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Relatos sobre os
conflitos agrários
e a violência no
campo |
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“A lista dos que devem morrer
é seletiva,
mas na prática os familiares
acabam sendo incluídos.”
José Pinheiro Lima
“Dedezinho”
(Assassinado em junho de 2001
juntamente com sua esposa
e seu filho em sua casa no
município de Marabá/PA)
A
violência no campo no Pará
As Polícias Civis e Militares continuam
atuando com estreita relação com os
fazendeiros.
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O atual governo do Estado do Pará é do mesmo
partido e tem adotado a mesma estratégia política do governo
anterior, principalmente, na área de segurança pública e
reforma agrária. O governador tem posições claras contra a
Reforma Agrária e à atuação dos Movimentos Sociais, em
especial o camponês. Tem deixado claro em seus discursos que
a prioridade em seu governo é a pecuária de corte e a
agricultura de exportação, dando também muito espaço para os
plantadores de soja e os madeireiros. Um dos principais
objetivos do governo do Estado, no que se refere ao campo
paraense, é conseguir da União a devolução das terras que
estão sob seu domínio (70% do território do Estado do Pará)
para o controle do Estado do Pará. A intenção com isso
titular as áreas ocupadas ilegalmente por grandes grupos
econômicos e pecuaristas. É a legalização da grilagem de
terras no Estado. Como foi eleito com apoio dos grandes
empresários e fazendeiros, a polícia – que é diretamente
vinculada do governo do Estado - continua agindo para
defender o interesse dessas classes.
Os conflitos pela posse da terra continuam
sendo tratados com a mesma forma repressiva usada pelo
governo anterior. Os fazendeiros têm intensificado a sua
articulação e mobilização e continuam utilizando a violência
como forma de barrar a Reforma Agrária. Estão sendo
encaminhadas ações judiciais para conseguir despejos de
famílias, prisões, multiplicação dos pistoleiros e milícias
privadas, assassinatos e ameaças de morte. As Polícias Civis
e Militares continuam atuando com estreita relação com os
fazendeiros.
Milícias particulares
No que diz respeito à ação de particulares,
cabe destacar um fato revelador ocorrido neste ano na
região. Trata-se da detenção, em 21 de setembro último, de
empregados da fazenda Reunidas, cuja propriedade é atribuída
ao Sr. Angelo Calmon de Sá, ex-dono do Banco Econômico,
supostamente falido. Os referidos empregados levavam nos
carros armamento de grosso calibre, e não exibiram qualquer
constrangimento em admitir que o arsenal pertencia à
fazenda, tendo mesmo confessado que havia mais armas pesadas
na propriedade. Levados à delegacia policial, um dos detidos
mostrou um cartão personalizado do delegado-geral de Polícia
Civil do Estado do Pará, e disse, na presença de testemunhas
“este é o homem que vai nos ajudar”. O fato é que os dois
detidos foram soltos no mesmo dia e, suspeita-se, sem que o
devido flagrante tenha sido lavrado.
“Marcados para morrer”
O fenômeno das listas dos
“marcados para morrer” é uma das
características mais cruéis da violência
na região Sul e Sudeste do Pará. Essa
lista circula na região não raro
acompanhada de tabela de preços de
execuções, diferenciando os valores de
acordo com a posição social do ameaçado.
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Especialmente preocupantes foram os relatos
sobre a atuação no Sudeste do Pará de empresas de vigilância
cujo comportamento e finalidade são os da velha pistolagem,
só que, agora, organizada em moldes empresariais “modernos”.
