Brasil

A problemática da Terra

Modelo de reforma que deu certo

 

 

Em um pedaço de chão de 598 hectares, em Padre Bernardo (GO), famílias conseguem produzir mais de 40 produtos orgânicos em uma área antes devastada pela soja. Colônia I é um exemplo

 

José Vitorino é um dos agricultores que investem em plantação orgânica e tem conseguido bons resultados.

 

As famílias do assentamento Colônia I, que fica a 75km de Brasília, no município de Padre Bernardo (GO), estão construindo o sonho da reforma agrária com esforço próprio. A realidade dessas pessoas é bem diferente do que se vê em boa parte das 683 mil famílias que vivem nos 7.621 assentamentos rurais espalhados pelo país. "Conhecemos experiências de sucesso, mas existem muitos casos de falta de planejamento na hora de assentar e de produzir", afirma Rolf Hackbart, presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Recentemente, oito assentados do Colônia I começaram a trabalhar em um ambicioso projeto com a ajuda da Universidade de Brasília (UnB) que vai resultar na produção de um documentário. O grupo trabalha em uma espécie de cooperativa que produz morango, alface, couve e outros 38 diferentes produtos orgânicos. Vem conseguindo obter bom retorno financeiro, entre eles, José Vitorino.

 

O modelo é apontado por especialistas como sendo uma das melhores soluções para quem acaba de receber seu pedaço de chão. "Tudo depende do olhar. É claro que essas famílias não são potências agrícolas, mas conseguiram se firmar no campo e melhorar o ambiente ao redor", argumenta Mônica Molina, professora da UnB. Atualmente, menos de 100 cooperativas de trabalhadores rurais estão registradas no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). "Estamos investindo milhões na recuperação dos assentamentos antigos que foram feitos de forma equivocada", justifica Hackbart.

 

O Colônia I comemora agora 10 anos. E cada um dos moradores tem muita história para contar sobre a reforma agrária que deu certo em uma área de 598 hectares de terra devastada pela plantação de soja do antigo proprietário. Por isso mesmo o lugar foi desapropriado, considerado improdutivo pelo Incra.

 

ESPERANÇA Dirce Francisco Gomes Dias, de 36 anos, tira do solo apenas o suficiente para alimentar o marido e os dois filhos, mas se orgulha em nunca mais ter precisado comprar comida na venda mais próxima do assentamento. "Viemos do Recanto das Emas cheios de esperança e quase perdemos a fé. Hoje trabalho muito, mas é na minha terra e é pelo bem da minha família", afirma a mulher.

 

A escolha de Cláudio Souza França foi bem diferente. Ele trabalha da hora que o sol nasce até anoitecer nas culturas de vagem, jiló e batata baroa. Todo mês tira R$ 2 mil de seus 22 hectares. "Gasto muito dinheiro na terra todo mês, quase R$ 1 mil, e precisaria de alguém para me ajudar, porque mal consigo produzir em metade do meu terreno sozinho", argumenta. "Aos trancos e barrancos, construí a minha casa de tijolo e cuido da minha roça. Devagar eu sei que vou chegar longe."

Erika Klingl

13 de setembro de 2006

 

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