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Ampliada comissão do TJE
sobre a violência no
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Judiciário
se une a organizações civis para combater
a impunidade
no Pará
Dados
oficiais mostram que 588 crimes motivados
por questões de terra no Estado no Pará, que
foram cometidos de 1982 até hoje, estão sem
solução.
Por conta disso, uma comissão criada pelo
Tribunal de Justiça do Estado (TJE) em
âmbito interno foi ampliada ontem e passou a
contar com a participação de representantes
de sociedade civil. Se depender dos bons
resultados do primeiro encontro, os casos
que estão parados ou com trâmite demorado
terão maior agilidade.
A comissão, constituída pelo
presidente
do TJE, desembargador
Milton Nobre, é presidida
pelo desembargador
Cláudio
Montalvão das Neves e conta
ainda com
Cleverson
Rocha, da
Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB),
Girolamo Treccani e
Baltazar Sobrinho, da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI),
Vera
Lúcia Tavares, da
Sociedade de
Defesa dos Direitos Humanos
(SDDH) e Rosilene
Silva, da
Comissão
Pastoral da Terra (CPT),
além dos juízes
Edith Dias
Ribeiro e
Paulo
Jussara, que vão representar
o TJE.
Girolamo
Treccani en el lanzamiento de la
Campaña internacional de Combate
a la Violencia en el Campo en
Belém |
A primeira ação do grupo foi definir
critérios técnicos para estabelecer o
acompanhamento dos casos. Para um segundo
momento ficou a análise da lista inicial
apresentada pela
FETAGRI,
com um levantamento dos casos de 1982 para
cá, que ainda será reavaliada para, enfim, a
comissão entrar efetivamente em ação.
'Levando em consideração que depois de 20
anos o crime prescreve, a possibilidade de
punir acaba, a não ser que o culpado tenha
sido pronunciado e fugido, por exemplo.
Vamos tirar esses casos, fazer uma limpeza
para ficar só com aqueles onde dá para
efetivamente cobrar uma solução. Há casos
em que ainda não foi aberto inquério, e
desses iremos exigir da Polícia que faça o
seu papel', disse
Girolamo
Treccani, que é conselheiro
jurídico da
FETAGRI.
O juiz
Paulo
Jussara também trabalhará na
reavaliação da lista. Ele chegou a sugerir
que fosse feita a exclusão daqueles crimes
cujas investigaçõs policiais apontam para
motivações outras que não a posse da terra,
como casos de latrocínio e mortes no
trânsito, mas o argumento não foi aceito
pelos grupos ligados à defesa dos direitos
humanos
'É difícil dizer quantos iremos acompanhar.
Nesse momento é difícil aceitar qualquer
conclusão prematura. Acho que a solução é
escolher os casos sem olhar para aquilo que
pode ser o motivo real ou não do
assassinato. Essa discussão sobre motivação
para nós é muito precipitada. Esses casos
serão mantidos na lista e, se for comprovado
mesmo outras motivações, como latrocínio ou
crime passional, aí tudo bem, a gente
retira. Essa não é uma comissão política, é
técnica, e não vamos brigar por números',
avisa.
Nesse grupo estariam, por exemplo, casos
famosos como o de
Osvaldinho
Viana
de Almeida,
o 'Profeta', trabalhador rural e líder
comunitário em Afuá, assassinado em 2002 em
sua casa no que pode ter sido uma simulação
de roubo; e de
Ademir Alfeu
Federicci, conhecido como 'Dema',
coordenador do Movimento pelo
Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX),
assassinado em sua residência, em Altamira,
no oeste do Pará, em 2001, com um tiro na
boca.
Agenda
A próxima reunião da equipe será em setembro
e até lá
Edith
Ribeiro vai levantar os
casos que estão parados nas mão de
juízes. Será enviado um ofício ao Ministério
Público do Estado (MPE) para que se
manifeste nos processos em que ainda não o
fez, outro para a Secretaria Especial de
Defesa Social, para a retomada dos processos
parados, e o próprio TJE deverá informar
quando serão julgados processos que estão em
recurso.
'O sentimento de todos é que a comissão tem
uma intenção muito positiva de avançar na
discussão dessa problemática contra a
impunidade. A comissão havia sido criada no
TJE, mas entendemos, com o devido respeito,
que a sociedade tem que participar mais
efetivamente. A
FETAGRI
tem o dever de participar,
assim como outras organizações que estão
nessa discussão há muito tempo. Antes só
denunciávamos, mas agora passamos a ter
acesso mais efetivamente. A integração de
esforços é, portanto, a grande novidade',
comemora o representante da
FETAGRI.
Fonte:
www.oliberal.com.br
Publicado 28/07/2006
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