Fiscais do Trabalho libertaram 47
trabalhadores rurais após visita no dia 24 de agosto à
fazenda Veleiro, no município de Jerumenha/PI. Os
trabalhadores foram libertados da condição de escravidão
e receberam as indenizações referentes aos direitos
trabalhistas desrespeitados. Também puderam retirar a
Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).
A ação
das autoridades aconteceu um dia após os agricultores
procurarem o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da
região e denunciarem as péssimas condições de trabalho.
O sindicato acionou a Federação dos Trabalhadores na
Agricultura no Piauí (Fetag/PI), e esta informou o caso
à Delegacia Regional do Trabalho no estado.
Os
trabalhadores explorados eram do município de Landre
Salles e trabalhavam na colheita do feijão. Entre as
irregularidades encontradas pelos fiscais na fazenda
Veleiro, estavam as muitas horas semanais de trabalho, o
consumo pelos trabalhadores de água contaminada, a falta
de alojamento e pagamentos que mal davam para comprar
comida.
Depoimento
Depois de sofrer humilhações pelo gerente da fazenda,
três trabalhadores fugiram e fizeram as denúncias. Um
deles, Arenaldo Rodrigues, detalhou como era a relação
com o gerente da fazenda, conhecido como Joãozinho.
“Eu
estava me sentindo muito mal e ele começou a me ameaçar.
Então eu saí e chamei outro colega escondido para darmos
parte. O dinheiro que eu tinha era só para comer. Mas
gastei para ligar para o Sindicato do Uruçuí. De lá, o
Sindicato entrou em contato com a Federação, em
Teresina. Nós deveríamos ter voltado para a fazenda, mas
não voltamos, porque ficamos com medo”,
relatou o trabalhador.
A
chefe de Fiscalizações da DRT, Soraya Lima, explicou que
ao chegar à fazenda
os fiscais constataram que a água
estava contaminada com agrotóxicos,
os trabalhadores não tinham alimentação saudável,
dormiam em barracões e não recebiam salários desde o
início da prestação dos serviços. Na fazenda Veleiro
também havia menores e pessoas doentes trabalhando.
Soraya informou que desde 2004, o Piauí registrou sete
denúncias de trabalho escravo.
“Infelizmente agora nós estamos tendo que nos deparar
com essa realidade de que, além de exportadores, também
somos escravizadores. Mas o que posso dizer é que a DRT,
juntamente com os parceiros, como o Ministério Público
do Trabalho, está muito atenta aos casos e atendendo
prontamente às denúncias que, para nós, são prioridade
absoluta”, explicou Soraya.
Campanha
O presidente do Sindicato de Jerumenha,
Abdias de Sousa,
informou que o órgão vem adotando medidas para evitar
que trabalhadores caiam em armadilhas. “Aqui a gente tem
um documento dizendo que cada trabalhador que vai para
as comunidades deve avisar ao Sindicato e informar
quantos são”. O secretário de Assalariados da
CONTAG,
Antônio Lucas,
avalia que atualmente as denúncias são mais freqüentes.
Para o dirigente, o fato já é resultado da Campanha
Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.
Antônio
Lucas aproveitou para cobrar a aprovação da PEC do
Trabalho Escravo, que está parada na Câmara dos
Deputados há mais de dois anos. “Uma das proposições que
está contida na PEC é o confisco das terras que estão
com trabalho escravo. Com certeza essas propriedades lá
viriam para a Reforma Agrária e iríamos assentar
exatamente esses trabalhadores que foram vítimas de
trabalho escravo.
Além da
multa, o dono da fazenda Veleiro também terá seu nome
incluído na lista suja do Ministério do Trabalho. Uma
das punições para quem faz parte da lista é a proibição
de adquirir créditos em bancos públicos”, explicou.
Angélica Córdova
Agência CONTAG de Notícia
4 de
setembro de 2006