internacional

Enviar este artículo por Correo Electrónico               

Honduras

Acusado de sedição
por defender a Constituição

Os detidos no Instituto Nacional Agrário aguardam uma audiência preliminar. Durante dois dias, 38 homens ficaram presos em uma cela de 15 metros quadrados.

 
Em 30 de setembro passado, uma operação da Polícia e do Exército evacuou 55 pessoas que, naquele momento, estavam resguardando as instalações do Instituto Nacional Agrário (INA), em Tegucigalpa. Esta instituição tinha sido ocupada, em protesto contra o golpe de Estado, por diferentes organizações camponesas com o apoio solidário do Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Nacional Agrário (SITRAINA), uma organização filiada à UITA. Agora, essa ação para defender a legalidade está sendo criminalizada pelo poder judiciário do país.

 

"Desumano" é o termo mais apropriado para descrever as condições em que se encontravam as 38 pessoas pertencentes a uma das três principais confederações camponesas do país (COCOCH, CHMC e CNC), por ficarem presas por 48 horas em uma pequena cela de 15 m² na Chefatura Metropolitana de Polícia Nº 1, mais conhecida como Comando Regional 7 (CORE-7) de Tegucigalpa.

 

O Sirel teve acesso exclusivo à instalação policial, graças às gestões do Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras (COFADEH) e pôde conversar com os detidos, antes que fossem transferidos para a Penitenciária Nacional (PN), localizada em Támara.

 

"Estamos sendo injustamente acusados de crime de “sedição", que não cometemos e por isso estamos nos declarando presos políticos. A partir do meio-dia de ontem, 1º de outubro, começamos uma greve de fome por tempo indeterminado, ingerindo apenas líquidos. Talvez, desta forma, tenhamos justiça" –disse Ramón Adalberto Díaz, um dos 38 detidos e que foi escolhido como porta-voz do grupo.

 

“Estamos vivendo em condições desumanas, amontoados e em completa escuridão. Não temos energia elétrica, existem apenas dois vasos sanitários e estamos dormindo no chão. Estamos há 48 horas sem poder tomar banho e o calor é sufocante.

 

Hoje a Cruz Vermelha Internacional nos visitou -continuou Díaz- e lhe entregamos uma petição solicitando ao chefe da Delegacia de Polícia que, de alguma forma, nos permita tomar banho”.

 

O ar entra apenas por uma janela pequena e por dois buracos feitos à mão no teto de concreto. A porta principal da cela, cujas grades foram pintadas recentemente, têm um cheiro desagradável proveniente do solvente.

 

"Na primeira audiência, o juiz não agiu com imparcialidade. Ele nos negou a liberdade condicional e nos obriga a permanecer detidos por seis dias à espera da audiência preliminar.

Já nos organizamos. Formamos diferentes comitês, tais como os de Disciplina, Alimentação, Saúde e Imprensa. Também nomeamos um coordenador geral, o companheiro Leonel Cruz Padilla.

 

Nossa resistência vai ser histórica- concluiu Ramón Adalberto Díaz- e pedimos ao mundo para nos ajudar através da solidariedade, divulgando o que está acontecendo conosco e pressionando para que a justiça seja feita".

 

Em seu pronunciamento, os privados de liberdade pediram que respeitassem a sua integridade física, que o Decreto 18/2008 seja cumprido, que seja devolvida a ordem constitucional ao país e que lhes garantam um julgamento justo conforme a lei.

 

Apenas algumas horas antes de serem transferidos para a Penitenciária Nacional de Tamara, decisão tomada após o pedido do subcomissário de Flores, que considerava inadequada a estrutura do CORE-7 para alojar um grupo tão grande de pessoas, os detidos pediram para serem visitados por um médico, já que muitos deles sofriam de várias doenças.

 

No caso das restantes 17 pessoas detidas nas instalações do INA, foi concedida liberdade condicional para 13 delas -seis mulheres, dois menores de idade e cinco idosos- ficando elas sob a proteção do COFADEH, enquanto que, para os quatro trabalhadores filiados ao SITRAINA, foi concedido o alvará de soltura.

 

Luis Santos Madrid, secretário-geral do SITRAINA, informou que já estão ativos para garantir que nenhuma medida repressiva seja tomada contra os seus filiados.

 

Repressão judicial

 

Com a intenção de se opor a esta nova estratégia de atuar sobre os cabeças da Resistência e espalhar o terror entre os manifestantes, que há 96 dias permanecem na luta, o COFADEH e a Frente de Advogados contra o Golpe de Estado anunciaram que vão recorrer da decisão da juíza Laura Castro contra a professora Agustina Flores López, irmã da diretora do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) e membro da direção colegiada da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, Bertha Cáceres.

 

Em um comunicado divulgado ontem, 1º de outubro, os advogados denunciaram "uma série de irregularidades no processo que envolve a privação da liberdade pelo crime de sedição" e informaram que "vão recorrer da ordem de prisão e solicitarão uma revisão das medidas aplicadas à professora, que se converte em uma presa política do atual governo de fato de Roberto Micheletti.

 

A Resistência de solidariza com os presos políticos

 

Durante seus 96 dias de luta, a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado prestou solidariedade aos presos políticos do INA.

 

Desta vez, o lugar da concentração devia ser em frente das instalações do Canal 36, que foi fechado dias atrás pelo governo de fato. No entanto, um impressionante dispositivo policial impediu a mobilização dos manifestantes em direção ao local.

 

Caminhando até a embaixada dos Estados Unidos, centenas de pessoas voltaram a desafiar o Decreto Executivo que cerceia as liberdades individuais e coletivas dos hondurenhos, levaram faixas e cartazes exigindo a libertação imediata dos camponeses presos injustamente.

 

Apesar do aparato militar, os manifestantes marcharam em direção ao CORE-7 entoando slogans para incentivar os detidos, terminando esta atividade no Parque Central.

 

 

 

Em Tegucigalpa, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

5 de outubro de 2009

 

 

 

Fotos: Giorgio Trucchi

 

+ INFORMACIÓN

 

 

  UITA - Secretaría Regional Latinoamericana - Montevideo - Uruguay

Wilson Ferreira Aldunate 1229 / 201 - Tel. (598 2) 900 7473 -  902 1048 -  Fax 903 0905