O crime pode
ter ligação com uma ocupação dentro da fazenda Mineira,
pertencente ao pecuarista Aurélio Anastácio de Oliveira 83
anos, que foi reintegrada no mês de julho deste ano.
O sindicalista Domingos Santos da Silva, o Domingão, 47, foi
assassinado ontem com cinco tiros disparados à queima-roupa.
O crime aconteceu em frente à casa da vítima, localizada na
rua Brasil, 333, Centro. O pistoleiro de estatura baixa,
grisalho a aparentando entre 40 e 50 anos chegou à casa do
sindicalista, que é ligado à Federação dos Trabalhadores na
Agricultura (Fetagri), dizendo-se interessado em comprar uma
área de terra localizada da fazenda Mineira, no quilômetro
37 da rodovia Transamazônica, município de Itupiranga.
Este é o segundo assassinato em condições semelhantes em
menos de 72 horas no sul do Pará. No primeiro, sábado
último, o vereador
Edson Coelho Lara, 46, foi morto em tocaia
quando chegava na seda da fazenda em Itupiranga. Ele foi
alvejado com seis tiros.
A Polícia descobriu que o em outras ocasiões o pistoleiro
havia perguntando para a mulher da vítima, Dulcinéia Zuqueto
da Silva, sobre o paradeiro de Domingão e se ele tinha
alguma terra para vender. A mulher, que não quis gravar
entrevista, respondeu ao pistoleiro que não sabia do
paradeiro do marido.
Ontem pela manhã foi ela quem atendeu o pistoleiro que usou
o mesmo argumento de que estava interessado em comprar uma
terra. Quando Domingão saiu de dentro da pequena casa de
apenas quatro cômodos, travou uma breve discussão com o
pistoleiro, que chegou a dizer que não tinha nada contra
Domingão.
Dulcinéia da Silva contou na polícia que chegou a avisar o
marido que há cerca de quatro dias aquele senhor grisalho
estava rondando a casa deles e que era para o marido tomar
cuidado. Na manhã de ontem ela chegou a dizer para Domingão
que aquela pessoa queria matá-lo.
Destemido e sem dar ouvidos à mulher, Domingão saiu de
dentro da casa para tomar satisfação com o pistoleiro. Na
calçada da humilde casa aconteceu a breve conversa entre ele
e o pistoleiro. Domingão chegou a perguntar para o
pistoleiro se ele (o pistoleiro) tinha alguma coisa contra
ele (Domingão) e que resolvesse de “homem pra homem”.
Dito isto o pistoleiro, ainda de acordo com as informações
da viúva, disse que não tinha nada contra o Domingão, mas
logo em seguida sacou uma arma de fogo e atirou no marido
dela. O primeiro tiro atingiu as costas do sindicalista.
Quando Domingão se virou, recebeu outros quatro tiros. Um
dos tiros o pistoleiro errou e foi parar na parede da casa.
A bala foi recolhida pela polícia e entregue no Centro de
Perícias Científicas (CPC).
O crime pode ter ligação com uma ocupação dentro da fazenda
Mineira, pertencente ao pecuarista Aurélio Anastácio de
Oliveira 83 anos, que foi reintegrada no mês de julho deste
ano.
Desde a reintegração que os sem-terra, liderados por
Domingão retornavam insistentemente para a área a fim de
colher legumes plantados na terra. Os retornos geravam
conflitos entre pecuaristas e sem-terra. No mês de agosto,
os sem-terra registram, por duas vezes, ocorrência
denunciando os maus-tratos sofridos pelos trabalhadores da
fazenda e que um conflito armado poderia acontecer dentro da
propriedade.
No mês de outubro um dos coordenadores da Fetagri, Manoel
Monteiro, registrou nova ocorrência dando conta que houvera
uma queima de barracos dos trabalhadores sem-terra e que os
trabalhadores da fazenda estavam armados e que tinham
ameaçado o sindicalista morto e o próprio Manoel Monteiro.
Ex-coordenador da Fetagri teme estar na lista de marcados de
morte
Um dos ex-coordenadores da Fetagri, Manoel Monteiro disse
ontem, no final da manhã, que pode ser a próxima vítima a
ser morta em Itupiranga. Ele relaciona a morte de Domingão
com a luta pela fazenda Mineira, inclusive chegou a
conversar com o sindicalista na noite anterior e pediu para
que ele se cuidasse em virtude das constantes ameaças e do
clima de tensão na região.
Manoel Monteiro disse ainda que denunciou o conflito no mês
de outubro, entretanto não houve resposta do Incra em
relação à desapropriação da fazenda. Essa resposta veio
ontem à tarde, tendo o Incra enviado documento propondo a
desapropriação da terra.
Essa proposta de desapropriação pode em tese arrefecer os
ânimos dentro dessa fazenda. Diariamente os sem-terra
invadem a fazenda, depredam, quebram cadeados, queimam
porteiras e fazem inscrições ameaçadoras.
Um bilhete mal redigido foi deixado endereçado ao pecuarista
Aurélio Anastácio de Oliveira de 83 anos. No bilhete, mal
redigido, há ameaças ao pecuarista
Ontem à tarde o pecuarista Aurélio Anastácio de Oliveira
disse não ter motivos para mandar matar ninguém e que ao
longo dos três anos de ocupação nunca maltratou nenhum
sem-terra. “Sempre procurei a justiça e não teria porque
mandar matar alguém agora”, afirma.
Disse ainda que durante todos esses anos amargou prejuízos
de cerca de R$ 800 mil e que nunca pensou em matar ninguém.
“Não tenho minha vida para perder nas mãos de sem-terra,
hoje (ontem) mesmo estive no Incra tentando negociar a
fazenda para que me deixem em paz”, comenta.
Publicado em O Liberal
21 de novembro de 2005
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