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Reflexos Do Câmbio

Dólar barato afeta mercado de trabalho, e geração de emprego cai

Câmbio prejudicou empresas, que contrataram menos em 2006. Ministério do Trabalho culpa juros do BC por enxurrada de dólares. Isenção dada pela Fazenda a estrangeiros também atraiu moeda americana. Governo busca soluções.
 

A criação de empregos com carteira assinada no ano passado foi menor do que em 2005, porque o valor médio do dólar caiu, quando calculado em reais, atrapalhando as vendas das empresas dentro e fora do país e reduzindo a necessidade delas de reforçar a produção com mais trabalhadores. O número de empregos subiu 4,7%, com a abertura de 1.228.686 vagas, 25 mil a menos do que no ano anterior, quando o crescimento fora de 5%. Foi o segundo pior resultado do primeiro mandato do presidente Lula – só ganhou de 2003.

 

Para o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que divulgou os dados nesta quarta-feira (7), o desempenho de 2006 foi “razoável”. Segundo ele, o mercado de trabalho está sendo afetado pelo câmbio, e a culpa seria do Banco Central (BC). Ao manter a taxa de juros alta muito alta e no maior patamar do mundo, o BC atrairia especuladores estrangeiros ao Brasil, inundando o país de dólares. E o excesso da moeda na praça diminui o preço dela.

 

“O resultado [da criação de emprego] poderia ter sido melhor se o juro tivesse caído mais e o câmbio estivesse ajustado num patamar que estimulasse exportações e inibisse importações”, afirmou Marinho. “Esse resultado é um alerta muito grande para a equipe econômica do governo, especialmente o Banco Central”, completou. Segundo ele, o atual valor do dólar (na casa de R$ 2,10) prejudica os interesses do país.

 

Um dia antes das declarações de Marinho, o presidente do BC, Henrique Meirelles, esquivara-se de responsabilidades pelo dólar, depois de participar de uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o tema. Segundo o banqueiro, o BC só se preocupa em controlar a inflação, pois é a única meta que tem a cumprir. O BC também acha que a enxurrada de dólares decorre dos lucros históricos que o Brasil vem tendo no comércio com outros países. No ano passado, lucrou US$ 46 bilhões.

 

A Fazenda também colaborou para a entrada maciça de dólares no país no ano passado, igualmente seduzindo estrangeiros, a exemplo do que ocorre com o juro do BC. Em fevereiro, o ministério acabou com a cobrança de imposto de renda sobre os ganhos que estrangeiros tenham especulando com a dívida federal (comprando e vendendo títulos públicos). A isenção atraiu mais de US$ 10 bilhões para títulos do governo, inclusive para papéis atrelados ao juro alto do BC, vilão do emprego, segundo Marinho.

 

A secretaria do Tesouro Nacional, repartição da Fazenda que administra a dívida, diz, no entanto, que anulou parte da conseqüência, no câmbio, do ingresso de estrangeiros adquirindo dólares que eles trouxeram e usando o dinheiro para pagar dívidas no exterior. “O efeito câmbio foi compensado pela recompra da dívida externa”, afirmou o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Ronnie Tavares.

 

Providências e tendências

 

Para este ano, o ministro do Trabalho disse que espera que sejam criados mais empregos do que em 2006, embora tenha preferido não fazer previsão numérica. Para que o otimismo se confirme, contudo, insiste que é necessários fazer algo para o dólar encarecer e, assim, facilitar exportações e frear importações. “Esse câmbio prejudica a industria nacional e está afetando a tomada de decisões do empresariado brasileiro”, disse Marinho.

 

A avaliação coincide com o que manifesta o próprio setor industrial. No dia 31 de janeiro passado, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou pesquisa que faz todo trimestre. A entidade observou que as empresas adaptaram-se ao dólar baixo, mas perderam o apetite de fazer novos investimentos de olho nas exportações porque o lucro nesta atividade já não é fácil nem tão suculento.

 

A pesquisa apurou ainda que, para as grandes empresas, o preço do dólar é tido como segundo maior problema para seus negócios – perdeu para “impostos”. Já entre pequenas e médias, o câmbio é apontado como sétimo entrave. Dois dados explicam a diferença de opinião: 80% das grandes exportam, mas só 36% das pequenas o fazem.

 

Em 2005, o dólar perdeu 17% do valor. No ano passado, 11%. Em 2007, já desvalorizou 2%. A recente queda acentuou-se depois da divulgação, pelo Banco Central, do documento que explica a última decisão sobre juros. Em janeiro, o BC cortou a taxa menos do que fazia desde maio de 2006. O documento sinaliza que o banco pretende manter a nova velocidade, tida como insuficiente pelo empresariado e pelo ministério do Trabalho.

 

O assunto mobilizou o governo na última terça-feira (6), em busca de soluções que revertam o quadro. À noite, o presidente Lula reuniu-se com Mantega e Meirelles para discutir o assunto, mas não houve nenhum anúncio. Naquele mesmo dia, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reunira-se com Mantega e, entre outras coisas, pedira que o governo tome providências em relação ao dólar.

  

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