Com Benancio Aguilar
O governo multa a AmBev
por contratar fura-greves
O secretário de Defesa da Federação Nacional de
Trabalhadores do Setor da Indústria de Alimentos, Bebidas e
Afins (FNT-CGTP-ABA), Benancio Aguilar, explicou ao Sirel as
razões para a recente multa recebida pela Ambev-Peru.
-Por que o governo peruano multou a AmBev?
-A
multa foi imposta pela autoridade do Trabalho do Peru
à Ambev no marco da recente greve geral por tempo
indeterminado realizada pelo Sindicato, diante da recusa da
transnacional brasileira em atender às suas reivindicações.
Como reação contra a greve dos trabalhadores sindicalizados,
que foi declarada legal pelo Ministério, a AmBev
começou a deslocar pessoal não-sindicalizado da fábrica de
Sullana para Lima, e assim poderem ocupar os postos de
trabalho dos grevistas.
Isto é passível de penalização, de acordo com a legislação
peruana.
Além disso, através de empresas de serviços terceirizados,
também contratou, dessa mesma forma, pessoal para substituir
os grevistas.
Como se isso não bastasse, obrigou o pessoal efetivo da
fábrica a ocupar os postos de trabalho deixados pelos
grevistas.
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A AmBev
contratou pessoal terceirizado e deslocou trabalhadores
não-sindicalizados de outras fábricas para quebrar a greve. O
governo lhe impôs cinco multas. |
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-O Sindicato apresentou uma queixa sobre isso...
-Claro, e solicitou uma inspeção ao Ministério que constatou
cinco infrações. Essas
infrações geraram multas acumuladas no valor de 120.000
dólares, por violação ao direito de greve dos trabalhadores.
Infelizmente, ainda temos muitas leis que vêm do tempo do
ditador Alberto Fujimori, que são muito benevolentes
com as transnacionais. Neste
caso, como há uma norma que diz que não se podem aplicar
multas acumuladas de mais de 40 mil dólares às empresas, a
AmBev só deverá pagar essa quantia.
-Há antecedentes no Peru de uma transnacional receber uma
sanção tão grave?
-Não, que eu saiba. Nenhuma
por cinco infrações. Até
mesmo uma dessas faltas foi de não permitir o acesso dos
inspetores à fábrica, já que a AmBev primeiro se
recusou a receber a inspeção.
-Ou seja, temos que mudar essa legislação tão limitadora…
-Isso
mesmo. Como
Federação, começaremos uma campanha para mudar as normas, e
acrescentaremos que, se for uma empresa reincidente, esta
deverá pagar aos trabalhadores os dias de greve e, porque
não, em caso de rebeldia, conceder poder ao Ministério do
Trabalho ,
a quem é outorgada a proteção dos direitos dos
trabalhadores, de fechar uma fábrica.
Além disso, estamos apresentando uma ação à OIT por
vulnerabilização do direito à greve e, claro, faremos isto
com o apoio da UITA, para dar mais peso político à
iniciativa. O
Estado deve usar das ferramentas necessárias para que não
sejam violados os direitos fundamentais dos trabalhadores.
Neste contexto, queremos dizer que nos chamou profundamente
a atenção o fato de que, sendo a primeira cervejaria do
mundo, esta empresa, que já está a sete anos no Peru,
diga que continua a registrar prejuízos.
A cada ano aumenta a sua produção e sua venda e, mesmo
assim, tem prejuízo? Para
nós, este é um argumento para que não concordem com os
aumentos salariais exigidos pelo Sindicato. Sobre este
aspecto, também
recorreremos aos tribunais.
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