ALGODÃO TRANSGÊNICO
Ministério da Agricultura apreende produções ilegais
em cinco estados |
MAPA
identificou lavouras ilegais de algodão transgênico em mais
de 17 mil hectares em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Bahia e Minas Gerais. Área total pode alcançar 100 mil
hectares. CTNBio determina a destruição das plantações
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
e a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
iniciaram uma ofensiva contra a produção ilegal de algodão
transgênico no Brasil. O MAPA já abriu 25 processos contra
produtores de algodão transgênico ilegal, cujas produções
estão apreendidas. No final de junho, após o Ministério ter
solicitado a emissão de um parecer técnico sobre o caso, a
CTNBio determinou que as lavouras ilegais de algodão
transgênico devem ser destruídas. A Lei de Biossegurança
prevê que as multas aplicáveis aos produtores ilegais variam
de R$ 2 mil a R$ 1 milhão pelo plantio ilegal. Os donos das
plantações podem ainda sofrer processo penal.
Desde o começo do ano, o MAPA fiscalizou 75 propriedades em
23 municípios dos cinco principais estados produtores de
algodão no Brasil: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul e Minas Gerais. Os cultivos de algodão transgênico
ilegais estão presentes em 17,5 mil hectares, mas a área
pode aumentar. Segundo a assessoria de imprensa da CTNBio, a
suspeita do Ministério é que a área real alcance 100 mil
hectares. De acordo com Marcos Vinicius Segurado Coelho,
coordenador de assuntos transgênicos do MAPA, o maior número
de infrações registradas foi no estado do Mato Grosso.
As sementes identificadas nas lavouras dessas propriedades
não haviam sido registradas pelo MAPA; o processo de
registro costuma levar dois anos. Essas espécies são piratas
por terem sido contrabandeadas e plantadas ilegalmente. A
única variedade permitida para comercialização é a Bollgard,
da empresa Monsanto, aprovada pela CTNBio em março do ano
passado. Portanto, se o algodão apresentar qualquer índice
de transgenia de uma semente diferente da Bollgard, ele é
considerado ilegal.
De acordo com Gabriel Fernandes, técnico da organização
não-governamental Assessoria e Serviços a Projetos em
Agricultura Alternativa (AS-PTA), a decisão da CTNBio é fato
inédito na história da Comissão, caso ela mantenha a sua
deliberação e o MAPA consiga levá-la adiante. “É a primeira
vez que a Lei de Biossegurança é cumprida”. Fernandes lembra
que a decisão colabora para evitar o cenário do “fato
consumado”, onde a aprovação do algodão transgênico acabe
acontecendo em conseqüência da existência de plantações com
sementes piratas, como ocorreu com a soja transgênica no Rio
Grande do Sul.
O parecer da CTNBio determina que as sementes das plantações
ilegais que não atingiram maturidade fisiológica sejam
destruídas por meio da aplicação de agrotóxico dessecante e
que as plantas maiores sejam trituradas. Os restos vegetais
e as sementes devem ser enterrados após aração profunda. O
técnico da AS-PTA, no entanto, teme o que pode ocorrer com a
biologia do solo, uma vez que esses restos orgânicos serão
decompostos por microorganismos. “Ninguém sabe o que pode
acontecer depois”, diz.
Fernandes alerta que o algodão transgênico pode promover
facilmente a contaminação genética. Para se reduzir os
riscos, a CTNBio recomenda que os equipamentos utilizados
para a operação e transporte sejam cuidadosamente limpos.
Todas as ações devem contar com a presença de um fiscal do
MAPA. As áreas de onde foram retiradas as sementes e as
plantas ficarão sob monitoramento durante um período de seis
meses para evitar que apareçam exemplares transgênicos. Para
a safra seguinte, o cultivo do algodão se tornou proibido
também. Contudo, outros tipos de cultura, como a soja ou o
milho, podem ser plantados nesses locais.
“Ruralistas vão querer
driblar a lei”
Segundo Gabriel Fernandes, o maior desafio do MAPA para
conseguir implementar as ações e as sanções que combatam o
algodão transgênico vem da pressão dos produtores de
algodão. “Os ruralistas vão fazer de tudo para driblar a lei
e vão alegar que o prejuízo será grande. Vão usar do peso
político para não cumprirem a lei”, aposta.
Marcos Vinicius Coelho afirma que as ações de fiscalização
do MAPA são permanentes e não se restringem apenas às etapas
de plantio e cultivo do algodão. A parte de beneficiamento
também passa pelo crivo do Ministério. “A orientação é
fiscalizar. Se a CTNBio liberar essas variedades de
sementes, então a direção da fiscalização será outra”,
explica.
Na mesma semana em que deu o parecer técnico a favor da
destruição das lavouras ilegais, a CTNBio também aprovou
duas variedades de algodão transgênico _ a Liberty Link, da
Bayer, e a Roundup Ready, da Monsanto _ para pesquisas em
campo. “Todas as avaliações da CTNBio para autorizar
transgênicos são de ordem agronômica: avalia se vai haver
aumento e melhora da produção. Nenhuma avaliação é feita
pela biossegurança”, afirma Fernandes.
Natália Suzuki
Carta Maior
10 de julho de 2006
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