Brasil
Passados
quase três meses das negociações realizadas durante o Grito
da Terra, lamentavelmente, o governo federal não cumpriu
todos compromissos
A equipe econômica do governo federal anunciou,
em março deste ano, o contigenciamento de R$ 1,2
bilhão dos recursos do orçamento do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA). Dada à
gravidade da decisão governamental, a CONTAG e o
conjunto do movimento sindical dos trabalhadores
e das trabalhadoras rurais se mobilizaram
durante o
Grito da Terra
Brasil, em junho deste ano, para
recompor o orçamento dos programas de Reforma
Agrária, Crédito Fundiário e Assistência
Técnica, entre outros.
A presença de mais de 5 mil manifestantes em
Brasília e a pressão dos dirigentes da CONTAG na
mesa de negociações, resultou no compromisso do
governo federal de descontigenciar o orçamento
do MDA e, além disso, encaminhar ao Congresso
Nacional um pedido de suplementação orçamentária
de R$ 20 milhões para atender às demandas de
Assistência Técnica da Agricultura Familiar.
Passados quase três meses do encerramento das
negociações realizadas durante o Grito da Terra
Brasil, lamentavelmente, o governo federal não
cumpriu todos compromissos firmados com a CONTAG,
pois houve apenas a recomposição de R$ 700
milhões do orçamento do MDA. No entanto, o saldo
contingenciado, bem como a suplementação para a
Assistência Técnica, continuam sem solução. Esse
atraso é injustificável, pois compromete a
contratação dos recursos do Pronaf, que começam
a ser liberados no segundo semestre deste ano.
Mas, além de descumprimento do acordo de descontigenciamento da totalidade do orçamento
do MDA, fomos surpreendidos, novamente, com o
anúncio de que a proposta do governo federal
para o orçamento do MDA em 2006 prevê um novo
corte de 30%. Não bastasse isso, a proposta não
inclui recursos para os programas de Assistência
Técnica.
A CONTAG considera inadmissível o comportamento
da equipe econômica do governo federal, pois
apesar da crise política que atravessamos, a
agricultura familiar e os demais setores
produtivos da sociedade continuam se esforçando
para o crescimento do País. Ocorre que uma
parcela significativa do PIB e da arrecadação
tributária está sendo canalizada para superar as
metas do superávit primário.
Não podemos compactuar com uma política
econômica que se prima por superar o já elevado
percentual do superávit primário de 4,7%. A
implementação das políticas públicas precisam
ser priorizadas pelo governo Lula. Afinal, foi
para investir nas áreas sociais e alavancar
programas de emprego e renda que ele foi eleito.
As autoridades econômicas do País não podem
querer ser mais realistas que os investidores
internacionais e os tecnocratas do FMI.
Manter a posição de corte orçamentário para
2006, significa inviabilizar as metas assumidas
para a Reforma Agrária e para os Programas de
Desenvolvimento Sustentável de Territórios
Rurais, de Desenvolvimento Sustentável para os
Assentamentos do Semiárido do Nordeste (Projeto
Dom Helder), de Crédito Fundiário e de
Assistência Técnica. Enfim, os cortes equivalem
ao comprometimento de quase 50% das atividades
do MDA.
Neste sentido, exigimos que o compromisso para
o descontigenciamento dos recursos do MDA e de
outros ministérios, que negociamos com o governo
federal em junho, sejam prontamente cumpridos.
Não aceitaremos o corte de 30% proposto e
cobramos ainda a abertura de um canal de
negociação para discutirmos o orçamento para o
próximo ano.
Diretoria Executiva da CONTAG
|
2 de setembro de 2005
|