Hotel serviu
de “entreposto” de trabalhadores rurais cedidos a fazendeiros em troca do
pagamento de suas dívidas. Vários eram “devolvidos” e “revendidos”, segundo
apurou a Polícia Federal
O
Ministério Público Federal no Pará denunciou à Justiça Federal cinco
acusados por um esquema de compra e venda de trabalhadores para fazendas da
região nordeste do Pará, que funcionava em um hotel de Paragominas, o Hotel
Pioneiro do Milton, de propriedade de Milton Maciel da Costa. Eles vão
responder pelos crimes de formação de quadrilha, redução à condição análoga
à de escravo e atentado contra a liberdade do trabalho, e podem ser
condenados a até oito anos de prisão e multa.
A denúncia
tramita na 3ª Vara da Justiça Federal em Belém, sob responsabilidade do juiz
Rubens Rollo de Oliveira. De acordo com a denúncia do MPF, assinada pelo
procurador Alexandre Silva Soares, os trabalhadores vinham do Maranhão,
Piauí e Ceará e se hospedavam no hotel, onde iam acumulando dívidas de
diárias e alimentação.
"Quando o
agenciador de trabalhadores rurais precisava de mão-de-obra, dirigia-se à
pousada, pagava os débitos do 'empregado' escolhido e levava a pessoa para o
local de trabalho. Caso os gestores do negócio rural não gostassem dos
serviços prestados pelo trabalhador rural, era a pessoa devolvida ao hotel
para ser posteriormente encaminhada a outro empregador", relata a denúncia.
O esquema
foi descoberto graças à investigação da Polícia Federal, após a libertação
de trabalhadores escravos na fazenda Colônia, em Ulianópolis, de propriedade
de Isaac Aguiar. A PF abriu inquérito e descobriu que Aguiar arregimentava
os escravos no Hotel. Eles eram escolhidos pelos "gatos" (aliciadores de
trabalhadores rurais) Raimundo Oliveira e Claudio da Silva Fernandes. Na
investigação, Milton confessou a prática criminosa de restringir a liberdade
de locomoção e trabalho dos empregados por meio das dívidas. Várias
testemunhas ouvidas também confirmaram os fatos.
Além de
Isaac Aguiar, dono da fazenda, dos "gatos" Raimundo Oliveira e Claudio
Fernandes, do dono do hotel Milton Maciel, também foi denunciado Valdir
Ferreira de Souza, gerente da fazenda Colônia, que intermediava a negociação
entre os aliciadores e o fazendeiro e era responsável por coagir os
trabalhadores mantidos como escravos.
"Sob
barracos erigidos com lonas e toras de madeiras, abrigavam-se trabalhadores
aliciados para desenvolver atividade de roço de juquira e construção de
cerca. Não tinham acesso a instalações sanitárias, faziam suas necessidades
fisiológicas no mato, aconchegavam-se no chão batido, sem qualquer proteção
contra as intempéries, assujeitados à chuva e a animais peçonhentos. Comiam
sentados no chão, em desprezo a noções mínimas de higiene. Combatiam a sede
com a água retirada do Rio Capim, que também servia para o preparo das
refeições e o asseio", descreve a denúncia do MPF sobre a situação em que os
acusados colocaram os trabalhadores.
Carta
Maior
16 de janeiro
de 2007
As informações são do Ministério Público
Federal no Pará