|
Violência no Campo
Relatório da CONTAG |
|
|
Neste
documento, mencionamos alguns casos mais recentes de
violência contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais que
confirmam as afirmações sobre as causas e características da
violência e reforçam a necessidade de intervenções severas e
urgentes para erradicar a violência e a impunidade no campo:
1. Ampliação
do agronegócio:
A ampliação das áreas de fronteira agrícola,
especialmente na região da Amazônia Legal, tem sido um fator
relevante para o acirramento da violência no campo. A ação
dos grileiros, madeireiros e mineradores, dentre outros,
forçam a expulsão de milhares de famílias de posseiros e de
comunidades tradicionais, além de provocarem uma elevada
degradação ambiental e não respeitarem os direitos
trabalhistas, sociais e previdenciários de trabalhadores e
trabalhadoras rurais.
A ganância do agronegócio exportador e
monocultor, além de se valer muitas vezes do
trabalho escravo, cria uma verdadeira “indústria
de despejos”, em vários casos sem mandado
judicial, expulsando famílias de posseiros e
comunidades tradicionais de suas áreas. |
A ganância do agronegócio exportador e
monocultor, além de se valer muitas vezes do trabalho
escravo, cria uma verdadeira “indústria de despejos”, em
vários casos sem mandado judicial, expulsando famílias de
posseiros e comunidades tradicionais de suas áreas. Os
despejos atingem até mesmo áreas de projetos de assentamento
criados e reconhecidos pelo INCRA. Além disso, este setor
atua impedindo as desapropriações e as regularizações de
áreas públicas que poderiam se transformar em Projetos de
Assentamento. Como exemplo destes fatos, citamos o despejo
de 162 famílias do Projeto de Assentamento Vida Nova, no
município de Peixoto de Azevedo-MT. Este assentamento foi
criado há mais de 01 ano e já recebeu vários investimentos e
a implantação de obras de infra-estrutura. Destaca-se, que
este assentamento foi criado em uma área publica do Estado,
a partir de uma Ação Reivindicatória proposta pelo INCRA.
2. Institucionalização
da Organização dos Latifundiários:
Afrontando contra as instituições e o Estado
Democrático de Direito, os latifundiários continuam se
articulando e organizando grupos, com a evidente e declarada
intenção de combater a luta pela terra e a realização da
Reforma Agrária, através da utilização de milícias privadas
e armadas.
Para exemplificar, citamos a organização de
fazendeiros da Região do Triângulo Mineiro, denominada de
UDPR (União de Defesa da Propriedade Rural),
acusada de contratar pistoleiros para realizar vários
despejos naquela região, inclusive o da Fazenda
Jacaré-Curiango, ocorrido em 19 de outubro de 2005. Neste
caso, os pistoleiros acompanhados do fazendeiro e de seu
filho, invadiram o acampamento dos trabalhadores durante a
madrugada, praticando inúmeras atrocidades contra eles,
espancando e humilhando mulheres, homens e crianças e
destruindo todos o acampamento e os pertences dos
trabalhadores.
Pistoleiros acompanhados do fazendeiro e de seu
filho, invadiram o acampamento dos trabalhadores
durante a madrugada, praticando inúmeras
atrocidades contra eles, espancando e humilhando
mulheres, homens e crianças e destruindo todos o
acampamento e os pertences dos trabalhadores.
|
É importante destacar que além da violência
física contra os trabalhadores, estas organizações adotam
estratégias de ação articulada para atuar no judiciário,
visando libertar os acusados pelos crimes e impedir as
desapropriações das terras. Além disso, estão adotando uma
nova estratégia tentando desmoralizar as lideranças e suas
organizações, “vendendo” histórias que os assassinatos
decorreram de desentendimentos entre os trabalhadores ou
pela cobrança de dívidas ou não cumprimento de contratos. No
Estado do Pará, por exemplo, nos dois últimos casos de
assassinatos, o de Domingos e de Sebastião Laurindo, os
pistoleiros presos alegaram que a morte foi em decorrência
de uma briga pela cobrança de dívida. No entanto, não havia
qualquer negócio ou contrato entre eles e as lideranças
estavam sendo constantemente ameaçadas, o que já havia sido
amplamente denunciado.
3. Omissão ou parcialidade
dos governos estaduais e do Poder Judiciário:
A ação do latifúndio e do poder econômico,
muitas vezes, é apoiada pelos órgãos dos governos estaduais
e pelo Poder Judiciário. A prática dos despejos e o amplo
apoio da polícia militar no cumprimento dos mesmos, acirra
os conflitos e provoca a violência.
Da mesma forma, a omissão e o descompromisso
em regularizar as situações de posse nas áreas públicas e
devolutas em favor dos pequenos posseiros e a conivência com
os grileiros e madeireiros, são fatores agravantes da
violência no campo.
