Transbordante solidariedade internacional para os ex-cortadores de cana
da ANAIRC
Já são milhares de
cartas de protesto ... e é só o começo
A luta dos
ex-trabalhadores cortadores de cana do Engenho San Antonio -Propriedade
da Nicarágua Sugar Estates Ltd. (NSEL), integrante do Grupo Pellas- que
são filiados à Associação Nicaraguense dos Portadores de Insuficiência
Renal Crônica (ANAIRC), tem recebido um apoio esmagador, e até
inesperado, de milhares de pessoas do mundo todo. Todos querendo fazer
com que o Grupo Pellas e as suas empresas da indústria açucareira
atendam às reivindicações dos ex-trabalhadores portadores de IRC.
Milhares de cartas, postais e emails estão chegando às caixas postais de
correio eletrônico e aos endereços da NSEL, do Grupo Pellas
e das empresas de todo o mundo que importam e distribuem o rum Flor
de Caña, um produto ícone deste poderoso consórcio nicaraguense,
saturando suas caixas de correio como nunca antes acontecera no passado.
Um
claro contraste com o silêncio da maioria das organizações sociais
nacionais e da mídia, que aparentemente preferem fechar os olhos quando
passam em frente ao acampamento que, com muito esforço, os
ex-trabalhadores cortadores de cana e as viúvas da ANAIRC montaram nas
proximidades da Catedral de Manágua e do Edifício Pellas.
As
reivindicações dos ex-trabalhadores do Engenho San Antonio também
saturaram as páginas da Internet, sendo divulgadas e traduzidas em
diferentes idiomas para centenas de sites, enquanto fotos e vídeos dos
protestos em frente ao Edifício Pellas, nas praças de Manágua ou no
acampamento onde eles continuam sobrevivendo graças à ajuda solidária,
estão dando a volta ao mundo, multiplicando as expressões de
solidariedade.
Peuples
Solidaires,
organização francesa de solidariedade internacional composta por mais de
70 grupos locais e cerca de 9 mil membros, decidiu lançar um "Apelo
Urgente" em favor da luta da ANAIRC. Até agora foram
contabilizados mais de 1.500 e-mails e centenas de cartões postais que
chegaram às caixas de correio do NSEL e do Grupo Pellas.
Esta iniciativa foi apoiada pela organização Açúcar Ético da
França e da Regional Latino-América da UITA.
No
texto enviado pelos cidadãos franceses se pede à Nicarágua Sugar
Estates Ltd. que aceite entrar numa fase de negociação com a
ANAIRC, que por anos vem denunciando a sua responsabilidade pelo uso
indiscriminado de agrotóxicos nos canaviais e pela poluição dos
aquíferos da região, e que espera ver reconhecido o direito à
indenização pelos danos causados à saúde dos trabalhadores.
De
acordo com Fanny Gallois, ativista de Peuples Solidaires,
"nossa organização apoia os homens e as mulheres do mundo que se
mobilizam para fazer valer os seus direitos, em especial os direitos
trabalhistas e os de acesso à terra e à alimentação. A este respeito -
continuou Gallois – informamos e mobilizamos as pessoas na
França e exercemos pressão sobre as empresas e autoridades para
garantir que esses direitos sejam respeitados.
Devido
às informações que recebemos sobre a situação em que vivem milhares de
vítimas das plantações de cana-de-açúcar na Nicarágua, decidimos
que era importante informar o que estava acontecendo, porque, às vezes,
o pior inimigo desse tipo de luta é o silêncio. Começamos a informar à
nossa rede de cidadãos franceses e imprimimos cerca de 7 mil cópias do
«Apelo Urgente» e enviamos 1600 e-mails, para que os nossos parceiros
começassem um envio em massa das mensagens de protesto à Nicarágua
Sugar Estates Ltd. e ao Grupo Pellas.
