Brasil

 

Cidadania é ter direito a própria história

Movimento de resistencia ao golpe,1964

 

 

O Brasil continua sem conhecer o que consta nos famosos

 arquivos da repressão

 

 

Sob o lema "Cidadania é ter direito a própria história", ajude-nos a reconstruir a tua historia, a minha, a de todos nós brasileiros, o Movimento de Justiça e Direitos Humanos inicia uma campanha nacional para reunir o maior número possível de documentos e informações relativos ao período da ditadura militar, os famosos "Anos de Chumbo" (de 31 de março de 1964, data do golpe militar, até 05 de outubro de 1988, a promulgação da Constituição). Para isto, apela por informações diretamente ao próprio povo, já que as autoridades não honram os compromissos que acenaram aos eleitores para chegar ao poder.

 

Transcorridos 43 anos do golpe militar, continua proibido aos cidadãos o acesso aos documentos existentes sobre os acontecimentos daquele período trágico. Nem mesmo às famílias é informado que destino levaram muitos dos desaparecidos políticos.

 

O Brasil continua sem conhecer o que consta nos famosos arquivos da repressão. Os atuais responsáveis e depositários destes documentos, cujo teor só eles conhecem muito bem, calam e ocultam, numa atitude de absoluta cumplicidade.

 

Os sucessivos governos, de direita e de esquerda, comportam-se de forma igual. Não admitem trazer para a luz as informações que faltam para resgatar a nossa história recente, sem o que o processo democrático não pode ser considerado consolidado.

 

Afinal, que democracia é esta que nega à cidadania

a sua própria história?  

 

O atual governo, traindo todas as expectativas de seus eleitores, promulgou a Lei Nº 11.111/05, aprovada a seu mando, num parlamento subjugado pela cooptação, dispondo que continuarão sob sigilo eterno documentos que resultem em ameaça "à soberania, à integridade territorial ou às relações exteriores", no que se incluem todos os relacionados à Guerrilha do Araguaia.

 

A partir de tal Lei, os documentos referentes ao período militar, para serem divulgados, necessitam passar pelo crivo da Comissão de Averiguações e Análise de Informações Sigilosas formada por representantes de seis ministérios e pela Advocacia Geral da União, sem nenhum representante da sociedade civil.

 

Esta Comissão, indicada exclusivamente pelos detentores do poder, é que determina o que o povo brasileiro pode ou não pode saber. Só papéis que pouco ou nada signifiquem para o resgate da história desse período é que serão divulgados.

 

Infelizmente, o atual governo, em nome da sua governabilidade, negocia o direito da sociedade brasileira à conhecer verdade, aceitando a tutela dos militares num insulto à memória daqueles que lutaram, generosamente, para a democratização do país que permitiu a Lula e seus companheiros controlarem os cargos do poder, sem compromisso com suas antigas bandeiras, promessas e com a própria história.

 

Assim, apelamos a toda sociedade civil, a todas as organizações sociais, sindicais e congêneres, aquelas pessoas que, ao tempo em que prestaram o Serviço Militar Obrigatório, viram ou escutaram algum comentário referente aos desaparecidos políticos, aos militares de carreira que não partilhavam da ideologia então imperante, aos policiais que de alguma maneira saibam de fatos relativos a operações repressivas, aos ex-presos em função da ideologia, que conheçam algum dado que ajude a reconstruir a história deste período negro da vida brasileira, que entrem em contato com o MJDH.

 

Enquanto os brasileiros não tiverem o direito de conhecer a história dos Anos de Chumbo, continuaremos na luta:

 

"Pela imediata abertura, ampla, geral e irrestrita de todos

os arquivos da ditadura militar ainda considerados secretos."

 

En Porto Alegre, Jair Krischke

© Rel-UITA

     6 de setiembre de  2007

 

 

 

Ilustración: cienciaecultura.bvs.br

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