Depois de uma
longa e extenuante reunião entre a comissão negociadora do Muca e o governo, as
partes assinaram uma Ata de Compromisso que integra parte da contraproposta
apresentada pela organização camponesa. O texto será agora examinado pelas bases
do Muca para uma possível aprovação no próximo dia 17 de Abril, na cidade de
Trujillo. Enquanto isso, a militarização e a repressão continuam no Bajo Aguán:
40 pessoas foram detidas durante o processo de negociação.
Foram
necessárias mais de 14 horas para que o governo e o Movimento Unificado Camponês
de Aguán (MUCA) chegassem a um acordo colocado numa Ata de Compromisso,
que esperamos ser o início de um processo que conduza a uma solução definitiva
para o grave conflito agrário que se desencadeou no Bajo Aguán, na região
Atlântica hondurenha.
Segundo o texto
assinado pelas partes, na madrugada de domingo, 14 de abril, todas as famílias
camponesas do MUCA receberão de imediato 3.000 hectares já com plantações
de dendê e outros 3.000 sem cultivo ao final de três meses e após a prévia
desocupação voluntária das terras atualmente recuperadas. Note-se que os
camponeses não poderão vender nem dar como garantia essas terras, uma vez que as
mesmas lhes forem concedidas.
Também
receberão outros mil hectares cultivados e outros 4 mil hectares sem cultivar,
dentro do prazo máximo de um ano.
Também será
realizado um estudo para descobrir se as terras, em mãos dos três latifundiários
produtores de dendê
-Miguel
Facussé Barjum,
René Morales
e
Reinaldo Canales-
não excedem o limite registrado no Instituto Nacional
Agrário (INA). Se for verificado que cultivaram mais terras das que foram
inscritas, as mesmas automaticamente passarão às mãos do MUCA, porém
deduzindo das mesmas os mil hectares já cultivados.
Haverá uma
análise técnica e financeira para determinar as áreas a serem entregues às
famílias camponesas, o seu valor, a viabilidade e a rentabilidade das mesmas, e
como essas terras foram adquiridas, sendo formada uma comissão técnica jurídica
bipartidária.
A Ata de
Compromisso também rejeita uma proposta governamental pela qual as famílias
camponesas venderiam obrigatoriamente a sua produção para as plantas de extração
de azeite-de-dendê pertencentes aos mencionados latifundiários, através de
contratos de co-investimento*.
Conforme acordado, será o MUCA quem decidirá que tipo de contrato será
implementado.
Finalmente, as partes concordaram em desenvolver projetos sociais em saúde,
educação e habitação na região, e planejar conjuntamente "a imperiosa
necessidade de gerar um debate nacional sobre a legislação agrária."
É só um começo
Segundo
Rudy Hernández,
membro da comissão negociadora do MUCA, "Não podemos dizer que essa Ata
de Compromisso, -que vamos consultar com nossas bases, porque são os que
decidem-, seja uma solução definitiva para o conflito, mas sim um começo e uma
forma de trazer alguma paz à região de Bajo Aguán.
Nesse sentido,
consideramos muito importante a decisão do governo de garantir a retirada do
exército da região. Esperamos, agora, que cumpra".
Também para Yony
Rivas,
um outro membro da comissão do MUCA, "O que conseguimos hoje é parte de
um processo.
Nossa luta
continua, porque o nosso objetivo é a recuperação de 20 mil hectares de terra. E
até que não nos entreguem as áreas que acordamos em Ata, não vamos sair das
terras que recuperamos durante estes meses de luta", disse
Rivas
ao Sirel.
Um elemento de
grande satisfação é ter conseguido impedir a tentativa de amarrar as milhares de
famílias camponesas a uma venda forçada da produção para os latifundiários, os
quais, por sua vez, usurparam estas mesmas terras.
"Fracassaram
nesta tentativa"
-continuou
Rivas-,
e agora seremos que decidiremos o nosso futuro. Também
conseguimos incluir na Ata a questão da reforma da legislação agrária da década
de 90, que trouxe muito prejuízo para o setor camponês".
Acordos e garrote
Se a assinatura
da Ata de Compromisso trouxe alguma esperança para as bases do MUCA, não
deixa de gerar temor a forte presença militar em Bajo Aguán e, sobretudo,
considerando os episódios de violência e repressão contra os camponeses
organizados.
Enquanto na
Casa Presidencial se desenvolvia a negociação, 40 camponeses eram detidos por
efetivos militares e policiais, incluindo entre os detidos o chefe regional do
INA,
Coronado Ávila Mendoza.
No caso de
serem condenadas pelo crime de usurpação, tais pessoas não poderão ser
beneficiadas pelo acordo alcançado recentemente, o que gera muita preocupação
com relação às reais intenções do governo de cumprir o que foi acordado.
"É lamentável o
que aconteceu, e justo quando estávamos no processo de negociação. Isto não pode
ser. Nós vamos exigir a libertação imediata de todas essas pessoas e a retirada
das forças militares e policiais”, concluiu
Yony Rivas.
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