As autoridades estaduais do Pará já receberam denúncias
sobre a atuação da Empresa de Segurança Marca, com sede no
Conjunto Guajará 1, WE 63, nº 2002, em Ananindeua-PA. Cerca
de 10 empregados dessa “firma”, no dia 19 de julho de 2001,
sob o comando do Sr. Nazareno Ribeiro, que se identificou
como “o diabo”, balearam o Sr. Carlos Pereira Teles, no
povoado Fogão Queimado, no município de Bannach. Carlos
Teles, que não tinha armas nem ofereceu resistência, estava
a 15 km. da fazenda da família Bannach, que contratara a
Marca. Essa fazenda tinha sido palco de um violento despejo
feito pela polícia dias antes. A expulsão dos sem-terra pela
polícia foi concluída por essa “firma”, que passou a
promover um clima de terror em todo o município. Além de
usurpar funções públicas policiais, promovendo blitzen em
rodovias, interpelando e exigindo documentos a cidadãos fora
da área da fazenda da família que a contratou, a “firma”
seqüestrou, espancou e torturou pessoas, segundo diversos
testemunhos recolhidos pela CPT.
Outras vítimas dessa empresa de pistolagem
foram o Sr. Raimundo Rodrigues Silva e o Sr. Benedito de
Jesus Nascimento, que estavam desarmados, pescando, e que
também não ofereceram resistência. Depois de espancados e
torturados pelos pistoleiros da Marca, que ainda tentaram
fazer o Sr. Raimundo engolir cartucho de fuzil, foram
amarrados e jogados como porcos sobre uma carroceria de
camioneta e levados até a delegacia de Xinguara, distante
mais de 100 km. Lá o Sr. Raimundo foi preso pelo delegado
porque havia participado de ocupação de terra, enquanto o
Sr. Benedito, que não estava envolvido em ocupação e,
portando não era procurado, foi hospitalizado por dois dias
em Rio Maria com ferimentos sérios, sem conseqüências parra
os agressores.
Outro cidadão de Bannach foi baleado numa
estrada perto da cidade, deixado como morto, sua moto
queimada, enquanto seu companheiro conseguia fugir sob
intenso tiroteio. Esse cidadão, pai de família com três
filhos pequenos, ficará deficiente físico pelo resto da
vida. Ele não tinha qualquer relação com conflitos de terra.
A polícia nada fez para apurar o caso.
Um contundente depoimento ouvido pela
delegação foi o do filho de José Pinheiro Lima (Dedé),
executado junto com a esposa e o filho caçula de 15 anos,
numa demonstração da certeza da impunidade dos assassinos de
trabalhadores rurais. O jovem Ednaldo, que trazia nas mãos
um cartaz com fotos da família morta, não tem dúvidas sobre
quem matou seus familiares. “O fazendeiro Joãozinho, que
agora passa por mim na rua e zomba da minha cara”. Ednaldo
já recebeu chamada anônima para o telefone público perto da
casa dele com ameaça de morte. Ednaldo afirmou que a morte
de seu pai poderia ter sido evitada. “A Polícia Federal
avisou a Secretaria de Segurança Pública do Pará quatro
meses antes, e ela nada fez. Não avisou a ninguém, nem a meu
pai, nem ao movimento”.
Salta aos olhos a desigualdade de tratamento:
enquanto os pistoleiros da Marca – mesmo após inúmeras
solicitações de prefeitos, vereadores, deputados e outras
autoridades públicas – não têm seus crimes apurados e
continuam a agir com impunidade; não faltam dispendiosos
recursos para proceder às violentas diligências contra os
trabalhadores que ocupam lotes improdutivos. Se há
conivência, como os fatos objetivos parecem corroborar –
cabe ao poder público investigar, caso a caso.
Lamentavelmente, isso não tem sido feito, alimentando assim
as generalizadas suspeitas e o descrédito na instituição
policial e na Justiça.
