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Os cortadores de cana estão em Manágua

Mobilização da ANAIRC para indenização do Grupo Pellas

SECCIÓN: Nicaragua IRC

 

FNT e FUTATSCON mostram a sua posição.

Parlamentares se reúnem para buscar uma solução ao drama da IRC

 

Forte repúdio ao obscuro acordo

entre o Grupo Pellas e os sindicatos

para isolar a ANAIRC

 

O acordo selado entre as empresas que integram o Grupo Pellas e as três centrais sindicais para, supostamente, “defender a estabilidade trabalhista”, foi duramente condenado pela Frente Nacional dos Trabalhadores (FNT) e pela Federação Unitária dos Trabalhadores da Alimentação da Nicarágua (FUTATSCON), esta última filiada à UITA.

 

Em um extenso comunicado, o FNT mostrou publicamente o seu posicionamento diante da assinatura de um acordo entre as empresas do Grupo Pellas e as três centrais sindicais no dia 3 de maio passado.

 

“O FNT informou aos trabalhadores e ao povo em geral que desconhece a assinatura dos acordos firmados entre as centrais sindicais e os empresários do Grupo Pellas e da Nicaragua Sugar Estates.

 

Consideramos continua o pronunciamento que estes acordos são uma ação vil e manipuladora para frear as reclamações de centenas de trabalhadores, homens e mulheres, que padecem de Insuficiência Renal Crônica, como resultado do uso indiscriminado de agrotóxicos, cuja aplicação está proibida em nível internacional pelas consequências que geram para a saúde humana”.

 

Em sua argumentação, o FNT diz estar convencido de que a assinatura do acordo tenta frear as reclamações que estas pessoas humildes fazem contra as empresas do Grupo Pellas, exigindo justiça. É por isso que esta organização, que aglutina diferentes organizações sindicais, “condena as centrais sindicais assinantes destes acordos com os empresários, ao aceitar um falso discurso de crise trabalhista, para fazê-los amolecer a sua posição de luta, que é o princípio essencial de toda organização sindical.

 

Nenhuma assinatura do acordo segue o comunicado pode apagar a responsabilidade criminal daqueles que fizeram o seu capital a custa dos cadáveres de milhares de trabalhadores e camponeses”.

 

Segundo dados fornecidos nestes últimos dias pela ANAIRC, já são 3.355 os ex- trabalhadores na cana-de-açúcar que morreram devido à IRC.

 

O último deles, Marco Antonio Pereira, de 54 anos, 22 dos quais passados nos canaviais do Engenho San Antonio, faleceu no dia 4 de maio passado.

 

“Chegou ao acampamento para nos cumprimentar, mas começou a se sentir muito mal. O acompanhamos ao terminal de ônibus e o levamos até Chichigalpa. Entramos em contato com a família para que o buscassem em La Paz Centro, já que não tínhamos dinheiro suficiente para chegar até o seu destino. Quando voltamos para Manágua os familiares nos ligaram para dizer que Marco Antonio havia falecido no ônibus. Foi algo que nos causou muito impacto, mesmo vivendo todos os dias com esta situação”, contou ao Sirel o vice-presidente da ANAIRC, Gustavo Martínez.

 

Diante desta dramática situação, o FNT expressou a necessidade de abordar a problemática da IRC de forma integral, “porque a situação é séria e os Pellas querem minimizá-la construindo um hospital de nefrologia, quando a situação real é que fazem uso de agrotóxicos e os aplicam do ar com pequenos aviões provocando transtornos e doenças.

 

O problema é sério continua assinalando a nota– e temos que enfrentá-lo pensando nas gerações futuras, nos nossos filhos, nos nossos netos, para que não vivam a mesma situação em termos econômicos e de saúde. Os Pellas não podem continuar juntando capital a custa dos pobres da Nicarágua”.

