Com Siderlei de Oliveira
Devemos coordenar esforços
entre os trabalhadores
da França e do Brasil
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Quando,aqui no Brasil, a Doux entra definitivamente em
falência, lá na França também entra em crise. É uma crise
internacional que compromete todas as suas filiais. |
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Há muito fortes indícios de que a Doux-Frangosul será adquirida por
algum dos megafrigoríficos brasileiros. São mencionados o JBS, a Brasil
Foods e inclusive a Marfrig entre os postulantes. Na França, entretanto,
a Doux demonstra passar por uma profunda crise que mobiliza os
trabalhadores naquele país. O Sirel dialogou com Siderlei de Oliveira,
presidente da CONTAC, para saber sua opinião sobre esta situação.
-Como está a situação na Doux Brasil?
-Temos a esperança que a Doux-Frangosul adote um rumo favorável
aos trabalhadores. A empresa está recebendo propostas de compra
provenientes dos maiores frigoríficos do mundo, como o JBS e a
Brasil Foods.
Como a Brasil Foods já concentra uma grande parte do setor
avícola, é possível que as autoridades brasileiras não permitam que ela
compre a Doux,
para evitar assim uma maior concentração da indústria.
A
JBS,
no entanto, tem grandes possibilidades de comprá-lasem impedimentos
oficiais porque,se por um lado é o maior frigorífico do mundo, tem um
setor avícola relativamente pequeno.
-A venda é segura, então?
-A Doux no Brasil chegou ao fim do seu caminho, já não tem
como se manter funcionando: não está entregando os frangos aos
criadores com quem também mantém uma dívida muito grande.
Também deve muito dinheiro aos fornecedores e ao Estado.
-Também deve aos trabalhadores do setor industrial?
Continua a pagar salários, mas não está recolhendo a previdência social
e outras obrigações sociais.
-Informações recentes indicam que a Doux também enfrenta enormes
dificuldades na França.
-É fácil entender a crise que surgiu na Doux França, que até
agora estava sendo relativamente ocultada, porque a empresa estava sendo
sustentada pela sua filial no Brasil.
Por isso, quando aqui no Brasil a Doux entra
definitivamente em falência, lá na França
também entra em crise. É uma crise internacional que compromete todas as
suas filiais.
-Esta venda vai ter consequências para a parte europeia da Doux? É
possível que a JBS ou a Brasil Foods adquira todos os ativos da empresa?
-Temos de ser cautelosos. A compra da Doux-Frangosul por uma
empresa brasileira não significa necessariamente que ela continuará
produzindo e fazendo abates na França. A aquisição irá incluir,
talvez, a parte francesa da Doux, mas certamente a produção no
Brasil permanecerá, onde as condições são muito mais vantajosas do
que na Europa. Ou seja, é mais barato.
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É hora de os movimentos sindicais nos dois países se
reunirem e dialogarem preparando-se para receber o futuro
proprietário da Doux, tanto no Brasil como na França. |
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Outra possibilidade é que a JBS ou outra empresa compre apenas a
parte brasileira da Doux.
Eu acho que é hora de os movimentos sindicais dos dois países se
reunirem e dialogarem preparando-se para receber o futuro proprietário
da Doux, tanto no Brasil como na França.
Anteriormente estimava-se que a crise não chegaria à Europa, mas
nós pensávamos que isso aconteceria, porque sabíamos que a causa da
crise aqui era o envio em massa de dividendos para a França.
-Com a venda da Doux o emprego dos trabalhadores corre risco no Brasil?
-Acreditamos que os postos de trabalho serão mantidos.
O problema que vemos é a demora excessiva em fechar o negócio. Faz tempo
que existem esses rumores, até mesmo vindos de fontes da própria Doux,
mas não se chega a um acordo final. Certamente há dificuldades porque a
Doux tem que atar muitos fios soltos.
Por outro lado, temos esperança de que a empresa que a comprar no
Brasil, também garantirá os postos de trabalho na França.
-Você quer dizer que não haveria demissões em massa?
-Temos certa tranquilidade, porque sabemos que falta mão de obra no
setor, e quem comprara Doux, sem dúvida, manterá os seus
trabalhadores dentro da empresa porque a demanda de mão de obra neste
momento excede a oferta.
-É possível que quem comprar a Doux no Brasil também esteja
interessado na carteira de clientes da Doux, por exemplo, no Oriente
Médio, onde a empresa francesa coloca uma parte muito importante da sua
produção?
-As grandes empresas brasileiras do setor já estão praticamente em todos
os mercados. Por alguma razão já são as maiores do mundo.
Existem possibilidades de que os compradores se interessem em manter as
unidades na Europa, provavelmente para estocar, distribuir, etc.,
usando algumas das marcas que já existem na França.
Especulando, também digo que é possível que o dinheiro novo que
entrar para os cofres da Doux,a partir da venda no Brasil, possa dar um
alívio à situação da Doux na França. Talvez o dinheiro seja o bastante
para reduzir a dívida o suficiente para relançar a empresa na Europa.
É necessário que avaliemos tudo isso em conjunto entre os trabalhadores
do Brasil e da França para estar atentos, e para nos
prepararmos e defendermos melhor as nossas posições.