“Marcados para morrer”
O fenômeno das listas dos “marcados para
morrer” é uma das características mais cruéis da violência
na região Sul e Sudeste do Pará. Essa lista circula na
região não raro acompanhada de tabela de preços de
execuções, diferenciando os valores de acordo com a posição
social do ameaçado. Na lista a que a Delegação teve acesso
em 04 de outubro de 2001 havia 24 nomes:
|
NOME DA VÍTIMA
|
CATEGORIA |
MUNICÍPIO
|
1 |
Adernai Gemaque Leal
|
Agente da CPT |
Porto de Moz
|
2 |
Alenquer |
STR |
Castelo dos Sonhos |
3 |
Antônio Gomes
|
Presidente de STR |
Marabá
|
4 |
Benedito Freire
|
Liderança |
Altamira/ Bannach/
Ourilândia |
5 |
Carmelita Felix da Silva
|
Diretora do STR de
Parauapebas |
Parauapebas
|
6 |
Cícero Pinto da Cruz
|
Testemunha assassinato
Ir. Dorothy |
Anapu |
7 |
Cordiolino José de
Andrade |
Diretor do Sindicato |
Rondon do Pará
|
8 |
Denivaldo
|
STR |
Pacajá |
9 |
Dionísio Pereira
|
Liderança |
Altamira/ Bannach/
Ourilândia |
10 |
Domingos |
FETAGRI Regional Sul |
Redenção |
11 |
Ednalva Rodrigues Araújo
|
Liderança |
Parauapebas
|
12 |
Filhos de José Agrício
|
Posseiro |
São Félix do Xingu
|
13 |
Francisco "Indio"
|
Liderança |
Parauapebas
|
14 |
Francisco de Assis dos
Santos Souza |
Presidente do STR de
Anapu |
Anapu |
15 |
Francisco de Assis
Solidade da Costa |
Coordenador FETAGRI
Regionall |
São Domingos do Araguaia |
16 |
Gabriel de Moura
|
Vice-presidente do STR de
Anapu |
Anapu |
17 |
Genival Soares dos Santos
|
Liderança |
Paragominas
|
18 |
Geraldo José da Silva
|
Liderança |
Nova Ipixuna
|
19 |
Geraldo Margela de
Almeida Filho |
Técnico agrícola |
Anapu |
20 |
Geraldo Soares Fernandes
|
Diretor do Sindicato |
Rondon do Pará
|
21 |
Gilson José da Silva
|
Posseiro |
São Félix do Xingu
|
22 |
Henri Burin de Roziers |
Agente da CPT |
Xinguara
|
23 |
Idalino Nunes Assis
|
Presidente do STR de
Porto de Moz |
Porto de Moz
|
24 |
Irmã Dorothy Stang *
|
Agente pastoral |
São Félix do Xingu/ Anapu
|
25 |
Ivan |
STR |
Itaituba |
26 |
Ivanilde Maria Prestes
Alves |
Trabalhador Rural |
Novo Progresso
|
27 |
J. L. S. (53 anos).
|
Testemunha assassinato
Ir. Dorothy |
Anapu |
28 |
José Agrício da Silva
|
Posseiro |
São Félix do Xingu
|
29 |
José Soares de Brito
|
Presidente de STR |
Abel Figueredo
|
30 |
Luiz Vieira Rodrigues
|
Liderança |
Parauapebas
|
31 |
Maria de Fátima Moreira
|
Irmã de vítima |
Altamira
|
32 |
Maria do Espírito Santo
|
Presidente da Associação |
Nova Ipixuna
|
33 |
Maria Ivete Bastos |
STR |
Santarém |
34 |
Maria Joel Dias da Costa
|
Presidente de STR |
Rondon do Pará
|
35 |
Paula |
Sindicato de
Trabalhadores Rurais |
Tomé Açu |
36 |
Pe. Amaro Lopes de Souza
|
Agente de pastoral |
Anapu |
37 |
Raimundinho
|
Liderança |
Paragominas
|
38 |
Raimundo Deumiro de Lima
dos Santos |
Liderança |
Altamira/ Bannach/
Ourilândia |
39 |
Raimundo Nonato Costa
Silva "Italiano" |
Liderança |
Parauapebas
|
40 |
Raimundo Nonato dos
Santos –“Índio” |
Liderança do MST |
Castanhal
|
41 |
Raimundo Pereira do
Nascimento |
Liderança |
Altamira/ Bannach/
Ourilândia |
42 |
Raimundo Vicente da Silva
|
Posseiro |
São Félix do Xingu
|
43 |
Sandra Barbosa Sena
|
Acampada |
Parauapebas
|
44 |
Tereza Ferreira da Silva
|
Posseiro |
São Félix do Xingu
|
45 |
Valdir |
Presidente STR |
Tailândia |
46 |
Vereador Badé |
STR |
Prainha |
|
“Só há retiradas de nomes quando há mortes”,
diz um representante da FETAGRI, sobre a lista macabra. O
governo estadual parece não dar importância ao problema.
