BIOSSEGURANÇA?
CTNBio ignora audiência pública e aprova milho
transgênico da Bayer |
Por 17 votos a
quatro, Comissão autoriza liberação comercial do Liberty
Link. Dúvidas surgidas na audiência não foram respondidas.
Decisão agora está nas mãos do Conselho Nacional de
Biossegurança, coordenado por Dilma Rousseff.
Os transgênicos avançam no Brasil. Na mais polêmica
decisão desde sua reformulação pela Lei de Biossegurança, a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
aprovou nessa quarta-feira (16) a liberação comercial do
milho transgênico Liberty Link, produzido pela empresa
transnacional de origem alemã Bayer. A decisão ainda
precisará ser submetida ao Conselho Nacional de
Biossegurança, que é composto por 11 ministérios, mas já é
festejada como vitória pelos setores favoráveis aos
transgênicos. Do outro lado, as organizações do movimento
socioambientalista prometem recorrer.
O presidente da CTNBio, Walter Colli,
vem tentando aprovar o milho desenvolvido pela Bayer
desde o ano passado, há pelo menos três sessões da Comissão,
mas sempre esbarrou na resistência dos setores contrários
aos transgênicos. Dessa vez, conseguiu encaminhar a votação,
e o Liberty Link teve sua liberação comercial aprovada por
17 votos a favor, quatro contra e um pedido de maiores
informações. Os votos contrários foram dados por
representantes dos ministérios do Meio Ambiente (MMA)
e do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Secretaria
Especial da Pesca e da sociedade civil para meio ambiente e
agricultura familiar.
As organizações reunidas na Campanha por um Brasil
Livre de Transgênicos estão indignadas com a pressa da
CTNBio em aprovar o milho da Bayer e apontam
diversas irregularidades no processo. Seu principal
argumento é que a Comissão aprovou o Liberty Link sem ter
respondido aos inúmeros questionamentos levantados durante a
audiência pública sobre o tema realizada em março. Além
disso, a aprovação seria ilegal, pois a CTNBio sequer
definiu seus procedimentos internos necessários para avaliar
a documentação apresentada pelas empresas ou instituições
com pedido de liberação comercial para os transgênicos.
A maioria da Comissão cedeu aos apelos de urgência do lobby
pró-transgênicos, numa decisão comemorada pelos
representantes das empresas. Alguns dos observadores da
sociedade civil que assistiram à votação, por outro lado,
não gostaram nadinha do que se passou: “Repudiamos a decisão
da CTNBio, que deu as costas para a biossegurança
brasileira para atender aos interesses do agronegócio e das
empresas multinacionais de biotecnologia. A CTNBio
vem mostrando um profundo descaso pela Lei de Biossegurança
e pelas próprias normas internas na condução de seus
trabalhos", afirma Gabriela Vuolo,
coordenadora da campanha de engenharia genética do
Greenpeace, em nota divulgada pela entidade.
O presidente da CTNBio trava desde o ano passado uma
queda-de-braço com o Ministério Público Federal e os
representantes da sociedade civil que querem assistir as
reuniões da Comissão como observadores. Após alguma
resistência - chegou a suspender uma sessão por não
concordar com a presença de dois membros do Greenpeace -,
Walter Colli percebeu que não poderia evitar os
observadores, uma vez que eles têm sua presença nas reuniões
da CTNBio garantida pela Lei de Biossegurança.
O setor pró-transgênicos, então, mudou de tática e decidiu
comparecer em peso para observar a reunião em curso, que
termina nessa quinta-feira (17) em Brasília. Isso se
antevia na convocatória à reunião encaminhada pelo
secretário-executivo da CTNBio, Jairon
Santos do Nascimento: “Segundo as seguidas
manifestações da digna procuradora Maria Soares
Cordioli (N.R. representante do Ministério Público),
as portas de ambas as reuniões devem ser abertas, entrando
os primeiros que chegarem. Como são muitos os pedidos,
faremos o possível para acomodar adequadamente a todos”.
Milho é perigoso
Segundo especialistas, a capacidade de contaminação do milho
transgênico é muitas vezes superior a da soja, para ficar
num exemplo de outro grão transgênico liberado no Brasil.
Isso preocupa os socioambientalistas: “Não é aceitável que o
meio ambiente e a alimentação dos brasileiros sejam
colocados em risco para beneficiar apenas algumas poucas
empresas de biotecnologia. O mais certo seria suspender toda
e qualquer liberação comercial de cultivos transgênicos até
que o Brasil tenha uma política séria de
biossegurança”, avalia Gabriela Vuolo.
A decisão, agora, está nas mãos do Conselho Nacional de
Biossegurança, um colegiado de ministros que é coordenado
pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e
que certamente se pautará pela vontade da ministra e do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Será uma batalha decisiva, e os que militam
contra a introdução indiscriminada dos transgênicos no
Brasil terão que se desdobrar, pois do outro lado a
atividade é intensa. A CTNBio já tem em sua pauta
outros onze pedidos de liberação de transgênicos feitos por
empresas como Monsanto e Syngenta, entre
outras.
Maurício Thuswohl
Carta Maior
22 de maio de 2007
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