Com Carlos “Guto” Santos
Queremos impedir o ressurgimento da violência no campo
Durante o 17º Grito da Terra da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), realizado em 17 e 18 de maio
próximos passados, o Sirel dialogou com o presidente da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (FETAGRI -PA),
Carlos Augusto Santos, conhecido por todos como "Guto". O ponto
central da conversação foi a violência rural.
O
Pará é um estado localizado na região norte do Brasil, quase
toda coberto pela floresta amazônica, já bastante reduzida pelo
avanço da pecuária e da agroindústria da soja.
Sua enorme riqueza em recursos
naturais e seu distanciamento dos centros de controle e de poder do
país fizeram desse estado um dos mais habitualmente atingidos pela
violência rural, pelo trabalho escravo, pelo desmatamento e pela
usurpação de terra fiscal (grilagem)
por parte de grandes latifundiários.
Esse foi o epicentro da Campanha
Internacional "Basta
de violência no campo"
em 2005, que contou com o apoio da Rel-UITA, da Lo-Tco da
Suécia e da CONTAG.
Hoje, seis anos depois, Guto Santos avalia os resultados e
analisa a conjuntura atual em sua região.
"Como consequência da Campanha Internacional e também do compromisso
demonstrado pelo governo Lula para combatê-la, a violência no
campo diminuiu significativamente nos últimos anos. No
entanto, a impunidade permaneceu quase inalterada com respeito à
maioria dos assassinatos sociais ocorridos em nossa região
-denunciou Guto.
Por outro lado, alguns dados da realidade nos deixam em
alerta com relação a um recrudescimento da
violência. Portanto, este ano já começamos uma campanha sistemática
de combate à violência rural – anunciou.
Esta é uma das reivindicações históricas da FETAGRI-PA,
presente em tudo o que fazemos há pelo menos 15 anos",
lembrou o sindicalista.
Exigimos a reativação das investigações judiciais
relativas aos assassinatos de dirigentes sindicais,
assessores e advogados que cooperaram com as
organizações sociais da região, assassinatos estes que
permanecem impunes |
Agora, o objetivo é reativar as investigações judiciais sobre os
assassinatos de um conjunto de dirigentes sindicais, consultores e
advogados que cooperaram com as organizações sociais da região,
assassinatos estes que permanecem impunes.
"Vamos exigir do Tribunal de Justiça a criação de uma Comissão
Interinstitucional com a presença do governo, da justiça e da
sociedade civil, a fim de rever as investigações e os processos
desses casos para os quais nunca se fez justiça" – frisou
Guto.
É uma obrigação do Estado dar uma resposta às famílias desses
trabalhadores e trabalhadoras que foram assassinados, e para toda a
sociedade, porque entendemos que já é hora de dizer: "Basta
de violência rural e basta de impunidade no Brasil",
exclamou.
Há dez dias, a FETRAGRI-PA realizou
um
seminário na Assembléia Legislativa Estadual sobre
“Violência rural e
combate à usurpação da terra",
porque entendemos que se trata de dois crimes que quase sempre andam
juntos.
Neste contexto, na última semana de junho, teremos uma mobilização
igual a esta e que chamamos de ‘Grito da Terra – Pará’, que
se desenvolverá simultaneamente com as audiências que estaremos
realizando com a justiça e o governo para concretizar a
criação dessa Comissão – adiantou Guto.
Também percebemos que a Secretaria Nacional de Direitos Humanos está
interessada em trabalhar com um conjunto de políticas no Pará, o que
é um dado muito promissor para os nossos objetivos, mais ainda se
considerarmos que
a direita política,
aliada aos latifundiários, venceu as últimas eleições em nosso
estado e isso é sempre uma promessa de mais impunidade para a
violência no campo.
Nossa tarefa deve ser a de minimizar a violência até a sua
erradicação e obter mecanismos que dêem maior segurança para o
trabalho sindical", concluiu Guto.
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