Pelo menos é essa a impressão que passa aos movimentos
sociais que atuam na região. Segundo interlocutores desses
movimentos com autoridades públicas do Pará, a concepção
predominante entre a autoridades estadual é que “ocupar
terras é atividade de risco e o Estado nada pode fazer, o
risco é dos trabalhadores”. As execuções de lideranças de
trabalhadores rurais e aliados é precedida de ameaças, que
acabam se cumprindo. A tática da intimidação parece ser
utilizada tanto para desestimular lideranças como para
advertir os trabalhadores e a sociedade em geral, criando um
clima de medo. A intimidação também atinge juízes e
promotores. Segundo um advogado ouvido em Marabá, em razão
das ameaças, “juiz independente fica pouco tempo nessa
comarca”.
A concepção predominante
entre a autoridades estadual é que
“ocupar terras é atividade de risco e o
Estado nada pode fazer, o risco é dos
trabalhadores”. As execuções de
lideranças de trabalhadores rurais e
aliados é precedida de ameaças, que
acabam se cumprindo.
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José Brito, presidente do Sindicato de
Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, está deixando a
região para não morrer. “Pelo menos dez fazendeiros estão me
ameaçando. Eles dizem que lá eu sou a bola da vez. Apesar de
ter registrado queixa na delegacia, nunca fui chamado para
prestar depoimento”. Brito declarou que a razão de tudo isso
é que ele luta pela vida. “E quem luta pela vida aqui tem
sua própria vida ameaçada”.
O nome de Antônio Rodrigues de Souza, diretor
do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Parauapebas, faz
parte da lista dos ameaçados de morte. “Tenho mais medo da
policia do que outra coisa. Às vezes, recebo três
telefonemas por dia de fazendeiros me ameaçando de morte”.
Antônio afirma que denunciou as ameaças ao secretário de
Defesa Social, Paulo Sette Câmara, mas até agora nada foi
feito para protegê-lo.
Sebastião Rodrigues, que se encontra
ameaçado, denunciou o delegado Aquino, que no dia 18 de maio
deste ano, acompanhado de fazendeiros e pistoleiros, sem
mandado judicial, chegou à fazenda Talimã/Remanso, em
Marabá, para desocupar a área. Foi destruída toda a
plantação de milho, arroz e mandioca às vésperas da
colheita. Cinqüenta famílias foram expulsas e quatro prisões
efetuadas. “A acusação é a de sempre: formação de quadrilha,
que não admite fiança, e esbulho possessório”. Apesar disso,
fomos soltos depois do pagar R$ 400 ao delegado. Hoje a área
vem sendo destruída pela retirada de castanheiras.
Presente à audiência pública, a
delegada-regional da Polícia Civil, Dra. Elisete Cardoso,
anunciou que afastaria os policiais responsáveis por
irregularidades.
No momento em que os membros da delegação
regressávamos do Pará para o conforto de nossos lares,
soubemos que mais um líder de trabalhadores rurais era
assassinado, em Marabá, com um tiro no rosto. Gilson de
Souza Lima, 32 anos, é o oitavo trabalhador rural a ser
morto este ano. Um gerente de fazenda era o principal
suspeito do homicídio.
As Mortes mais recentes no
estado do Pará
Um levantamento divulgado pela CPT (Comissão
Pastoral da Terra) revela que 30 pessoas foram mortas em
conflitos no campo desde o início do ano até novembro. No
mesmo período em 2004 foram registradas 27 mortes, segundo a
CPT.
Das 30 mortes contabilizadas pela CPT, o Pará
foi responsável por 53% (16). Depois, aparecem o Mato Grosso
(3), Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão (duas
mortes em cada Estado). O assassinato que mais chamou a
atenção, de acordo com a CPT, foi o da missionária Dorothy
Stang, em Anapu (PA), em fevereiro. Naturalizada brasileira,
Dorothy, que nasceu nos EUA, foi morta a tiros em uma
emboscada. Os líderes sindicais Daniel Soares, “Antônio do
Alho”, Domingão, e Pedro foram assassinados na região
Sudeste do Estado, com característica de crime de encomenda,
os dois últimos em apenas duas semanas do mês de novembro.
