Apartir de amanhã, os técnicos do
Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) e do Instituto
de Terras do Pará (Iterpa) iniciam a
inspeção agrária da Fazenda Peruano, em
Eldorado dos Carajás. O procedimento
começa pelo exame da documentação do
proprietário sobre a legalidade das
terras. Os representantes dos movimentos
sociais que invadiram a fazenda alegam
que parte da terra pertence à União. De
acordo com o ouvidor agrário do Tribunal
de Justiça do Pará, desembrargador
Otavio Marcelino Maciel, provavelmente,
funcionários do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) e da Delegacia
Regional do Trabalho (DRT) também
participarão. 'Os do Ibama irão ver os
problemas de preservação ambiental. Os
da DRT, de trabalho escravo. Salvo
engano, essa fazenda já foi vistoriada
pela DRT e existia indício de trabalho
escravo', atesta o desembargador.
O ouvidor agrário do TJ-PA esteve em
Brasília para participar da primeira
reunião ordinária da
Comissão Nacional de
Combate a Violência no Campo
(CNVC).
Presidida pelo Ouvidor Agrário Nacional,
Gercino José da Silva Filho, a reunião
ocorreu a portas fechadas e entrou pela
noite. 'Mostramos que os conflitos
agrários no Pará diminuíram
consideravelmente. Só nesse ano, foram
realizadas 15 desocupações sem nenhum
problema', afirma o desembargador Otavio
Maciel. Ele, entretanto, mostrou-se
preocupado com a apresentação feita por
Gercino José da Silva Filho, 'de uma
relação enorme de conflitos agrários que
estão ocorrendo em Tailândia. São de uma
gravidade extensa', afirmou Maciel. O
levantamento da Ouvidoria Agrária
Nacional não foi divulgado à imprensa.
O representante do TJ-PA salientou que
as medidas adotadas pelo Tribunal de
Justiça ajudaram a diminuir os índices
de violência agrária no Estado. 'Quanto
à grilagem de terra, a Corregedoria de
Justiça do tribunal baixou, recentemente,
provimento bloqueando matrículas nas
áreas acima de 10 mil hectares. Além
disso, o juiz da Vara Agrária de
Altamira prolatou sentença anulando as
matrículas de áreas acima de 1,6 milhão
de hectares', alegou Maciel. O
desembargador apresentou à Ouvidoria
Agrária Nacional as medidas adotadas
para o combate ao desmatamento ilegal.
'O Tribunal de Justiça criou cinco
juizados para processar e julgar crimes
ambientais, aproveitando a estrutura das
varas agrárias'.
Quanto aos assassinatos decorrentes de
conflitos agrários no Estado, Otavio
Maciel informou que o TJ-PA constituiu
uma comissão presidida pelo
desembargador Cláudio Montavão e
representantes da
Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), da
Comissão Pastoral da Terra
(CPT), da
Federação nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (Fetagri) e
da Secretaria de
Direitos Humanos. 'A
comissão fará o monitoramento de todos
os processos existentes nas comarcas e o
fruto desse trabalho já poderá ser
verificado no julgamento da morte do
Dezinho
(o pistoleiro
Wellington de Jesus da Silva
confessou ter matado o líder sindical
José Dutra da
Costa, o
Dezinho).
Apesar de ter sido criada por uma
portaria editada em maio de 2003, a
referida Comissão reuniu-se ontem pela
primeira vez para debater as questões
relacionadas aos assassinatos no campo,
grilagem de terras. A publicação em
Diário Oficial da União da portaria que
cria a CNVC foi publicada no mês de
julho desse ano. A Comissão é formada
por representantes do Ministério da
Justiça, do Desenvolvimento Agrário e da
Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, além de procuradores gerais de
Justiça, dos Ministérios Públicos
Federal e do Trabalho, da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) e do Conselho
Nacional de Justiça. O CNVC deverá
apresentar relatórios trimestrais das
atividades aos órgãos e entidades
representados.