VIOLÊNCIA
Trabalhadores rurais reforçam o coro contra a impunidade
e
cobram providências da Justiça e do Governo do Estado
Velas, flores e luto
marcaram o lançamento estadual da Campanha Internacional Contra a Violência
no Campo no Brasil, ontem (30), no Hotel Sagres, em Belém. Organizado pela
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Fetagri) no Pará
juntamente com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag),
a campanha faz parte da programação do “Grito da Terra 2006” que promove em
todo país uma série de seminários e atos públicos para debater e cobrar, dos
poderes Executivo e Judiciário, empenho na questão agrária.
“A campanha já foi lançada nacionalmente em fevereiro deste ano, em Porto
Alegre. Mas como o Pará é o principal palco da violência no campo em todo
país, resolvemos intensificar a cobrança regional na apuração dos
assassinatos por disputa da terra, no combate à grilagem e na aceleração da
reforma agrária”, explicou Carlos Augusto Santos Silva, presidente da
Fetagri. Ainda segundo a liderança, a ação, que vem sendo viabilizada há um
ano e meio, terá como meios de conscientização de documentários que mostram
casos como o do assassinato do sindicalista José Dutra da Silva, o “Dezinho”,
sindicalista de Rondon do Pará, que foi perseguido e executado em 2000, na
porta da própria casa, em frente aos filhos.
A esposa de Dezinho, Maria Joelma Dias Costa, 42 anos, que assumiu o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, depois da morte do
marido, marcou presença na cerimônia. Ela é uma das dezenas de lideranças
rurais no Pará que estão na lista de ameaçados de morte. “São anos da morte
do Dezinho, e pouco mudou. Mandante, pistoleiro, intermediário, todos ainda
não foram nem julgados. A morosidade do Judiciário reforça a impunidade”,
declara Maria Joelma que recebe 24 horas por dia segurança de dois policiais
militares. No momento, Joelma espera a resposta do desaforamento do caso,
para trazer o julgamento para Belém.
Mais de 600 pessoas oriundas de todas as regiões do Pará estiveram presentes
ao evento. Entre os pequenos produtores, assentados e lideranças sindicais
presentes estavam diversas. Do seminário que iniciou ontem, termina hoje,
sairá uma nova pauta de reivindicações para o Judiciário e para o Governo do
Estado. Para o Tribunal de Justiça do Estado (TJE) será cobrado o andamento
dos 109 processos identificados que envolvem crimes por disputa da terra, a
necessidade de ampliar as varas agrárias no Estado e o combate à grilagem.
Para o governo, a agenda quer, dentre outras coisas, investimentos em infra-estrutura
para os assentamentos e a liberação de terras públicas para reforma agrária.
Márcio
Baena
Jornal
do Pará
31 de
maio de 2006