Brasil

 

Belem - Dorothy Stang

“Taradão” diz que não está foragido

 

 

A hipótese de o empresário Regivaldo Pereira Galvão, o 'Taradão', deixar o país levou o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, a pedir ao Tribunal de Justiça do Pará (TJE) que acelere o julgamento do acusado.  Taradão é apontado como mandante do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro do ano passado.  Como há também recursos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que impedem a Justiça do Pará de levar Regivaldo a júri popular, Vannuchi também pedirá ao STJ que aprecie os recursos o mais rápido possível.  'Um caso como este, de repercussão internacional, não pode ficar assim', justifica o ministro.  Até agora, foram julgados apenas Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o 'Eduardo', que foram condenados a 27 e 17 anos de prisão, respectivamente.

 

Vannuchi decidiu pedir à Justiça que seja mais célere no julgamento de Regivaldo por conta da polêmica criada em torno da viagem do acusado ao Rio de Janeiro.  No domingo, 2, Taradão e sua mulher, Rosângela Galvão, pegaram o vôo 1929 da Gol de Belém para Brasília e seguiram para o Rio de Janeiro só com bilhete de ida.  Ontem, Regivaldo deu uma entrevista por telefone.  Ele garantiu que não está foragido e que pode ser localizado no endereço Estrada Maracajás, número 710, Galão, Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Código Postal 21.941-390. 'A Justiça tem o meu endereço e, se for chamado amanhã pelo juiz, compareço na hora marcada.  Anote o telefone da casa que estou aqui no Rio e ligue para mim na hora que você quiser', ressaltou.

 

Regivaldo disse que está no Rio de Janeiro por dois motivos.  Primeiro foi visitar os três filhos, que moram na capital fluminense há mais de um ano.  Regivaldo Júnior, 16; Caio, 13; e Vívian, 8, moram com um casal de amigos no Rio.  Regivaldo Júnior, segundo ele, joga no Centro de Futebol Zico, do técnico da seleção japonesa.  'Como ele carrega o meu nome, deixou até de ser titular do time e passou a ser reserva.  Tudo por causa dessas acusações', queixa-se Taradão.  O segundo motivo seria sua saúde.  'Tenho problemas no joelho e farei amanhã (hoje) uma ressonância magnética.  Dependendo do resultado, volto ao Pará logo nos próximos 30 dias', afirma.  Uma produtora internacional também vai gravar uma entrevista com Taradão para um documentário sobre a morte da irmã Dorothy.

 

'Suspeita'

 

Para o promotor de Justiça do caso, Sávio Brabo, a viagem de Regivaldo ao Rio de Janeiro é 'suspeita'.  'Ele é acusado de um caso de repercussão internacional.  Por mais que alegue inocência, ele não poderia deixar a cidade (Belém) sem autorização da Justiça.  Ele só fez enviar um comunicado dizendo o local em que ficaria', diz Brabo.  Assim como o ministro dos Direitos Humanos, o promotor defende que a Justiça deveria ser mais rápida num caso dessa dimensão.  O advogado de Regivaldo, Jânio Siqueira, contesta o promotor e sustenta que seu cliente poderia, sim, viajar apenas fornecendo à Justiça seu paradeiro.

 

Regivaldo Pereira Galvão se diz inocente no caso Dorothy e afirma que não tem medo de enfrentar o Tribunal do Júri, muito embora seus advogados protelem seu julgamento.  Ele se diz perseguido e afirma que voltará em breve a Altamira, região onde a freira foi assassinada.  'Meus negócios estão todos parados desde que fui envolvido neste caso.  Pretendo tocá-lo em frente para evitar mais prejuízos', planeja.  Taradão esteve preso por um ano e quatro meses e foi posto em liberdade há dez dias por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

 

Para não caracterizar que está fugindo da Justiça, Regivaldo disse que está guardando todos os exames que vem fazendo no Rio de Janeiro.  Pretende mostrá-los à Justiça tão logo seja chamado.  Ele também ressaltou que está fazendo um tratamento dentário, que foi paralisado por causa do período em que esteve preso em Belém.  No ano passado, ele saiu do Centro de Recuperação do Coqueiro, em Belém, e passou 15 dias internado num hospital público. 'O Tribunal de Justiça do Pará deveria tomar as providências necessárias para julgar Regivaldo o quanto antes, com extrema urgência.  Se ele for inocente, que seja absolvido.  Se for culpado, que apresente as provas e o condene.  A viagem dele ao Rio só reforça o estigma de que no Brasil os mandantes de crimes no campo nunca ficam presos.  Só os executores', frisa o ministro Paulo Vannuchi.

 

 

O Liberal

13 de julho de 2006

 

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