O
seringueiro Osmarino Amâncio Rodrigues, considerado
um dos sucessores do sindicalista Chico Mendes, está
se sentindo ameaçado por se opor ao manejo
madeireiro comunitário na Reseva Extrativista Chico
Mendes.
A casa dele foi invadida e destruída, mas a polícia
do Acre não avançou nas investigações após um mês.
-Voltei a sentir medo no Acre, assim como sentia
quando lutava com Chico Mendes - disse o
seringueiro. De Brasiléia, por telefone, Osmarino
Amâncio Rodrigues conversou com a reportagem.
-Por que você se diz ameaçado de morte no Acre?
-É por causa da questão da madeira. A minha casa,
no seringal Humaitá, colocação Pega Fogo, lá na
Reserva Chico Mendes, foi invadida e destruída
completamente. Minha dormida, meus utensílios,
motosserra, furadeira de estaca, roçadeira. Era o
meu patrimônio de trabalho do dia a dia. Não foi
roubo. Alguém decidiu destruir mesmo, uma
covardia. Se existe divergência de idéias, ninguém
pode ser vítima desse tipo de vandalismo por pensar
diferente.
-Mas quem teria destruído a sua casa? Foi gente
mesmo de dentro da Reserva Chico Mendes?
-Não, não foi. Uma pessoa contou que chegaram
homens de moto. Eu estou fazendo reunião em tudo
que é lugar. Eu sou contra o manejo madeireiro e
vou trabalhar até as últimas conseqüências. Por
causa dessa luta, não tenho parado no meu lugar, na
minha casa. Nos últimos meses estive envolvido na
disputa pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Xapuri, fazendo campanhas de alerta contra o projeto
de manejo comunitário de madeira. Em Brasiléia
estou orientando que as pessoas dos seringais não
assinem os contratos de manejo comunitário de
madeira. O governo estadual está orientando os
seringueiros a aceitarem o manejo de madeira. Essa
é uma política do governo. O manejo comunitário de
madeira no Estado está atingindo uma proporção
insuportável. É matéria-prima. Sou contra. Temos
que trabalhar em defesa da agregação de valor e não
apenas exportar matéria-prima.
-Então você acha que a destruição de sua casa está
relacionada à sua resistência ao manejo comunitário
de madeira?
-O que é fato hoje é que a ambição em torno de
madeira está muito maior do que na época do
latifúndio, quando Chico Mendes liderava a
resistência dos seringueiros. É muito brutal a
política governamental de mercantilização da
região. A situação vai se acirrar muito mais.
Todos sabem que aqui já usaram o método da
pistolagem. Agora talvez estejam apenas começando o
terror psicológico com a destruição da casa, da
estrutura de alguém que se opõe. Na semana passada,
o governo do Acre retirou o programa do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Xapuri do ar. Retirou
porque o candidato que apoiava foi derrotado. Está
havendo caça às bruxas daqueles que pensam diferente
da política governamental. Tudo está sendo feito de
maneira muito bem premedita
-A
destruição de sua casa foi comunicada à polícia?
-Sim. A meu pedido, a polícia registrou um boletim
de ocorrência. A polícia técnica compareceu ao
local e fez fotos. Tenho que registrar porque meu
medo é que aconteça de encontrar esses vândalos em
minha casa. Voltei a sentir medo no Acre, assim
como sentia quando lutava com Chico Mendes.
Além disso, a situação dos seringueiros permanece
sem alternativa. O governo deu ordem pra gente não
botar mais roçado de subsistência, isto é,
praticamente não fazer mais nada dentro da reserva.
Estão tirando a reserva da gente, mas não nos dão
uma outra alternativa de sobrevivência. Não tem
dinheiro pra comprar borracha e só se pode vender
300 quilos por ano. O quilo da borracha custa R$
3,50, mas ninguém tem dinheiro para comprar.
-Grato pelas informações, Osmarino.
-Eu quero acrescentar algo. Não foi a primeira vez
que destruíram minha casa. Na outra vez, quando eu
disputava a associação da reserva, também destruíram
tudo o que havia em minha casa. Decidi que vou
começar a registrar porque não sei quando isso vai
parar. Não vou recuar. Não recuei quando os
fazendeiros dominavam tudo e mandavam matar qualquer
um por qualquer coisa. Não vou parar agora, no
momento que dizem que vigora a democracia.
Altino Machado
Amazonia.org.br
13 de julho de 2009
|