Brasil
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“Ser humano foi criado para
trabalhar, não para sofrer”
Depois de 15 anos de trabalho na Seara Cargill,
trabalhadora é demitida com doença profissional
R$ 534,66. Este foi o total das verbas rescisórias
recebidas pela trabalhadora Adélia de Jesus
dos Santos, demitida da
Seara Cargill
com doença profissional. A homologação da rescisão
do contrato de trabalho, com ressalvas, aconteceu na
manhã do dia 17, no Sindicato dos Trabalhadores de
Alimentação. “Pode ter certeza de que a justiça será
feita, vamos buscar o aviso prévio indenizado, o
Fundo de Garantia, o seguro desemprego, a
indenização por dano moral e tudo o mais”, assegurou
o presidente do Sindicato, Sérgio Eccel,
indignado com a demissão de uma trabalhadora doente.
“O ser humano foi criado para viver e trabalhar, mas
não para sofrer”, desabafa.
Adélia
foi afastada por recomendação do médico do trabalho,
Jailson Lima da Silva, no dia 2 de agosto,
por ser portadora de síndromes do manguito rotador
em ombro esquerdo e do túnel do carpo. Trabalhou na
Seara Cargill
durante os últimos 15 anos, seis deles na sala de
corte, onde desossava 3,5 coxas de frango por
minuto, e os outros tantos embalando e pesando pés
de frango, manualmente. Daí, adquiriu a LER/DORT
(Lesão por Esforço Repetitivo/Doença Osteomuscular
Relacionada ao Trabalho). "Por que, então, a empresa
não demite a trabalhadora com todos os direitos
básicos assegurados?", questiona Eccel.
Casos se multiplicam
E os casos de doença profissional só têm aumentado
na empresa multinacional de alimentos. O trabalhador
Valdecir Vaz, 37 anos, é outro exemplo. Ele
adquiriu problema de coluna trabalhando como
balanceiro e desossador – “para a empresa, caixas de
20 quilos não são pesadas, mas para nós, fazer isso
oito horas por dia não parece pouco”, compara. Para
o médico da
Seara Cargill,
no entanto, “faltava esforço físico, era uma
lesãosinha”, conta o trabalhador, que já se submeteu
a três cirurgias e está aposentado por invalidez há
dois anos (ganha R$ 470,00 mensais). “Cheguei a ser
até funcionário destaque e cipeiro, bastou adoecer e
fui jogado num canto”.
Francisco Hilton Bezerra de Alencar,
33 anos, foi demitido por justa causa da
Seara Cargill
depois de trabalhar durante seis anos no corte, um
ano no setor de congelamento e outros quatro no
tratamento da água. “Carregava bombonas de 50 quilos
de cloro, escada acima”, conta o trabalhador, vítima
de atrofia no ombro direito e que, desde junho do
ano passado, está afastado com auxílio-doença, já
que a empresa não preencheu a CAT (Comunicação de
Acidente de Trabalho) e não reconhece a sua doença
profissional. “Tenho uma filhinha, mas não posso
segurar no colo”, fala o trabalhador, com tristeza.
O último exame médico, segundo ele, constatou lesão
crônica.
A via crucis do trabalhador em busca do
reconhecimento da doença profissional passa pelo
chefe, médico da empresa, médico perito do INSS,
justiça federal, associação de doença profissional,
etc. “O governo federal criou agora o SAB, sistema
que analisa o histórico de vida do trabalhador”,
explica a presidente da Associação dos Portadores de
Doenças Profissionais do Vale do Itapocu, com sede
em Jaraguá do Sul, Ângela Maria Cervini.
“Após dois anos de encosto, o trabalhador é
submetido à nova perícia médica, que determinará sua
volta para a fábrica e cortará o benefício do
auxílio-doença”, prossegue, lembrando que a
alternativa é ingressar com ação indenizatória antes
do prazo de dois anos, junto à justiça federal. “O
processo pode levar anos mas, regra geral, o
trabalhador consegue ser encostado judicialmente”,
afirma Ângela.
CONTAC
Confederación Nacional de los
Trabajadores en las Industrias
de la Alimentación y
Agroindustrias
22 de outubro de 2007 |
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