 

Parlamentares formam comissão interinstitucional

 

Dando prosseguimento ao compromisso, assumido há dois meses pelos integrantes das comissões parlamentares de Saúde e Trabalho, os deputados se reuniram com grupos de portadores de IRC e integraram uma comissão interinstitucional que contará com a presença dos Ministérios do Trabalho e da Saúde, e com a Previdência Social (INSS).

 

“É um problema urgente e não tem nenhum sentido determinar que se faça uma investigação para averiguar as causas da IRC, porque todo o mundo tem consciência de que este problema tem a ver com o uso de agrotóxicos e as práticas de cultivo que foram implementadas, antes com o algodão e agora com a cana-de-açúcar”, ressaltou Gustavo Porras, presidente da Comissão de Saúde e secretário geral do FNT.

 

“Temos que formular uma lei que estabeleça e regule as novas formas saudáveis de cultivo, porque temos  que garantir que este  problema não continue se  perpetuando.  Além disso continuou Porras–, há milhares de ex-trabalhadores portadores de IRC e devemos resolver esta situação. A comissão técnica que se criou terá a missão de estudar e propor soluções efetivas, que seguramente irão comportar gastos importantes”.

 

É por isso que se estudará a forma como as agroindústrias aumentarão a porcentagem de suas contribuições ao INSS por risco profissional.

 

 “No caso do Grupo Pellas soubemos ontem que as suas empresas açucareiras contam com 7 mil trabalhadores, mas recolhem à previdência social sobre uma quantidade bem menor, e por isso terá que haver uma inspeção para que paguem por todos os seus trabalhadores. Isto tem relação com as subcontratações, que é um regime que devemos abolir porque tira a responsabilidade dos empregadores em relação aos trabalhadores.

 

Aqui –concluiu Porras– o problema é que há uma quantidade importante de seres humanos que tem seus rins destruidos, e esta destruição significou o acúmulo de capital de outros seres humanos, que vivem muito bem e que têm muito dinheiro a custa da vida destas pessoas”.

 

FUTATSCON condena acordo com a patronal

 

A Federação Unitária dos Trabalhadores da Alimentação da Nicarágua (FUTATSCON) se somou às declarações de repúdio à assinatura do acordo entre as empresas do Grupo Pellas e algumas centrais sindicais, e considerou como “justa e bem fundamentada legalmente” a demanda de indenização que a ANAIRC está oferecendo ao Grupo Pellas.

 

“O Grupo Pellas –assinala a nota– argumenta que a campanha da UITA está dirigida para afetar o emprego dos trabalhadores. Nada mais falso; o que a UITA pretende é contribuir para que se faça justiça a esses ex-trabalhadores que, com o seu suor e até com as suas  vidas, ajudaram para que hoje o Grupo Pellas seja o mais poderoso do país e um dos mais fortes da América Central.

 

Além disso, a UITA é uma organização que promove e desenvolve a solidariedade internacional como um princípio inerente à luta de classes, promove o respeito aos direitos humanos e à justiça social, princípios que os trabalhadores e dirigentes sindicais estão obrigados a apoiar, para não cair no erro de apoiar os empresários e o grande capital, como fazem alguns líderes sindicais”.

 

A FUTATSCON apoiou incondicionalmente a campanha internacional que a UITA está lançando contra o Grupo Pellas, “para que indenize  essas companheiras e companheiros, que todos os dias morrem por causa da IRC sem deixar um futuro de estabilidade social a seus familiares”.

 

Finalmente, rechaçou “a atitude de apoio que os dirigentes sindicais deram ao Grupo Pellas quando estão pondo em risco a vida de milhares de trabalhadores”, e também que seja o governo quem assuma a total responsabilidade pelo atendimento aos portadores da doença “quando o Grupo Pellas tem responsabilidade direta pela incidência da IRC”.

 

Em Managua, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

10 de junio de 2009

 

 

 

Fotos: Giorgio Trucchi

 

 

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