Brasil

Mais agrotóxico: menos saúde

  

Pessoas que vivem em regiões do estado do Mato Grosso onde há muitas plantações de soja, milho e algodão, têm três vezes mais chances de se intoxicarem por causa dos agrotóxicos. Os venenos, aplicados nessas lavouras, estão causando nas populações mais diarréia, vômitos, desmaios, mortes, distúrbios cardíacos e pulmonares – se comparadas às populações menos expostas aos agrotóxicos.

 

A constatação é do pesquisador da Fiocruz, médico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Antonio Pignati. Ele usou como fonte de pesquisa dados de intoxicação aguda pertencentes às secretarias de Saúde municipais, estadual e do Ministério da Saúde.

 

“E vão existir o que chamamos de intoxicações crônicas, seja má formação fetal de mulheres gestantes se entrarem em contato com o agrotóxico teratogênico, podem causar neoplasia (que depois de dez anos aparece como o câncer), distúrbios endócrinos (na tiroide, suprarrenal e alguns mimetizam diabetes), distúrbios neurológicos, distúrbios respiratório.”

 

A pesquisa constatou que o trabalhador que aplica o veneno é o primeiro a sentir os impactos na saúde, junto com sua família que mora ao redor das plantações. E não são os únicos. Em geral, os moradores da região são contaminados ao beber a água disponível para o consumo. De acordo com o médico, resíduos de agrotóxicos se fixam nos poços artesianos, córregos e nos rios, além do ar.

 

“Isso traz um impacto muito grande para a saúde e para o ambiente. A utilização tem aumentado porque a semente está dominada por seis ou sete indústrias no mundo todo, inclusive no Brasil. Essas sementes são selecionadas para que se utilizem agrotóxicos e fertilizantes químicos.”

 

De acordo com o médico, as indústrias produzem sementes que precisam cada vez mais do uso de veneno nas zonas rurais.

 

“As sementes das grandes indústrias são dependentes de agrotóxicos e fertilizantes químicos. As indústrias não fazem estudos para sementes livres desses produtos. Não criam sementes resistentes a várias pragas, sem a necessidade de agrotóxicos. Não fazem isso, porque são produtores de sementes e agrotóxicos. Criam sementes dependentes de agrotóxicos. Com os transgênicos, a situação piora.”

 

Na última safra foram utilizados aproximadamente dez litros de agrotóxico por hectare de soja ou milho e 20 litros por hectare de algodão. Ao todo, 105 milhões de litros de agrotóxicos foram utilizados no Mato Grosso.

 

“No caso da soja, a produção é resistente a um herbicida, o glifosato, conhecido como roundup, patenteado pela Monsanto. O uso é duas ou três vezes maior de Roundup na soja. Isso também aumenta o consumo de agrotóxicos.

 

As culturas brasileiras praticamente dobraram o consumo de agrotóxico nos últimos dez anos. Por parte dos produtores há a explicação de que as indústrias de sementes – como a Monsanto, a Bayer e a Syngenta – praticamente não oferecem sementes para se plantar culturas convencionais. Já a semente transgênica é farta no mercado, mas utilizam cada vez mais agrotóxicos.

 

De acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola, mais de um 1 bilhão de toneladas de veneno foram jogados nas lavouras brasileiras na última safra. É um recorde se comparada com os dados dos últimos anos.

 

 

 

Aline Scarso

Radioagência NP

31 de maio de 2010

 

 

Volver a Portada

 

  UITA - Secretaría Regional Latinoamericana - Montevideo - Uruguay

Wilson Ferreira Aldunate 1229 / 201 - Tel. (598 2) 900 7473 -  902 1048 -  Fax 903 0905