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Com Melquíades de Araujo, de FETIASP

O "Big Brother" PepsiCo

Trabalhadores mobilizados para melhorar as condições de trabalho

 

Em setembro passado, iniciaram-se as negociações entre o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Campinas, filiado à Federação de Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de São Paulo (FETIASP) e a transnacional PepsiCo. Sirel conversou com Melquíades de Araújo, presidente da Federação, que nos disse em que instâncias está o processo, bem como os pontos mais difíceis da negociação, os progressos conseguidos pelo Sindicato graças à força das suas mobilizações constantes, e comentou sobre o sistema de avaliação aberrante imposto aos trabalhadores (Avaliação 360º), uma espécie de "Big Brother", que vem afetando seriamente os trabalhadores e trabalhadoras da companhia.
 
 

-Em que fase está a negociação entre a PepsiCo e o Sindicato de Campinas?
-A negociação coletiva com a PepsiCo começou em setembro passado. Atualmente, a discussão se refere à terceirização, mas este item está no âmbito do Ministério Público do Trabalho, porque não chegamos a um acordo através da negociação direta.
 
Há 8 anos estamos lutando para eliminar definitivamente este método de contratação. Até agora, conseguimos reduzir significativamente a percentagem de contratações de terceirizados nas fábricas de Snacks.

 
Atualmente, todas as fábricas, que fazem parte do Grupo PepsiCo no Brasil, utilizam uma elevada percentagem de mão de obra terceirizada.
 
-Com relação aos outros itens que estão sendo negociados, houve avanços?
-Continuamos negociando, e tem havido alguns progressos no que diz respeito à Participação nos Lucros e Resultados (PLR), pois conseguimos que seja mais equitativa para os trabalhadores e trabalhadoras da transnacional.
 
Por exemplo, anteriormente, se um trabalhador era demitido após ter trabalhado 11 meses na empresa, não tinha direito ao programa de PLR. Atualmente ele tem e, em caso de morte, a família do trabalhador receberá o que lhe corresponde.

A "Avaliação 360 º" está causando sérios problemas psicológicos entre os trabalhadores, havendo inclusive tentativas de suicídio. É como o Big Brother, todos contra todos.

 
Ainda não há nenhum progresso em questões como o Banco de Horas "informal" que a empresa implementou para o setor administrativo, sem que os trabalhadores estivessem de acordo, inclusive a chamada "avaliação 360°". Esta é uma discussão que mantemos com a PepsiCo há anos e que não se dá somente durante o período estipulado para a negociação coletiva, é uma discussão que mantemos durante todo o ano.
 
A PepsiCo é uma das transnacionais mais difíceis de negociar, geralmente terminamos sempre no judiciário. Por exemplo: com relação ao Banco de horas, fizemos a denúncia ao Ministério Público solicitando que a empresa regularizasse a situação dos trabalhadores, pagando as suas horas extras com efeitos retroativos.
 
Quanto à “
Avaliação 360°”, esgotamos o diálogo com a empresa, sem nenhum progresso, então iremos para o âmbito judicial.
 
-O que especificamente é a "avaliação 360 °?
-É um método de avaliação onde, depois de trabalhar todo o ano com um mesmo grupo de pessoas, os trabalhadores e trabalhadoras de um determinado setor da empresa devem avaliar uns aos outros, tendo de cumprir com uma escala de 1 a 4.
 
Nessa avaliação, pelo menos, 10 por cento dos trabalhadores são avaliados negativamente e isso afeta diretamente os seus salários, sendo feitos descontos ou incentivos dependendo da pontuação obtida por cada trabalhador avaliado.
 
Isso está causando sérios problemas psicológicos entre os trabalhadores, incluindo até tentativas de suicídio. É como o “Big Brother”, todos contra todos. Esta é uma das questões discutidas pelo Sindicato de Campinas, com a intenção de eliminar essa avaliação. Entretanto, para a PepsiCo essas avaliações são positivas.
 
-Que medidas o Sindicato tomou, além das denúncias ao Ministério Público?
-Estamos constantemente realizando assembleias, pressionando a companhia a melhorar as condições gerais de trabalho, além da questão salarial.
 
O Sindicato continua mobilizado e negociando; a idéia é não dar trégua à PepsiCo.

 

 

 

Em Montevideo, Amalia Antúnez

Rel-UITA

26 de novembro de 2010

 

 

 

 

Fotos: FETIASP

 

 

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