O levantamento da CPT registra também 27
tentativas de assassinato, 114 ameaças de morte, 2 pessoas
torturadas, 52 agredidas fisicamente, 144 presas e 80
feridas. Ainda segundo a CPT, de janeiro a agosto foram
registrados 794 conflitos no campo envolvendo 615.260
pessoas, uma redução de 44% em relação ao mesmo período de
2004. As 257 novas ocupações ocorridas no período envolveram
31 mil famílias.
O problema da Impunidade
Um levantamento divulgado
pela CPT (Comissão Pastoral da Terra)
revela que 30 pessoas foram mortas em
conflitos no campo desde o início do ano
até novembro. No mesmo período em 2004
foram registradas 27 mortes, segundo a
CPT. Das 30 mortes contabilizadas pela
CPT, o Pará foi responsável por 53%
(16).
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Apesar de continuar mantendo uma postura
conservadora sobre as questões sociais, em especial, sobre a
questão da reforma agrária e atuação dos Movimentos Sociais
do campo, as pressões nacionais e internacionais, sobre o
Judiciário paraense, principalmente, após o massacre de
Eldorado dos Carajás, tem provocado algumas mudanças sutis
nesse poder. Comparando com anos anteriores, há hoje mais
abertura para o diálogo, algumas decisões têm sido dadas
sobre temas agrários, acompanhando teses mais avançadas de
outros Tribunais do país.
O Tribunal Internacional dos Crimes do
Latifúndio, realizado em Belém no ano de 2003, forçou o
Tribunal a fazer um levantamento da situação de todas as
chacinas já ocorridas no Pará contra trabalhadores e que
permanecem impunes. As Varas Agrárias foram implantadas em
04 regiões do Estado (Marabá, Altamira, Castanhal e
Santarém), mas, seu funcionamento tem sido comprometido
devido não ter sido definida sua competência criminal.
Muitos juizes não têm qualificação para atuar nesse tema
especifico e outros se negam a assumir a função devido às
pressões.
Muitos assassinatos de lideranças importantes
ocorridos no estado, as quais pautaram sua atuação pela
defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores rurais,
continuam impunes: Gabriel Pimenta, advogado (05.06.1982),
Irmã Adelaide Molinari, religiosa católica (02.05.1985),
Arnaldo Delcídio Ferreira, dirigente sindical (02.05.1993),
Antônio Teles, dirigente sindical e esposa, Alcina Gomes
(12.10.1994), Massacre de Eldorado dos Carajás (17.04.1996),
apenas os dois comandantes da operação foram condenados e
presos, Onalício Araújo Barros e Valentim Serra, dirigentes
do MST (26.03.1998), Francisco Euclides de Paula, dirigente
sindical (20.05.1999), José Dutra da Costa, dirigente
sindical (22.11.2000), José Pinheiro Lima, esposa e filho
(10.07.2001), Ribamar Francisco dos Santos (07.02.2004),
Regiane Guimarães, assassinada dentro de sua casa 1996; Dema,
assassinado em Altarmira 2002; Bartolomeu Moraes da Silva
(Brasília) assassinado - 2002.
Crescimento do Trabalho
Escravo
Um outro problema social grave enfrentado no
estado é o trabalho escravo. Muitos trabalhadores, vindos em
grande quantidade do nordeste, em especial dos estados do
Maranhão, Tocantins e Piauí, são levados para o interior das
fazendas para fazer serviço de derrubada da floresta para
abertura de novas fazendas, manutenção de pastos já
existentes e construção de cercas. Tentando fugir das
responsabilidades trabalhistas, os fazendeiros criaram a
figura dos “gatos”, ou seja, pessoas que se deslocam para os
Estados mais pobres, geralmente do nordeste, para contratar
trabalhadores para os serviços de empreitadas nas fazendas.
