Começó nesta terça-feira (18) em Brasília (DF), o II Encontro
Nacional dos Povos da Floresta,
que reúne milhares de
representantes de comunidades da
Amazônia para tratar das
mudanças climáticas e debater a
questão do desenvolvimento. A
defesa das florestas e de outros
biomas únicos do país se
concentra, segundo os
organizadores do evento, no
desafio de construção de uma
agenda alternativa que leve em
conta a preservação do meio
ambiente e contribua para a
redução da pobreza dos povos
tradicionais que estão
diretamente ligados aos
ecossistemas em que vivem.
"Queremos apontar novas estratégias de luta para as ameaças
que ainda persistem.
Nossos espaços sofrem pressão do
agronegócio, das empresas
mineradoras e farmacêuticas, bem
como dos programas de
infra-estrutura que impactam
diretamente nossos territórios",
descreve Jecinaldo
Saterê-Mawê, coordenador
geral da Coordenação das
Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (Coiab),
uma das entidades -as outras são
o Conselho Nacional dos
Seringueiros (CNS) e o
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
-que organiza o encontro que se
estenderá até domingo (23) na
capital federal.
O I Encontro Nacional foi
realizado em 1989 -em Rio Branco
(AC), sob a liderança do
seringueiro Chico Mendes
-e selou o início da Aliança dos
Povos da Floresta, que reúne
organizações formadas por
comunidades tradicionais das
mais diversas partes da
Amazônia.
Agora, quase 20 anos depois, os
movimentos fazem uma avaliação
dos anos de resistência em prol
da maior floresta tropical do
mundo e passam a incluir no
debate o Cerrado, a Caatinga e o
Pantanal. "Percebemos que os
mesmos problemas ocorrem em
outras florestas brasileiras.
Vamos ampliar a nossa rede e
ganhar força e participação. Não
estamos dispostos a aceitar a
destruição das florestas",
anuncia Jecinaldo.
Para Julio Barbosa, vice-presidente do CNS, o
ponto-chave do encontro reside
na disputa acerca do modelo de
desenvolvimento. "Desde que
surgiu, a Aliança já teve muitas
conquistas: a criação de
reservas extrativistas, a
ampliação e demarcação de terras
indígenas, etc. Mas isso não
basta, precisamos de uma
política em que outro conceito
de desenvolvimento da Amazônia
seja levado em consideração". E
completa: "Não podemos continuar
pensando em grandes projetos. É
preciso uma profunda reflexão: o
que é mais importante? Exportar
mais soja, expandir a área
plantada de cana-de-açúcar e
levar mais gado para região ou
valorizar os nossos recursos
naturais?".
Esta segunda edição do encontro também pretende retomar o
protagonismo dos amazônidas no
debate sobre o futuro da região
que, com a discussão sobre
mudanças climáticas, ganha cada
vez mais projeção internacional.
"Nada melhor do que os próprios
povos da floresta pensem o
futuro. A gente sabe que a soja
e o agronegócio não são
propícios para a Amazônia",
frisa Jecinaldo. "Viemos
à Brasília para afirmar a luta
que levou à morte de Chico
Mendes e de outras lideranças
indígenas e da floresta. E não
estamos dispostos a trair essa
luta, por mais que o desafio
seja enorme."