Brasil

 

Manifesto alerta CTNBio

"Milho transgênico da Bayer atenta contra a saúde
e o meio ambiente"

Temístocles defende pressão

 na CTNBio

 

Um manifesto contra o milho transgênico da multinacional Bayer está sendo encaminhado à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em meio ao debate sobre a primeira liberação comercial de um produto transgênico desde a promulgação e regulamentação da nova Lei de Biossegurança.

 

Assinado por dezenas de entidades sindicais, populares e associações de consumidores, o documento alerta que "liberada por medida provisória, a soja transgênica já está sendo plantada e consumida no país sem qualquer avaliação de riscos para o meio ambiente e para a saúde dos consumidores e sem rotulagem". "Mas como será que a nova CTNBio vai avaliar os riscos do milho transgênico conhecido comercialmente como Liberty Link? Este milho transgênico é resistente ao glufosinato de amônio, herbicida produzido atualmente pela multinacional Bayer com o nome de Finale, mas que vai passar a se chamar Liberty (assim como o herbicida Roundup e a soja Roundup Ready, da Monsanto)", questiona o manifesto, frisando que é necessário "deter a contaminação transgênica".

 

LIBERAÇÃO, NÃO!

 

"Nós somos radicalmente contra a liberação do plantio do milho transgênico porque já é sabido, por inúmeras experiências em diversos países, da contaminação de outras dezenas de variedades de plantações tradicionais, não só de milho, como das demais culturas", informa Marcelo Temístocles Neto, coordenador da Comissão Nacional do Meio Ambiente da CUT. Segundo Temístocles, "a estratégia das multinacionais é criar um fato consumado, pois querem transformar o Brasil em celeiro de transgênicos. Por isso são contra o princípio da dupla convivência. A existência de um território livre de transgênicos como o Paraná, possibilita que possamos fazer comparações entre vantagens e desvantagens e chegarmos a uma conclusão sobre a verdade, que é o que as multinacionais tanto temem".

 

Siderlei, da Contac/CUT

e do INST

Idêntica análise faz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (CONTAC/CUT), Siderlei de Oliveira, que assumiu recentemente a coordenação do Instituto Nacional de Saúde no Trabalho (INST): "As multinacionais não pensam em avanços nas condições de saúde da população, em segurança alimentar, em mais proteínas, não pensam em transgenia social, não querem melhorar nada, mas apenas ampliar seu domínio sobre nossas economias". Siderlei denuncia que há um lobby, inclusive dentro dos Ministérios e do Congresso Nacional, para justificar o injustificável, pois a "verdade" das milionárias propagandas não resiste ao contato com a realidade. "Visitei lavouras no Canadá contaminadas por transgênicos onde pude comprovar seu impacto altamente negativo, não só para a saúde física, como para a própria economia. No meio de outras plantas, como a soja, pude ver uma grande quantidade de milho transgênico. Assim, para facilitar a colheita, tiveram de colocar muitos trabalhadores para retirar o invasor do meio da soja. O milho transgênico da Bayer, assim como a soja da Monsanto, tem por única finalidade garantir lucros absurdos e abusivos com base no monopólio, por isso buscam o domínio aniquilando as demais culturas", alerta.

 

Siderlei lembra que "o Brasil tem um nicho de mercado a preservar" e defende que o exemplo do Paraná seja seguido. "O que eu vi no exterior foram fazendas em quarentena, pois os índices de veneno dos alimentos tinham índices muito acima do permitido para consumo humano. Está comprovado que a resistência das ervas daninhas vai fazendo com que as sementes transgênicas necessitem de cada vez mais veneno, chegando a um nível insuportável. É claro que, com isso, o lucro da operação casada semente-agrotóxico se amplia", esclarece o sindicalista.

 

SERIEDADE

 

"É hora de se aplicar a ciência com seriedade", defende o manifesto das entidades, lembrando que "já são muitas as pesquisas científicas independentes que vêm levantando inúmeros riscos de vários produtos transgênicos para a saúde dos consumidores e para o meio ambiente. Ao contrário das pesquisas feitas pelas empresas para justificar a suposta inocuidade de seus produtos, estas pesquisas independentes são publicadas em revistas científicas, ou seja, seus métodos e resultados são submetidos à revisão crítica por outros cientistas".

 

Ao elencar inúmeras referências de publicações científicas de peso com severas críticas aos produtos transgênicos das multinacionais, o manifesto cita que em novembro de 2003, "cientistas de dois renomados centros de pesquisa do INRA (a Embrapa da França) relataram que o milho T25 Liberty Link da Bayer não mostrou estabilidade nos experimentos por eles acompanhados; que os transgenes tinham se rearranjado e que não correspondiam mais à caracterização genética apresentada". O mesmo INRA em dezembro de 2005 publicou nova pesquisa apontando que "o uso de herbicidas cresce com o uso de transgênicos tais como a soja RR e o milho Liberty Link, entre outros, ao contrário do que proclamam as indústrias".

 

Entre outras citações, o documento ressalta que "em 2002, o diretor do Advisory Commitee on Release to the Environment, da Inglaterra, questionou os testes realizados pela Bayer para pedir a liberação do milho transgênico Liberty Link, já que os mesmos indicaram uma taxa de mortalidade duas vezes mais elevada em galinhas alimentadas com este produto, em comparação com outras alimentadas com milho convencional. A empresa descartou este fato na sua análise".

 

EXEMPLOS

 

Conforme as entidades, exemplos contundentes como esses deveriam ser suficientes para que "um grupo de cientistas e representantes do governo e da sociedade civil membros da CTNBio não aprovassem a liberação do milho Liberty Link da Bayer ou qualquer outro transgênico no Brasil. Porém, pelo comportamento pouco científico de parte desta Comissão, fica a impressão de que os interesses das empresas ainda prevalecem sobre os interesses da biossegurança dos consumidores e do meio ambiente do país".

 

Além dos riscos para a saúde dos consumidores e para o meio ambiente, acrescentam as entidades, "a liberação do milho transgênico tem riscos elevados para a diversidade das variedades de milho no Brasil. A contaminação das variedades de milho convencional e do milho crioulo pelo milho transgênico será devastadora". "Há centenas de variedades de milho crioulo desenvolvidas pelos agricultores familiares ao longo de gerações e que são bem adaptadas às condições ambientais e aos objetivos produtivos desta categoria. Em particular, estas variedades são bem adaptadas às práticas da agroecologia e sua desaparição levará a uma grande fragilização deste modo sustentável de produzir que é economicamente rentável e ambientalmente saudável. Para agravar o problema da poluição genética, as multinacionais da biotecnologia ainda podem reclamar direitos de propriedade intelectual sobre a produção e as sementes contaminadas. Isso acontece em outros países e aconteceu no Brasil com a soja transgênica da Monsanto".

 

INDEPENDÊNCIA

 

Finalmente, destaca o manifesto, é preciso também pensar na soberania nacional. "A entrada da soja transgênica no Rio Grande do Sul substituiu dezenas de variedades convencionais desenvolvidas pela Embrapa e bem adaptadas a várias condições ambientais do estado por apenas umas poucas em que o poder proprietário da Monsanto é total, já que detém o monopólio da tecnologia da transgenia. No caso do milho o problema será ainda maior, pois as empresas multinacionais de biotecnologia detêm mais de 70% da oferta de sementes convencionais de milho e não deixarão de substituí-las pelas transgênicas assim que este cultivo for liberado. Estas são algumas das razões que nos levam a cobrar seriedade da CTNBio e a sua independência em relação aos interesses das empresas".

 

Leonardo Wexell Severo

CUT

12 de fevreiro de 2007

 

 

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