Começa aí o círculo criminoso do trabalho escravo. Nas
fazendas, geograficamente isoladas, e endividados pelas
compras na cantina do “gato”, sem liberdade para poder sair,
milhares de trabalhadores se tornam vítimas e são obrigados
a trabalhar como escravos. Muitos, ao tentar fugir, acabam
sendo espancados e, em muitos casos, assassinados.
Essa situação de total desrespeito aos
direitos humanos persiste na atualidade e a situação tem se
agravado nos últimos anos. As denúncias de trabalho escravo
chegam aos escritórios da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
de Marabá, através dos fugitivos das fazendas, elas são
formalizadas e encaminhadas ao Grupo Móvel do Ministério do
Trabalho e Emprego que se deslocam até as fazendas para
efetuar o pagamento e fazer a retirada dos trabalhadores. O
número real dos envolvidos não é conhecido. Tem-se acesso
apenas às informações dos que, obtendo sucesso na fuga, têm
coragem de denunciar. Em 2003 e 2004 têm ocorrido prisões
temporárias de fazendeiros; condenações pecuniárias pela
justiça do trabalho; publicação da “lista suja” de fazendas
flagradas com prática de trabalho escravo, as quais serão
proibidas de receber financiamento público. Mas, a
impunidade em relação aos infratores ainda é a regra geral.
Além da punição, o esforço do governo seria mais
significativo com a implementação de políticas públicas, em
especial a reforma agrária.
Recomendações e
propostas
1) Aos
Governos Federal e Estadual do Pará, Ministérios
Públicos Federal e Estadual, a providência que
nos pareceu mais urgente, e que deve ter início
imediato, é a formação de uma força-tarefa
composta pela Polícia Civil e Polícia Federal,
coordenada em conjunto pelo Ministério Público
Federal e o Ministério Público do Estado do
Pará. Seu objetivo seria atuar no âmbito das
competências legais de cada instituição no
sentido de combater a impunidade, desmantelar a
rede criminosa no Sudeste e Sul, inclusive
reprimindo as milícias particulares baseadas em
fazendas da região.
2) Ao
Tribunal de Justiça do Estado do Pará, apelo
para que remova dificuldades que estão impedindo
o andamento dos processos contra acusados de
assassinatos, ameaças de morte e agressões a
trabalhadores rurais. Nesse sentido, promover os
julgamentos de processos judiciais sobre
assassinatos em que falta pouco para sua
conclusão, como são os casos das mortes de João
Canuto (morto em 1985), caso chacina em Ubá
(1985), Massacre de Eldorado do Carajás (1996).
Outros processos criminais e inquéritos que
encontram-se atualmente paralisados, como os
relacionados a José Dutra da Costa (morto em
2000), Onalício Araújo Barros e Valentim Serra
(1998), José Pinheiro Lima, Cleonice Campos e
Samuel Campos (2001). Igualmente, apelamos no
sentido de que sejam cumpridos, em prazo
razoável, os diversos mandados de prisão
referentes a crimes cometidos contra
trabalhadores rurais.
3) Ao
Tribunal de Justiça do Estado do Pará e ao
Congresso Nacional, para rever critérios para a
emissão, por juízes, de medidas liminares
determinando desocupações forçadas. A chamada
“indústria de liminares” tem favorecido o
latifúndio improdutivo e estimulado a violência.
Nesse sentido, foram colhidas duas propostas. A
primeira é de atuar ao Congresso Nacional para
aprovar, com celeridade, projeto de lei que
estabelece critérios para as liminares,
obrigando o juiz inclusive a consultar órgão
fundiário para avaliar a situação da terra. A
segunda é recomendar aos juízes, por intermédio
do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, que se
abstenham de conceder liminares sem ouvir o
Ministério Público e organizações da sociedade
civil que conhecem os problemas agrários
regionais, evitando tragédias.
4) Ao
Governo do Estado do Pará, prover, quando
necessária, proteção a juízes e promotores,
constantes alvos de ameças, garantindo-se a
incolumidade dos mesmos e a prestação dos
serviços por eles prestados. Dotar os serviços
de segurança pública das condições mínimas de
funcionamento, com recursos humanos e materiais
nas delegacias, treinamento adequado compatíveis
com a demanda no Estado, permitindo a apuração
dos crimes impunes e o estabelecimento da
credibilidade da segurança pública no Estado.
