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“La Polaca” a estância do pavor

 

Jair Krischke em depoimento

ao Juiz Juan Oliva

"Isto aqui foi uma espécie de entreposto, por onde passavam aqueles considerados subversivos, na visão dos torturadores". A afirmação é de Jair Krischke, Conselheiro Secretário do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, uma das maiores autoridades no assunto, após ter visitado "La Polaca", uma estância situada nas cercanias de Paso de los Libres, distante 15 quilômetros da cidade, a 600 metros do Rio Uruguai, proximidades da Ilha do Pacu. Segundo Jair, para La Polaca, argentinos chamados subversivos presos detidos "no Brasil, território do Rio Grande do Sul e, eventualmente brasileiros também, eram levados para aquele local (La Polaca), especialmente os brasileiros que estavam em Buenos Aires na condição de refugiados políticos e que desejavam entrar clandestinamente no Brasil pela fronteira de Libres e Uruguaiana", disse ele. O prédio, diz Jair Krischke, "é de pavor. Há um porão que, provavelmente tenha sido o local de tortura. Os elementos que se tem é de que ali funcionou um campo de concentração e de transição", garantiu.

Krischke, Claudia Allegrini e o advogado Jorge Olivera na Estância La Polaca

Ele garante que uma das preocupações das repressões tanto brasileiras como argentinas era de saber se esse dito "subversivo", teria contato com outros. Então seguravam a criatura, sob tortura, para ver se conseguiam capturar outro", disse ele.

 

Desaparecidos Está em Paso de los Libres e prestou depoimento ao juiz Juan Angel Oliva, assim como Jair, Cláudia Allegrini, de 46 anos, que há exatos 25 anos, teve o marido Lorenzo Ismael Vinãs, capturado quanto tentava entrar no Brasil, para escapar da repressão Argentina. Ela disse que o marido desapareceu no dia 26 de junho de 1980, quando entrava em Uruguaiana num ônibus rumo ao Rio de Janeiro. Era da Juventude Universitária Peronista. Antes a irmã dela Maria Adelaida fora assassinada. Jair conta que o Padre Jorge Oscar Adur, foi seqüestrado em Uruguaiana no mesmo dia em que Lorenzo desapareceu. Ambos, segundo Jair, estavam marcados pela Operação Condor - uma entidade secreta entre as ditaduras do Cone Sul. Jair disse que "no final de setembro daquele ano, os dois já em Buenos Aires para onde foram levados, foram colocados no interior de um avião que decolou e os despejou no rio da

Claudia observa o porão

Prata. Ele também garantiu que certamente há corpos enterrados em La Polaca. Disse que um dos comandantes da Polaca, foi conhecido por muitas pessoas em Uruguaiana, o chamado "Turco Júlio" ou "Julian Simon", ex-agente da Polícia Federal Argentina. "Este sujeito era um dos mais ferozes torturadores da Argentina. Ele tem a responsabilidade de mais de 200 casos de desaparecimentos. Conheço uma pessoa tetraplégica que foi levada de cadeira de rodas e foi torturada por ele. Esta besta humana estava aqui, operava aqui. Um homem que não tinha limites. É um dos que comandaram La Polaca", afirmou Jair Krinschke.

 

O que foi a Operação Condor

 

Formalizada em 1975 por sugestão do general Augusto Pinochet, interligou os aparatos de repressão do Chile, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, do Brasil e da Bolívia na perseguição a adversários políticos. A Operação Condor montou um banco de dados com os nomes dos subversivos e formou comandos policiais para caçar inimigos além das fronteiras. Empregou o terrorismo de Estado - com seqüestros, torturas, prisões, assassinatos e desaparições forçadas. O símbolo foi inspirado na ave condor.

 

Mortos e desaparecidos nas ditaduras do Cone Sul

ARGENTINA (1976-1983): 30.000
BRASIL (1964-1985): 366
CHILE (1973-1990): 3.196
BOLÍVIA (1971-1978): 100
PARAGUAI (1954-89): 2.000
URUGUAI (1973-84): 297                Fonte: Zero Hora

 

 

Jornal Diário da Fronteira

21 de julho de 2005

 

 

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