Pesquisadores apontam risco de se considerar
plantações de palmeiras como florestas
pertencentes à reserva legal
Um estudo sobre os efeitos da expansão do
cultivo de palmeiras de óleo à biodiversidade da
Amazônia foi publicado na revista Tropical
Conservation Science, indicando que potenciais
investimentos nessa produção para a região podem
causar sérios impactos ambientais à floresta
amazônica.
De acordo com a pesquisa, quase metade da
Amazônia (2,3 milhões de quilômetros quadrados)
é apropriada para o cultivo de palmeira de óleo,
e corporações da Malásia vêm sinalizando
seu interesse em se instalar na região para
estabelecer novas plantações. O relatório
também considera preocupante o fato de o governo
brasileiro cogitar a aprovação de uma lei que
passaria a contar as plantações de palmeira de
óleo como "florestas", dentro da exigência de
reserva florestal de 80% para propriedades
privadas da Amazônia.
Essa medida pode ser uma forma de incentivar a
indústria de palmeira de óleo amazonense, diante
das demandas mundiais por produtos
industrializados feitos a partir de óleo. "A
primeira preocupação é de que as plantações de
palmeiras são biologicamente pobres e dependem
da floresta. A segunda é: desacreditamos em
afirmações políticas e corporativas que sugerem
que as plantações de palmeiras de óleo estarão
concentradas em terras previamente
desflorestadas da Amazônia", afirmam os
responsáveis pelo estudo.
A preocupação é justificada pelo histórico da
produção de palmeiras no mundo. Segundo o
estudo, historicamente os produtores têm
desmatado as florestas primárias para instalar
suas plantações, de modo a obter lucros
imediatos com a utilização da madeira, para
compensar seus gastos com o estabelecimento do
cultivo, que passa a dar retorno apenas de três
a cinco anos após seu início.
Pelo estudo, a agricultura de palmeiras de óleo
poderia então emergir como uma nova grande
ameaça para o meio ambiente da Amazônia, que tem
potencial para a produção de palmeiras, por sua
alta temperatura, quantidade de chuvas e solo,
muito mais propícios ao cultivo dessas plantas
do que às plantações de soja e cana.
O relatório também aponta que a expansão das
plantações de óleo para áreas remotas seria
facilitada por uma proliferação de estradas e
outras obras de infraestrutura, que aumentam o
acesso a novas fronteiras da floresta.
Inclusive, o estudo aponta a probabilidade de
que cresçam as pressões por grandes refinarias
para que terras da Amazônia sejam licenciadas
por agências ambientais para produção de
palmeiras de óleo.
Investimentos
internacionais
Outro indício do perigo apontado pelo estudo é a
crescente intenção de investimentos
internacionais no cultivo de palmeiras na
Amazônia. De acordo os pesquisadores, o
interesse dos empresários se deve a fatores
como: possibilidade de grande quantidade de
produção por unidade de área; alto valor do óleo
da palmeira quando comparado com o produto
extraído de outras culturas; e alta demanda do
óleo para a produção de biocombustíveis,
alimentos e industrializados.
Além disso, o Brasil já é líder na
produção de etanol a partir da cana e tende a
expandir seu mercado de biocombustíveis usando o
óleo da palma, como indicam políticas públicas
que têm dado suporte para que isso ocorra.
A pesquisa dá exemplos de corporações asiáticas
que pretendem produzir a planta no Brasil,
aplicando no solo da Amazônia sua experiência em
cultivo, processamento e exportação do produto.
Produtores da Malásia têm anunciado
diversos novos projetos para a região amazônica,
incluindo 100 mil hectares de plantações de
palmeiras próximas a Tefé, no estado do
Amazonas.
A Felda Global Ventures Brazil, uma corporação
do Brasil e da Malásia, também já
anunciou investimentos na produção de palmeiras
de óleo na Amazônia. Sendo assim, a pesquisa
indica que a aproximação agressiva, o capital e
a tecnologia dessas empresas poderiam ajudar à
expansão desse cultivo em larga escala na
floresta amazônica.
Responsabilidade
do Estado
O estudo sugere que o governo brasileiro adote
incentivos fiscais para que produtores
responsáveis instalem suas plantações de
palmeiras em terras já antes degradas e
abandonadas, pagando a eles pelos serviços
florestais decorrentes da conservação da
floresta. De acordo com a pesquisa, plantações
de palmeiras estocam menos de 40% do carbono
armazenado por florestas nativas, sendo que as
florestas intactas, que seriam úteis ao cultivo
para a extração de óleo, são capazes de estocar
42 bilhões de toneladas de carbono (quantidade
que é emitida em seis anos).
A adoção de métodos de produção sustentável de
palmeiras, que não poluam o ar, a água e a
terra, bem como um monitoramento de organizações
ambientalistas sobre o local de cultivo das
novas plantações também são sugestões da
pesquisa.
"Os interessados na conservação devem se
preparem para lidar com esse novo desafio, que
pode ter potencialmente sérios impactos
econômicos, sociais e ambientais", conclui a
pesquisa, acrescentando que as afirmações de
políticos e corporações brasileiras de que a
expansão das palmeiras ocorrerá apenas em áreas
devastadas são distanciadas da realidade
econômica e biológica.
Fabíola Munhoz
Amazônia.org.br
30 de março de 2009