5) Ao
Governo do Estado do Pará, para prover a região
de mais serviços sociais, incluindo política
urbana que, no seu conjunto, contribuam para
atenuar a cultura da violência.
6) Ao
Ministério do Desenvolvimento Agrário, requerer
cadastro das propriedades rurais da região,
informações sobre as desapropriações, para
reforma agrária, de áreas griladas, bem como
sobre as condições necessárias para a
incorporação mais rápida de áreas maiores para a
reforma agrária.
7) Ao
Ministro da Justiça e ao Ministro do
Desenvolvimento Agrário, apelar no sentido de
que o Governo Federal restabeleça canais de
diálogo entre o movimento social e o Ministério
do Desenvolvimento Agrário e o INCRA. Membros da
delegação tentarão, nesse sentido, abrir canal
de diálogo direto entre o Ministro do
Desenvolvimento Agrário e o presidente do INCRA
com as entidades do movimento social da região
Sul do Pará, no sentido de pacificar a região,
acelerando o processo de reforma agrária.
8) Ao
Ministério do Trabalho, requerimento de
informações sobre a aplicação de multas aos
responsáveis por flagrantes de trabalho escravo
no país e na região Sul do Pará, incluindo
cruzamento de dados sobre aplicação e cobrança
dessas multas; critérios que orientam a renúncia
na cobrança de multas ou redução de seus
valores; destino de outras ações de natureza
criminal contra os acusados; dados sobre
recursos destinados às operações do Grupo
Especial de Repressão e Fiscalização ao Trabalho
Escravo, no país e no Sul do Pará; bem como
explicações sobre a ampliação do espaço de tempo
entre denúncias e suas verificações.
9) Ao
Ministério da Justiça, solicitar que determine à
Polícia Federal que efetue prisões de autores de
crimes como homicídios e trabalho escravo, de
modo a demonstrar compromisso do Governo Federal
em coibir o crime na região, contribuindo assim
para desencorajar novos assassinatos.
10) Ao
Ouvidor-Geral da Reforma Agrária, Gersino da
Silva Filho, solicitar-lhe um parecer sobre o
impacto da atuação das empresas privadas de
segurança que atuam a serviço de fazendas na
política agrária e na política de direitos
humanos vigente no país.
11) À
Mesa da Câmara dos Deputados, solicitar a
realização de uma sessão de comissão geral para
debater e propor ações contra a violência,
convidando a participar representantes do poder
público, da sociedade civil e dos movimentos
sociais da região Sul do Pará.
12) Ao
Tribunal de Justiça do Estado do Pará, Tribunal
Federal Regional da 1ª Região, Ministério
Público Federal e Estadual, Ouvidor Agrário
Nacional, propor a realização de um evento para
o qual seriam convidados juízes que atuam na
região para o debate sobre os procedimentos
judiciais para a realização de despejos de
trabalhadores rurais.
13) Ao
relator da proposta de emenda à Constituição
sobre a reforma do Judiciário, senador Bernardo
Cabral, solicitar-lhe celeridade no processo de
votação do ítem da PEC referente à federalização
dos crimes contra os direitos humanos, tendo em
vista a relevância da medida para o
enfrentamento da violência e da impunidade.
14) Ao
Congresso Nacional, ao Ministério da Justiça,
Ministério do Trabalho e Ministério Público
Federal, solicitar atuação no sentido da
agilização e aprovação de projeto que determina
o confisco de terras onde houver trabalho
escravo, a exemplo das terras ocupadas com
plantações de substâncias narcóticas.
15) Criação
de um grupo de trabalho formado pelo Ministério
Público Federal, Ministério Público Estadual,
OAB, Comissão dos Direitos Humanos, Ministério
da Justiça, Polícia Federal; para desenvolver
uma campanha de combate a violência no campo.
|
Dirección de la CONTAG
22 de noviembre de 2005
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