Uruguai

Reflexões sobre (e contra) os transgênicos

Manual para o consumidor

 

O 11 de maio, Enildo Iglesias e Leonardo de León* apresentaram no Instituto Goethe de Montevidéu seu livro “Uruguai: Transgênicos & Cia; Desenvolvimento ou crescimento econômico?”, no que expõem com clareza e concisão um tema complexo e de crescente importância.

 

 

Na sua exposição, Iglesias sublinhou o caráter político e social da luta contra os transgênicos. “Nosso desafio –disse– consiste em informar a toda a sociedade. Para isso se trata de repensar a função social da terra como a concebeu Artigas e não como os desgovernos que temos tido até agora”.

 

De León, por sua vez, admitiu que existe uma abundante bibliografia sobre transgênicos, mas advertiu que a estratégia das grandes empresas tem sido não politizar o tema, apresentando-o como uma questão técnica que atinge só os produtores. “Reverter esta situação é o objetivo deste livro, ao tempo que pretende colocar o tema dos transgênicos na agenda dos políticos, da que até agora tem estado ausente”, indicou o técnico de UITA. Ambos pensam que o conteúdo de seu trabalho pode ser útil “no marco da campanha eleitoral que acaba de iniciar-se” no Uruguai de cara aos comícios de outubro próximo. A cidadania, sustenta, deveria “tomar ciência da importância de envolver-se em temas como o nunca resolvido problema agrário, a soberania alimentar e, em definitivo, o modelo de país que queremos construir”.

O livro, de 52 páginas, pretende “chegar ao grande público antes que constituir um debate entre especialistas na matéria”, assim como divulgar a posição da UITA respeito, assinalam seus autores na introdução.

Leonardo de León, Enildo Iglesias

Começa abordando o tema dos transgênicos no mundo, a concentração de sua produção em poucos países e em poucos cultivos, para depois encarar o caso do Uruguai, onde seu cultivo (essencialmente o milho e a soja) tem sido liberado por decisão governamental. “O avanço dos cultivos transgênicos constituirá o golpe de graça para o setor agropecuário, que enfrenta uma crise inédita”, assim como para a imagem do Uruguai como “país natural”, observam Iglesias e De León.

 

A obra continua com uma didática explicação sobre quem se beneficiam com a produção e comercialização de organismos geneticamente modificados. Após uma descrição do cultivo do milho e da soja e suas “relações com as pessoas”, nas últimas páginas de seu livro os autores oferecem algumas reflexões sobre o impacto dos cultivos transgênicos sobre o meio ambiente, a saúde, a qualidade dos alimentos que se consomem, o perigo de “pôr-se nossa alimentação em mãos de um punhado de grandes transnacionais que dominam a indústria da agro-química e a biotecnologia”. Crescimento econômico, assinalam ambos, não equivale a desenvolvimento: “O aumento dos hectares semeadas de soja no Uruguai significa sem dúvida uma expansão econômica, a qual fica nos bolsos de uns poucos e a maioria deles trasladam os lucros obtidos para fora. Simultaneamente, a qualidade de vida –indicador imprescindível do desenvolvimento– dos habitantes do interior do país continua deteriorando-se e as zonas rurais se seguem despovoando”, concluem.

 

 

Carlos Caillabet

© Rel-UITA

13 de maio de 2004

 

 

* Enildo Iglesias foi Secretário Regional Latino-americano da UITA; Leonardo de León é técnico do Departamento de Agro-ecologia da Regional Latino-americana da UITA.

 

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