Com Porfirio Ponce Valle
Para enfrentar a CABCorp-Pepsi,
uma estratégia regional comum
para os sindicatos da Bebida
STIBYS apoia luta do SITENSA da Nicarágua
Depois de uma
longa negociação que durou 23 meses, e diante das pretensões da
empresa engarrafadora La Reyna, propriedade da CABCorp (PepsiCo),
querendo modificar 36 cláusulas do antigo Convênio Coletivo, o
Sindicato dos Trabalhadores da Indústria das Bebidas e Similares
(STIBYS) assinou, em dezembro passado, um novo Convênio,
conseguindo contra-arrestar a estratégia empresarial que visava
piorar as condições de trabalho dos trabalhadores.
No momento da assinatura, estiveram presentes integrantes do
Sindicato dos Trabalhadores da Engarrafadora Nacional SA (SITENSA)
da Nicarágua, filiado à FUTATSCON, cuja Junta
Diretiva denunciou, dias atrás, uma
série de flagrantes violações à liberdade sindical e à
estabilidade no trabalho por parte da ENSA, que é uma
empresa da CABCorp.
Para conhecer mais sobre o processo que levou à assinatura do
novo Convênio Coletivo na engarrafadora La Reyna e sobre o apoio
que o STIBYS está oferecendo ao SITENSA, Sirel
conversou com Porfirio Ponce Valle, vice-presidente
do STIBYS.
-Que tipo de apoio o STIBYS vai dar aos filiados do SITENSA que
estão denunciando uma forte onda repressiva contra o sindicato?
-É muito interessante a relação que existe entre nossas
organizações. Em dezembro de 2008, a FUTATSCON e o
SITENSA presenciaram a assinatura do Convênio Coletivo com a
engarrafadora La Reyna. Nesta ocasião o STIBYS se
comunicou com o vice-presidente de Recursos Humanos para a
América Central da CABCorp, e lhe exigimos que a ENSA
assinasse o Convênio Coletivo com o SITENSA. Em menos de
48 horas as partes se reuniram e assinaram.
Acredito que quando viram que estávamos aglutinados à
Coordenadoria Centro-Americana da Bebida, filiados à UITA, e que
o STIBYS estava assessorando o SITENSA, a empresa imediatamente
concordou em assinar o Convênio Coletivo. Esta é a força que nos
dá estar unidos, organizados em nível de região centro-americana
e ser parte da UITA.
Neste sentido, já nos comunicamos com José Raúl González,
alto executivo da CABCorp, e lhe expusemos o que está
acontecendo na ENSA. Ele se comprometeu pessoalmente a
resolver o problema, e nos comunicou que Fernando Letona,
vice-presidente de Recursos Humanos para a América central,
viajaria à Nicarágua para conhecer a situação e buscar
uma solução.
Entretanto, conhecendo como atuam estas empresas, vamos estar
atentos aos acontecimentos e prontos para qualquer ação visando
apoiar os trabalhadores do SITENSA.
-Como se chegou à assinatura do novo Convênio Coletivo?
-Foi uma negociação que durou 23 meses. Pela primeira vez, a
engarrafadora La Reyna, propriedade da CABCorp,
denunciou 36 cláusulas querendo modificá-las para piorar as
condições garantidas aos trabalhadores através do Convênio
Coletivo.
Nós nos opusemos e passamos pelas etapas de diálogo direto e
mediação, enfrentando uma intervenção direta da casa matriz da
CABCorp na Guatemala. Um dos pontos mais duros
foi a defesa dos postos de trabalho, porque queriam terceirizar
funções, desaparecendo postos que correspondiam aos
trabalhadores permanentes.
-Que outros pontos vocês consideraram?
-Outro ponto que nos atrasou muito foi o da mudança do sistema de
venda, porque o Convênio Coletivo prevê que a empresa não pode
tomar nenhuma decisão sem comunicar previamente ao sindicato.
Houve um enfrentamento muito duro que nos levou à ruptura da
negociação. Entretanto, retomamos o diálogo e finalmente
conseguimos chegar a um acordo, no qual se respeitou o que
estava estabelecido no Convênio Coletivo em relação aos sistemas
de comercialização, distribuição e venda. Conseguimos também
manter a cláusula de designação e evitar que a empresa pusesse
os seus achegados sem que preenchessem os requisitos,
estabelecer que todas aquelas doenças provocadas por esforços
repetidos sejam consideradas como doenças profissionais, como
por exemplo a lombalgia, estabelecer como acidente de trabalho
qualquer acidente que ocorra nas duas horas que temos para
chegar até o lugar de trabalho, e benefícios econômicos em
salário, férias e 13º.
Conseguimos também manter as cláusulas normativas, como o
reconhecimento das partes e o respeito mútuo. Considero que
foi uma clara vitória, porque a empresa não pôde mudar nenhuma
das 36 cláusulas que havia denunciado.
-Quais foram os elementos que permitiram esse resultado tão
importante?
-O apoio do STIBYS, um sindicato pioneiro no país com 54
anos de história de luta, o apoio incondicional que temos da
UITA através dos comunicados que enviou à empresa, e a união
que há nesta organização sindical, foram elementos fundamentais
para esta vitória.
Quando, em 1995, a CABCorp chegou a Honduras, um
dos lemas era destruir o STIBYS, mas não puderam e nunca
vão poder, porque sabemos que se queremos cuidar da luta e dos
benefícios temos que cuidar da nossa organização sindical.
-Quais trabalhos vocês estão desenvolvendo a nível de
organizações sindicais centro-americanas da Bebida?
Estamos trabalhando uma estratégia que visa revisar os Convênios
Coletivos de todas as empresas de cada um dos países.
Discutiremos sobre os conteúdos para ver onde é possível
melhorar e quais estratégias adotar com relação às empresas. A
Coca-Cola FEMSA, a CABCorp e outras transnacionais estão em toda
a região e há que ver como enfrentá-las unidos, com uma
estratégia específica.
Os trabalhadores também têm que se reunir para estudar os
processos de contratação coletiva e de sindicalização dos
trabalhadores, porque nós estamos enfrentando empresas altamente
antisindicais e por isso é fundamental a
unidade e a organização.
|