Acreditamos - concluiu o ativista de Peuples Solidaires – que
esse instrumento possa servir para que a NSEL compreenda que o
mundo está olhando para ela e não pode continuar agindo como se não
existisse uma opinião pública internacional, que exige o respeito pela
dignidade dos seus ex-trabalhadores organizados na ANAIRC. Aqui
na França, a informação da luta da ANAIRC causou um grande
clamor. Temos recebido telefonemas e mensagens pedindo mais informações
sobre o que está acontecendo na Nicarágua, e vamos fazer todo o
possível para internacionalizar esta luta, que é parte da mobilização de
milhões de homens e mulheres que pedem respeito aos seus direitos e
dignidade".
Mais solidariedade
Recentemente, a União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (UITA),
enviou uma carta ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega,
informando o lançamento de uma campanha mundial de solidariedade e de
apoio à sua filiada ANAIRC e para pedir que o governo
nicaraguense tomasse a frente desse assunto.
Agora,
o Comitê Executivo Mundial da UITA aprovou uma resolução para
iniciar esta campanha que vai ser feita nos cinco continentes, com o
objetivo de fazer com que a NSEL e o Grupo Pellas
atendam às reivindicações de seus ex-empregados. A exportação de etanol
para a Europa fará parte desta campanha.
A
Associação Itália-Nicarágua, que há anos realiza um pequeno
projeto-piloto de assistência de saúde aos portadores de IRC, filiados à
ANAIRC, tem apoiado a luta dos ex-trabalhadores cortadores de
cana, através da divulgação de informações e de ajuda humanitária para
apoiar o acampamento.
"Nossa
Associação privilegia a solidariedade com organizações que desenvolvem
trabalhos nos territórios e que conseguem coordenar formas de luta",
disse ao Sirel a integrante da Coordenação Nacional da Associação
Itália-Nicarágua, Federica Comelli.
Neste
caso, também temos de considerar a questão da impunidade de que gozam as
multinacionais, especialmente na América Latina, fazendo delas um
bloco de poder muito forte que, muitas vezes, se coloca acima da lei e
da soberania nacional.
"Acreditamos – continuou Comelli - que a luta da ANAIRC
não pode ser considerada apenas como a defesa dos seus direitos ou a
busca de uma indenização, pois é algo que traz à discussão o modelo
econômico. O silêncio do Grupo Pellas e as ameaças contra a os
membros da ANAIRC demonstram que esta luta incomoda muitas
pessoas e volta a colocar sobre a mesa questões muito importantes, como
a proteção do meio ambiente, da saúde, bem como os elevados custos
sociais do uso indiscriminado de agrotóxicos”.
O
Grupo de Boicote ao rum Flor de Caña é outro exemplo do interesse e
da solidariedade, que foi desencadeada em torno da luta da ANAIRC.
As
quase 500 pessoas de diferentes partes do planeta que aderiram a este
esforço, continuam incentivando o boicote a este produto que, de acordo
com fontes ligadas à ANAIRC, começou a causar prejuízos à empresa
e super-estoque do produto.
Durante
uma videoconferência, transmitida em nível internacional, sobre a luta
da ANAIRC, organizada pelo Centro de Informação e Serviços de
Assessoria em Saúde (CISAS), os jovens do Grupo Boicote ao rum
Flor de Caña mostraram a sua "indignação com as péssimas práticas
corporativas do Grupo econômico Pellas, particularmente através do seu
Engenho San Antonio." Por esta razão, continuarão incentivando o
boicote ao rum emblema do Grupo Pellas, enquanto este não tomar
medidas para "rever e alterar as suas práticas de produção vinculadas
com a qualidade ambiental no uso de agrotóxicos e queima de canaviais, e
para permitir estudos independentes sobre a contaminação da água, da
terra e do ar no Engenho San Antonio e em áreas circunvizinhas,
bem como escutar e responder às reivindicações dos trabalhadores
organizados na ANAIRC, reconhecendo a sua responsabilidade direta
sobre os portadores de IRC”, conclui seu discurso público.
Finalmente, no domingo passado, 17 de maio, durante uma atividade em
Manágua comemorando o nascimento do General Augusto C. Sandino, o
comitê organizador "Sandino luz de nossa terra" convidou uma delegação
da ANAIRC para divulgar as razões da sua luta, fomentar a
solidariedade com esses ex-trabalhadores e promover a Campanha de
Boicote ao Rum Flor de Caña.
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