Brasil

 

MOVIMENTO DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS INFORMA:

Primeiro chefe da tortura no Brasil

vai ao banco dos reús

Coronel (R) Carlos

Alberto Brilhante Ustra

 

Pela primeira vez no Brasil, um militar de alta patente estará sentado no banco dos réus por crimes infames de tortura cometidos durante a ditadura militar. O coronel (R) Carlos Alberto Brilhante Ustra*, que foi chefe do centro de tortura do Destacamento de Operações de Informações Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), que funcionava nas instalações da delegacia de Polícia na Rua Tutóia, no bairro de Vila Mariana, em São Paulo, será julgado a partir das 14 horas desta quarta-feira, na capital paulista.

O coronel Ustra responde a uma ação declaratória movida por Maria Amélia de Almeida Teles, integrante da Comissão de Familiares Mortos e Desaparecidos, que foi presa e torturada com a família na Oban**, sob comando de Ustra. De acordo com Amélia, a família não quer indenização do Estado ou prisão para o coronel. É uma ação de efeito político, que vai trazer reconhecimento de que um coronel do Exército, na época major, era torturador, explica Amélia.

O juiz admitiu a tramitação da ação porque ela não é limitada pela Lei da Anistia. A ação será julgada em um juizado cível, que trata da responsabilidade sobre atos e direito sobre bens. Na interpretação do tribunal, a Lei da Anistia impede apenas que ela seja julgada em um juizado criminal, que apura responsabilidade sobre crimes. O julgamento é inédito no Brasil, de acordo com entidades de defesa dos direitos humanos. Não tenho conhecimento de outro caso. O crime de tortura é imprescritível, pode ser alegado a qualquer momento e a qualquer tempo, disse o advogado Lúcio França, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB e do grupo Tortura Nunca Mais.

No julgamento, vários ex-presos políticos prestarão depoimento. Diz Amélia: A intenção maior é o esclarecimento do que ocorreu naquela época. Conforme o advogado Lucio França, o caso pode abrir jurisprudência, tornar-se referência para processos semelhantes: Isso vai dar margem para que outras pessoas que foram torturadas denunciem militares torturadores. Maria Amélia quer provar definitivamente que ela, o marido César, a tia Criméia Almeida e os filhos Janaína e Edson foram torturados em uma unidade do Doi-Codi onde o comandante era o coronel Ustra, na Rua Tutóia. Ustra usava o codinome de Tibiriçá.

Na época, os filhos de Amélia tinham 5 e 4 anos. Amélia era integrante do Partido Comunista e atuava na imprensa partidária. Ela permaneceu dez meses presa na Oban, na Rua Tutóia. O marido ficou preso cinco anos. Os filhos pequenos foram obrigados a passar alguns dias com os pais nas masmorras do Doi-Codi, até serem entregues à guarda de parentes em Minas Gerais. Ela conta que, no período, sofreu todos os tipos de violência comuns nos infames locais de tortura: cadeira do dragão, pau-de-arara, palmatória e afogamento.

MJDH

9 de novembro de 2006

 

*Coronel (R) Carlos Alberto Brilhante Ustra- Fue agregado militar en la Embajada de Brasil en Montevideo.

** Oban - Operación Bandeirantes Grupo clandestino de represión que funcionaba bajo la financiación de grandes empresarios y empresas transnacionales.

 

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