"Temos uma equipe de profissionais trabalhando para ver que
volume se pode produzir e qual o custo, mas ainda é
prematuro dizer quando o projeto será implementado", diz o
diretor nacional de Energia, Gerardo Triunfo.
O programa uruguaio para o álcool pode ser incluído na
disposição manifestada pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, de ajudar em
um plano de desenvolvimento para o país vizinho. Será criada
uma comissão binacional nos setores de energia, geologia e
mineração.
"É vital para o desenvolvimento de nossa região traçar
estratégias coordenadas para o aproveitamento dos nossos
recursos energéticos", disse Lula, que se reuniu na última
sexta com Vázquez em Brasília.
Atualmente, no Uruguai, há 3.000 hectares de cana-de-açúcar
destinada ao consumo humano. O mercado comporta 900
cortadores de cana. Com a possibilidade de o projeto ser
implementado, entidades sindicais como a União dos
Trabalhadores Açucareiros de Artigas e os Assalariados e
Pequenos Agricultores Rurais de Bella Unión já criaram a
expectativa de serem gerados pelo menos mais 3.000 empregos.
O governo uruguaio pensa em amarrar bem o projeto para gerar
investimentos e financiamentos -e não depender tanto de
eventuais importações. O Ministério da Agricultura está
participando dos estudos, até como forma de impulsionar o
desenvolvimento da região de Bella Unión.
Em termos técnicos, o Brasil é citado como exemplo de que o
projeto é viável. Até mesmo o gerente-geral da General
Motors no Uruguai, Paulo Ramos, já deu o sinal verde para o
projeto, dizendo que a indústria automobilística nacional
pode se adaptar imediatamente ao projeto, com mudanças no
motor.
A frota uruguaia é de entre 1,5 milhão e 2 milhões de
carros. Os combustíveis usados são gasolina (cerca de 70%) e
diesel (30%).
"É muito raro um uruguaio da fronteira ter um carro a
álcool. Se tem, é da fronteira. Para nós, se eles adotarem o
álcool, aumenta o número de compradores. Certamente será
bom", diz Adam Maciel, proprietário do posto BR Caburé, em
Santana do Livramento -divisa com Rivera, no Uruguai.
Otimismo
brasileiro
Os produtores brasileiros ainda não têm noção do quanto a
implementação do projeto pode render ao país. O clima no
setor, porém, já é de otimismo: as exportações de álcool
combustível na safra 2004/2005 são maiores que as de álcool
industrial pela primeira vez na história, segundo o
presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira), de
São Paulo, Eduardo Carvalho. Desse total, 60% das
exportações são de álcool combustível.
Em relação à safra anterior, as exportações de álcool
triplicaram.
"Uma conjunção de preços internos baixos e preços externos
elevados, além da alta do petróleo, tornou competitivo o
álcool brasileiro", diz Carvalho.
O agronegócio sucroalcooleiro movimenta R$ 40 bilhões/ano
-com faturamentos diretos e indiretos-, o que corresponde a
aproximadamente 2,35% do PIB nacional, e gera 3,6 milhões de
empregos diretos e indiretos. O Brasil é o principal país a
implantar em larga escala combustível renovável alternativo
ao petróleo.
Folha de S.Paulo
7 de abril de 2005