo uso indevido de morteiros caseiros em frente ao Edifício
Pellas.
Segundo
o subcomissário, de nome Gutierrez, o Departamento de Assuntos
Internos abrirá uma investigação para averiguar o que aconteceu e
penalizar os culpados da agressão.
Algo
cheira mal
Como só
as crianças acreditam nos contos de fadas, torna-se inverossímil e
inaceitável o comportamento da polícia que, até o momento, havia tido
uma relação muito boa com os ex-trabalhadores da indústria do açúcar e
com as viúvas da ANAIRC, respeitando a sua luta e até
oferecendo-lhes proteção diante das constantes ameaças de que foram
sujeitas desde a sua chegada a Manágua.
“Foi
uma ação violenta e inexplicável, voltada sobretudo contra a presidenta
da ANAIRC –manifestou ao Sirel, Denis Meléndez o
responsável pela Incidência do Centro de Informação e Serviços de
Assessoria em Saúde (CISAS), .
Aparentemente a mudança de atitude corresponde ao fato da família
questionada (Pellas) ter solicitado a presença dos policiais, e
estes atuaram com uma velocidade impressionante.
Para
evitar qualquer especulação, já temos três cartas preparadas, que serão
entregues hoje, terça-feira, dia 4 de agosto.
A
primeira carta é dirigida à Primeira Comissária da Polícia Nacional,
Aminta Granera, para que dê uma explicação formal e oficial sobre
este fato. Outra carta será entregue ao deputado Gustavo Porras,
na qualidade de Presidente da Comissão de Saúde, e uma terceira carta
está dirigida ao Presidente da República, Daniel Ortega Saavedra”,
disse Meléndez.
O
oficial de Incidência do CISAS informou também que irá solicitar
ao Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH) que alerte
sobre esta situação. Além disso, várias organizações a nível nacional e
internacional se comunicaram de imediato com o CISAS para
conhecer o caso.
Pelo
seu lado a UITA, além de expressar o seu total apoio à sua
organização filiada, seguirá bem de perto o desenrolar desta situação e
espera que as explicações, fornecidas pela instituição Polícia Nacional,
sejam exaustivas e convincentes.
A luta
da ANAIRC
Já tem
quase 5 meses que os membros da ANAIRC estão pedindo que a
Nicarágua Sugar Estates Ltd. (NSEL), proprietária do Engenho
San Antonio e integrante do Grupo Pellas, escute as suas
reivindicações e abra uma negociação para que possam ser indenizados
pelos danos causados à sua saúde.
Até
hoje a empresa preferiu guardar silêncio absoluto em relação à proposta,
e vem tentando criar as condições para um confronto entre os
ex-trabalhadores canavieiros portadores de IRC e os trabalhadores
ativos do Engenho San Antonio e da Companhia Licoreira da
Nicarágua, utilizando sindicatos brancos e centrais sindicais
vinculadas à empresa, com os quais assinou um acordo que foi denunciado
e recusado em nível mundial.
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