Com Jair Krischke
Assassinado outro líder comunitário e ambientalista
no Pará
Na tarde de sábado passado, 22 de outubro, na localidade de Miritituba,
município de Itaituba, no estado do Pará, foi assassinado João Chupel Primo, 55
anos, empregado de uma oficina mecânica. Era ativista católico, coordenador da
sua comunidade e, por denunciar o desmatamento, já havia sido ameaçado de
morte. Sirel dialogou com Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e
Direitos Humanos de Porto Alegre (MJDH), para saber sua opinião sobre este novo
episódio de violência rural.
-Qual é o seu pensamento sobre esta "guerra de baixa intensidade" que existe no
norte do Brasil?
-Isto continua acontecendo porque as coisas não mudam, porque tudo continua do
mesmo jeito. É uma terra de ninguém, uma ausência total e absoluta do Estado que
permite que isto aconteça.
Há uma impunidade mafiosa tão arraigada que permite continuar matando sem que
nada realmente aconteça. Vivemos em uma região do mundo onde a vida não vale
nada.
Todos os dias nos sentimos agredidos por esses acontecimentos de extrema
violência. Neste caso não era um camponês, mas sim alguém comprometido com a
organização do povo em defesa de sua fonte de renda que é a floresta.
Isto, seguramente, contrariou os interesses dos madeireiros e fazendeiros da
região, e isso já foi o suficiente para torná-lo um candidato ao assassinato.
-Quem denunciou o homicídio neste caso foi o bispo católico dessa região, Dom
Frei Wilmar Santin.
-E que também está ameaçado.
Porque,
nesta região, quem participa das denúncias e acusações de desmatamento e
grilagem de terras entra na lista dos marcados para morrer.
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Há uma impunidade mafiosa tão arraigada que permite
continuar matando sem que nada realmente aconteça. Vivemos em uma região do
mundo onde a vida não vale nada.
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-Qual é o papel da Igreja Católica nestas regiões? De acordo com
o bispo Santin, João Chupel havia sido encarregado de organizar a sua
comunidade...
-São comunidades eclesiais que organizam as pessoas
com um fim pastoral, para que possam seguir trabalhando e melhorando suas
condições de vida. Neste caso, havia grupos de extrativistas, ex-garimpeiros,
etc. Nessa região, muita gente vive da colheita da castanha-do-pará, do açaí e
de outras frutas e sementes silvestres, que têm uma demanda crescente nas
grandes cidades brasileiras.
Para eles, a destruição da floresta é o fim do seu modo de vida, da sua
sobrevivência e, sem isto, só lhes resta a miséria absoluta.
-O Bispo Santin
pressiona o Governo e pergunta por que a Polícia Federal ainda não se instalou
de fato na região.
-A Polícia Federal tem
um grande número de agentes, mas o país é enorme, quase impossível de ser
abrangido totalmente. Além disso, os federais não querem viver nessas áreas de
selva, e aqueles que ficam logo começam a buscar um jeito de ir para as cidades,
para São Paulo, etc
Infelizmente, sou muito pessimista com respeito a se poder instalar a Polícia
Federal ali. E isto, periodicamente, retorna a ideia de levar para lá as Forças
Armadas...
-... o que seria muito perigoso. Neste processo, sabemos como começa, mas não
como termina.
-Muito perigoso, porque os militares estão preparados para a guerra, e o
problema lá existente é de segurança pública. Trata-se de proteger os mais
fracos para que a lei impere e a floresta seja preservada, não apenas dos
madeireiros e dos grileiros de grandes propriedades, mas também dos garimpos de
extração de ouro com enorme uso de mercúrio.
O mercúrio contamina, de forma quase irreversível, os cursos de água
superficiais e profundos e, portanto, a flora e a fauna também são
contaminadas. É gravíssimo. São metais pesados, altamente cancerígenos e
neurotóxicos.
Também é terra de narcotraficantes. Todos exercem violência, matam índios, matam
extrativistas, é lamentável.
-Parece que é outro mundo.
-No
Brasil ainda há muitos "outros mundos" sem a presença do Estado. Esse
vazio é quase sempre ocupado por organizações criminosas que, muitas vezes, se
juntam para dividir entre si o território e os recursos.
A
lei é inexistente. É a barbárie.
Agora, estamos comemorando que, pelo menos no caso do casal de extrativistas
assassinado em maio passado, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do
Espírito Santo, conseguiu-se identificar e prender os assassinos.
Mas devemos estar atentos para que realmente sejam julgados, condenados e que
cumpram a sua pena, porque infelizmente esta não é a regra nesta região.
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