No
Estado do Espírito Santo, a polícia militar,
além de despejar um grupo de 30 famílias que
ocuparam uma área pública, destruiu todos os
pertences do grupo, sem que o Governo do Estado
concluísse uma negociação com os trabalhadores e
suas organizações, que buscam a destinação da
área para assentamento.
|
Com exemplo, podemos citar a operação
desencadeada pela Polícia Militar no Estado do Pará, para
cumprimento de 47 liminares de despejo, após a realização de
uma reunião com representantes do setor pecuarista do
Estado. A operação contou com forte aparato bélico,
helicópteros, polícia montada, cães e 120 policiais.
Já no Estado de Mato Grosso, foi criado um
Comitê de Conflitos Agrários no Gabinete da Casa Civil do
Governador, que, na verdade vem sendo intitulado de “Comitê
de Despejos”, pois tem servido praticamente só para este
fim.
No Estado do Espírito Santo, a polícia
militar, além de despejar um grupo de 30 famílias que
ocuparam uma área pública, destruiu todos os pertences do
grupo, sem que o Governo do Estado concluísse uma negociação
com os trabalhadores e suas organizações, que buscam a
destinação da área para assentamento.
4. Lista dos Marcados para
Morrer:
Apesar de reiteradas denúncias da existência
de lista dos ameaçados de morte no Estado do Pará, esta vem
sendo confirmada a cada dia com os sucessivos assassinatos
dos marcados para morrer, sem que providências efetivas
tenham sido tomadas. O mais grave, é que além de serem
cumpridas as ameaças, a lista continua crescendo, com novos
nomes sendo agregados a ela permanentemente.
5. Conflito entre Índios e
Posseiros:
Nos Municípios de Petrolândia, Tacaratu e
Jatobá- PE, foi reconhecida uma área como pertencente aos
Índios Pankararú. Da mesma forma, no município de Glória –
BA, outra área foi reconhecida como dos Índios Pankararés.
Ambas, estavam ocupadas por pequenos posseiros. No entanto,
não houve uma ação integrada entre os órgãos do governo,
especialmente INCRA e FUNAI para promover a retirada dos não
índios da área e o seu devido reassentamento em outra
localidade. Esta realidade gera permanente situação de
tensão e insegurança entre índios e não índios, exigindo
providências imediatas.
O forte poderio econômico e político adquirido
no decorrer dos anos pela “máfia do
narcotráfico”, aliada à incapacidade de
intervenção do Estado, agrava a cada momento a
situação de violência e insegurança na região.
Os trabalhadores rurais são obrigados a se
submeter ao domínio do narcotráfico que impõe as
regras para as relações sociais e produtivas da
comunidade. |
Um outro fato, diz respeito a um grupo de 720
famílias que foram desalojadas pela construção da
Hidrelétrica de Itaparica e reassentadas pela CHESF no
Projeto de Reassentamento Pedra Branca, nos Municípios de
Curaçá e Abaré –Ba. Esta área hoje está indicada para ser
reconhecida como área indígena do povo Tumbalalá, causando,
também, uma situação de completa insegurança e tensão para a
comunidade. É importante destacar que o reassentamento foi
amplamente discutido com a comunidade, até ser implantado
pela CHESF que, para tanto, realizou investimentos de altos
vultos no local.
6. Violência provocada
pela ação do Narcotráfico:
O Município de Santa Maria da Boa Vista – PE,
foi implantado um projeto de reassentamento de 1.500
famílias deslocadas pela construção da Barragem de
Itaparica. Este projeto, originalmente denominado como
Projeto Caraíbas, passou a ser chamado de Projeto Fulgêncio,
em homenagem ao líder sindical assassinado em outubro de
1987 pela ação do narcotráfico. O forte poderio econômico e
político adquirido no decorrer dos anos pela “máfia do
narcotráfico”, aliada à incapacidade de intervenção do
Estado, agrava a cada momento a situação de violência e
insegurança na região. Os trabalhadores rurais são obrigados
a se submeter ao domínio do narcotráfico que impõe as regras
para as relações sociais e produtivas da comunidade.
7. Limitações
na ação Governamental para fazer avançar
a Reforma Agrária:
Os vários limites impostos à realização da
reforma agrária pela própria história da formação agrária
nacional e pelas opções de desenvolvimento rural adotadas no
Brasil, faz com que as ações não sejam realizadas de forma
ágil e eficazes, como exige a demanda. Os entraves
políticos, legais, jurídicos, financeiros e administrativos
submetem o INCRA à uma ação morosa e burocrática, que aliada
à falta de integração com outros órgãos governamentais, faz
com que a violência se acirre e não se resolvam situações
crônicas oriundas dos processos de ocupação das terras.
Volver
a Portada