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A Kraft absorveu a Cadbury

 

Tal como acontece na indústria da cerveja, na dos alimentos

-mais especificamente no setor dos doces-

também se escutam passos de animais grandes

 

Há dois anos o grupo francês Danone adquiriu por 17,4 bilhões de dólares o fabricante de comida para bebês holandês Numico, mais tarde o fabricante de chicletes norte-americano Wringley comprou o fabricante de chocolates Mars por 22,6 bilhões de dólares e agora a norte-americana Kraft acaba de adquirir, com um desembolso de 19,5 bilhões de dólares, a britânica Cadbury.

 

A compra está gerando uma companhia líder no segmento das guloseimas de chocolate e a segunda no dos chicletes, com um faturamento mundial estimado em 72 bilhões de dólares1, ainda distante da número um, a Nestlé, que tem um faturamento anual de 104,2 bilhões de dólares.

 

Em uma espécie de descobrimento da água morna, o ministro do Comércio do Reino Unido,  Peter Mendelson, acusou a Kraft de querer apenas “fazer dinheiro rápido”. Porém mais preocupados do que o ministro devem estar os trabalhadores. A Cadbury emprega 45.000 pessoas em 60 países e o temor é que ocorram cortes importantes de pessoal, já que a Kraft é conhecida por fazer cortes de produção ou por transferi-la para o estrangeiro. A Kraft prometeu proteger os postos de trabalho nas fábricas de Somerdale e Bourneville na Grã-Bretanha e evitará o fechamento da fábrica de Keynsham, próxima à cidade inglesa de Bristol. Sabemos por experiência o valor dessas promessas.

 

Em nossa região, as maiores repercussões ocorrerão na Argentina e no Brasil.

 

Argentina

 

O mercado das guloseimas neste país, que move anualmente 887,5 milhões de dólares, é dominado em 70 por cento por duas grandes empresas, a Kraft e a local Arcor. A líder é a Arcor, com 46 por cento do mercado, seguida pelas Kraft e Cadbury que entre ambas captam 24 por cento. São 125 as empresas que atuam no setor, mas somente oito (as três mencionadas e também a Ferrero, a Nestlé, a Bonafide, a Havanna e a General Mills) captam 95 por cento do mercado.

 

O mercado de guloseimas é composto por produtos de confeitaria de açúcar e de chocolate. Nestes últimos são líderes a Arcor (Bon o Bon, Cofler, Cabsha), a Kraft (Tita, Rhodesia, Shot, Milka), a Nestlé (Bananita Dolca, Garoto) e a Ferrero (Ferrero Rocher y Kinder). Os alfajores, de grande consumo no país, são o principal produto no que se refere à participação em chocolates, neste segmento se destacam a Arcor (Negro y Blanco, de Bagley) e a Kraft (Terrabusi), seguidas de várias empresas pequenas. Em bombons e tabletes sobressaem a Arcor e a Nestlé. Em coberturas temos a Arcor, a Mars e a Cadbury.

 

A produção de reconfecções de açúcar está concentrada em três empresas que em conjunto captam 85 por cento do mercado. A líder indiscutível é a Arcor, seguida pela Cadbury e pela Kraft que agora passarão a ser uma só empresa. Em chicletes e balas a concorrência é menor. Em chicletes, a Arcor (Top Line) e a Cadbury Stani (Bazooka, Beldent, Clorets) dividem os 98 por cento. Enquanto que em balas e pirulitos, a Arcor (Menthoplus, Frutifru) e a Cadbury Stani (Halls e Palitos de la selva) captam 78 por cento deste segmento.           

 

A empresa que surgir da fusão da Kraft com a Cadbury se consolidará como o segundo jogador do negócio na Argentina depois da Arcor, porém esta perderá o título de líder mundial na produção de balas.

 

A Kraft, que se instalou na Argentina a princípios dos anos 90 como divisão de alimentos da tabaqueira Philips Morris2, tornou-se forte no segmento de guloseimas ao adquirir a Suchard, a que mais tarde englobou a ex Terrabusi. Hoje está sumamente diversificada, além das marcas já indicadas, também se destaca em biscoitos, sucos em pó (Tang) e massas. Conta com três fábricas próprias: Pacheco (província de Buenos Aires, biscoitos e guloseimas), Villa Mercedes (província de San Luis, sucos em pó) e Três Arroyos (província de Buenos Aires, massas). Por ano, tem um faturamento total de 500 milhões de dólares.

 

A Cadbury chegou ao país em 1994 adquirindo a empresa local Stani. Atualmente é a líder no mercado de chicletes, com uma importante participação em balas. Com uma única fábrica em Victoria (Buenos Aires), tem um faturamento de 120 milhões de dólares por ano.

 

Brasil

 

O negócio que viemos comentando gerará impactos imediatos no Brasil, especialmente para a Kraft no seu duelo no mercado de chocolates com a Nestlé-Garoto. Por outra parte, alguns analistas também prevêem dificuldades baseando-se nos diferentes estilos de gestão, os americanos têm obsessão pelos resultados a curto prazo, enquanto que os britânicos privilegiam o planejamento a longo prazo.

 

As principais marcas da Cadbury no Brasil são Trident, Chiclets e Bubbaloo (chicletes) e Halls (balas). É líder no setor de balas (57 por cento) e em chicletes (70 por cento) e os seus produtos são distribuídos em 600 mil postos de vendas. Entrou no país em 1944, as suas vendas crescem em média 15 por cento ao ano e possui uma fábrica em Bauru (interior de São Paulo).

 

As vendas da Kraft no Brasil, que são de 4 bilhões de reais (2,1 bilhões de dólares), logo após a aquisição devem aumentar 1 bilhão de reais (530,6 milhões de dólares), que são as vendas atuais da Cadbury. Atualmente, a Kraft é o segundo fabricante de chocolates do país com, no ano passado, 35,8 por cento das vendas.

   

 

En Parque del Plata, Enildo Iglesias

Rel-UITA

22 de febrero de 2010

Enildo Iglesias

 

 

 

 

1-Actualmente Kraft exhibe ventas anuales por 42.000 millones de dólares y Cadbury por 8.800 millones de dólares.

 

2-Con la que hoy no tiene ninguna relación societaria

 

  

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