O
grupo móvel de fiscalização do governo federal resgatou
21 pessoas em condições degradantes de trabalho em Rondon do Pará (PA),
na fazenda Jesus de Nazaré, pertencente a
Idelfonso Abreu Araújo,
prefeito eleito pelo PP do município vizinho de Abel Figueredo (PA), na
última quarta-feira (18).
Os trabalhadores tratavam o terreno, de 7200 hectares, para implantação da
pecuária.
Araújo, que também possui uma serraria na região, concordou em pagar as
dívidas dos trabalhadores.
Desembolsou mais de R$ 53 mil
(US$ 24.800 ).
No acordo verbal com o "gato" (contratador de mão-de-obra serviço do
fazendeiro), conhecido como
Antônio "Filó",
os empregados receberiam de R$ 250,00 a R$ 270,00 por alqueire derrubado
(equivalente a 4,8 hectares), meta que imaginavam atingir a cada três dias,
em média. Entretanto, a mata densa e o terreno íngreme dificultaram a
produtividade e a média de corte era de um alqueire a cada 15 dias, em
grupos de cinco pessoas. Ao final do mês, o que cada um deveria receber era
cerca de
R$ 100,00 (US$ 47),
dinheiro que não cobria as dívidas e deixava o peão devendo para o próximo
mês.
Segundo a equipe de fiscalização, Antônio Filó já foi retirado como
"gato" em ação anterior do grupo móvel. Além de administrar a cantina na
fazenda, ele possuía um bar e uma hospedagem na cidade de Rondon do Pará,
distante 40 quilômetros da propriedade. Os empregados iam cerca de uma vez
por mês para o centro e consumiam sempre neste local, pois não tinham
dinheiro para pagar em outros estabelecimentos. Na caderneta de dívidas,
alguns deviam até R$ 800.
Os primeiros trabalhadores chegaram no local no final de abril e começaram
atuar no desmatamento da área. Grande parte deles eram originários do
Maranhão e outros vinham do próprio município de Rondon do Pará.
Os empregados, iam cerca de uma vez por mês para o centro Rondon
do Pará, e consumiam sempre num bar e uma hospedagem propriedade
do contratador, pois não tinham dinheiro para pagar em outros
estabelecimentos. Na caderneta de dívidas, alguns deviam até R$
800 (US$ 375). |
Em 13 de setembro, um acidente provocou a queda de uma tora de madeira nas
pernas de um rapaz de 24 anos. Após esperar cinco horas pelo transporte, o
trabalhador, que havia perdido muito sangue, acabou morrendo a caminho do
hospital. Alguns trabalhadores foram embora nessa ocasião - a fiscalização
ainda não identificou quantos, já que muito já haviam voltado a seus
estados. "O que queremos agora é provar o vínculo trabalhista com a fazenda,
já que ninguém tinha carteira de trabalho, para que a família possa receber
uma pensão", prevê Virna Damasceno, auditora fiscal do trabalho e
coordenadora da ação.
Fiscalização anunciada
Quando o grupo
móvel chegou na fazenda Jesus de Nazaré, com seis carros, acompanhados de um
delegado da Polícia Federal e um procurador do Ministério Público do
Trabalho, a maioria dos trabalhadores já haviam sido retirados. Só três
empregados foram encontrados no local. Mais tarde, foi possível reunir os 21
no centro de Rondon do Pará - todos estavam espalhados em hotéis pela cidade
- e puderam ser entrevistados pela equipe fiscalizatória.
Eles relataram que tinham sido dispensados do serviço na terça (17) e que,
devido às "dívidas" com o "gato", eles haviam recebido valores entre R$
50,00 a R$ 100,00.
Segundo a coordenadora da ação, a chegada da fiscalização não era uma
surpresa, uma vez que a denúncia do trabalhador, na semana anterior, havia
sido publicada em um jornal da região, divulgando o nome da fazenda, do
prefeito e do denunciante, que está atualmente sob proteção da equipe.
A
divulgação acabou por prejudicar a ação fiscalizatória, pois não foi
possível verificar todas as condições de trabalho. "Os três trabalhadores
que encontramos na fazenda não tinham EPI [Equipamento de Proteção
Individual], mas não podemos dizer dos outros porque não vimos em
flagrante", explica Damasceno. Entretanto, o grupo móvel pôde constatar as
péssimas condições de alojamentos dos peões, em barracos de lona e madeira,
e que toda a água utilizada provinha do córrego que atravessava a fazenda.
Como foi constatado o desmatamento e queimadas na fazenda, a auditora disse
que o caso também será encaminhado para o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
Fonte:
Carta Maior
30 de otubro de 2006