Suiça
UITA enfrenta a Nestlé na OIT por relações globais
de trabalho |
Para
comemorar o 30º aniversário da Declaração Tripartite sobre Empresas
Multinacionais e Política Social, a OIT promoveu um "MultiForum"
de dois dias de duração sob o slogan "Melhores negócios: produtividade e
crescimento através de relações de trabalho socialmente responsáveis". O
fórum foi composto por painéis que procuravam reunir a direção empresarial
multinacional com as suas contrapartidas sindicais internacionais. Para o
painel de abertura -"Práticas efetivas na implementação de princípios de
trabalho"- a OIT convidou o presidente da
Nestlé,
Peter Brabeck. O princípio organizativo no qual este fórum se apoiou
impunha a participação da UITA, organização sindical internacional
que representa os trabalhadores e trabalhadoras da
Nestlé
em todo o mundo. A
Nestlé
não desejava que fosse assim e vetou a participação da UITA.
A
fim de evitar uma
confrontação
potencialmente prejudicial sobre o seu histórico global em matéria de
emprego, a Nestlé
procurou limitar a discussão ao tema das "melhores práticas" como
supostamente se exemplifica no Comitê de Empresa Europeu. Portanto, a
Nestlé
tentou encontrar um sindicalista europeu disposto a dividir o pódio com
Peter Brabeck. Esta manobra não deu resultado, porque os possíveis
candidatos sindicais na
Nestlé
Europa
insistiram em que não existia nenhum substituto para a UITA como
interlocutor global da
Nestlé.
Assim o
MultiForum
seguiu em frente
com Brabeck, mas sem a UITA no pódio. A UITA preparou
uma carta aberta ao presidente da
Nestlé, partindo do pressuposto de que o papel da
Nestlé no fórum seria o de tratar sobre práticas de trabalho
na Europa. Porém, ao não haver nenhum sindicalista europeu presente,
Brabeck teve que deixar de lado o roteiro original. Aproveitou,
portanto, a oportunidade para se estender sobre a responsabilidade social
empresarial da Nestlé
demonstrada, por exemplo, pelo micro crédito ou pela assistência técnica aos
produtores de leite asiáticos e latino-americanos e pela presença da
ACFTU (controlada pelo estado) em toda a área de atuação da
Nestlé na China. Brabeck lembrou que os
sindicatos estavam abandonando a sua função de defender os interesses dos
trabalhadores e trabalhadoras e estão ficando cada
vez mais "ideológicos" em suas críticas às companhias como a
Nestlé.
Entretanto, aí estava a UITA para
enfrentar Brabeck sobre as práticas globais de emprego
da Nestlé
e a negativa da companhia em reconhecer a UITA em qualquer parte fora
da Europa.
Quando
Brabeck
terminou
de falar, o secretário geral da UITA, Ron Oswald o desafiou a
travar uma discussão séria sobre a construção de uma relação estruturada com
a UITA. Oswald disse que os temas que dizem respeito aos
trabalhadores e trabalhadoras da
Nestlé
em todo o mundo estavam longe de ser ideológicos, mas que se referiam a
problemas muito reais em nível do lugar de trabalho, citando o exemplo da
Nestlé
Coréia,
naquilo em que havia aludido Brabeck. O conflito coreano estava
arraigado nas ameaças públicas da
Nestlé
de relocar a produção na China, caso o sindicato não aceitasse outra
redução do número de empregados permanentes e a sua substituição por
empregados temporários. O governo suíço, em resposta a uma representação
diante da OCDE apresentada pela UITA, considerou correta a
posição da UITA diante dos fatos. "A ética de qualquer companhia",
disse Oswald, "é posta verdadeiramente à prova não na Europa,
mas sim em áreas do mundo onde as melhores práticas amiúde se encontram a
mundos de distância. Portanto, hoje a UITA repetirá o
oferecimento de iniciar um diálogo construtivo a nível global, apesar dos
lamentáveis esforços da
Nestlé
para excluir a UITA deste painel".
Brabeck
respondeu afirmando que poderia existir uma
relação com a UITA a nível mundial e expressou
a disposição, em princípio, de explorar a possibilidade de um acordo
internacional com a UITA – sempre que não procure substituir os
processos locais de negociação coletiva (algo que a UITA nunca
propôs).