Enquanto a Resistência decidiu abandonar
a mesa de negociação e continuou a
mobilização nas ruas, a delegação do
presidente constitucional, Manuel Zelaya
Rosales, anunciou ter chegado a um
consenso sobre o ponto número 6 do
Acordo de San José, que prevê o retorno
dos poderes do Estado à situação
anterior ao dia 28 de Junho de 2009.
Isto implicaria o regresso de Manuel
Zelaya como Presidente da República.
Horas mais tarde, em meio a rumores e
especulações, o governo de fato informa
que ainda não há um acordo final e que o
diálogo continua.
Depois de ter anunciado um consenso
sobre 90 por cento dos pontos contidos
no Acordo de San José, e com a
assinatura das respectivas atas feita
pelos seis delegados que compõem as duas
comissões de negociação, no dia 14 de outubro, era esperado que
fosse abordado o ponto mais difícil e
que prevê o retorno do presidente
Zelaya.
Em meio a uma grande expectativa e
fortemente vigiadas pela Polícia e pelo
Exército, centenas de pessoas
pertencentes à Frente Nacional Contra
o Golpe de Estado se concentraram
novamente em um terreno baldio nos
arredores do Hotel Clarión, onde as duas
comissões davam início ao quinto dia de
negociações.
No início da tarde, Victor Meza,
um dos negociadores do presidente Zelaya,
disse, sem entrar em detalhes, que havia
chegado a um consenso sobre um texto
único relativo ao questionado ponto seis
do Acordo de San José, e que as duas
delegações iam apresentar e consultar
àqueles que lhes deram essa
responsabilidade, ou seja, o presidente
Manuel Zelaya e Roberto
Micheletti.
Em comunicação com a Rádio Globo,
uma emissora que continua transmitindo
através da Internet, devido a ter sido
fechada em consequência do vergonhoso
decreto executivo, que continua
cerceando os direitos constitucionais
dos hondurenhos e das hondurenhas, o
presidente Zelaya informou à
cidadania sobre o texto único que foi
apresentado por sua delegação na mesa de
diálogo.
"Neste momento as comissões de ambas as
partes chegaram a um consenso sobre um
texto que prevê a restituição da
Presidência da República. Agora, o texto
está em discussão para ver se conseguem
chegar a um acordo final.
O que é complicado –continuou Zelaya–
é o mecânica para alcançar esse
objetivo, pois envolve outros Poderes,
como o Congresso e a Suprema Corte de
Justiça.
Em todo caso, mantenho por um lado as
minhas reservas sobre os membros do
regime que deu o golpe de Estado e por
outro uma atitude positiva sobre o
diálogo".
Zelaya
aproveitou a ocasião para denunciar
novamente a perseguição a que estão
constantemente sujeitas as pessoas que
ainda estão na Embaixada do Brasil
e pediu o fim da repressão no país, a
restauração da Rádio Globo e do
Canal 36, a publicação no Diário Oficial da
revogação do decreto executivo que
suspende os direitos constitucionais do
povo hondurenho e o fim da
militarização.
Micheletti pede tempo
Enquanto o presidente Zelaya dava
estas declarações sem entrar em
detalhes, para não entorpecer a
negociação, da Casa Presidencial
Roberto Micheletti emitiu um
comunicado assegurando que ainda não há
acordo final sobre a questão da
restituição do presidente legítimo de
Honduras, e que as comissões vão
retomar as sessões de diálogo no dia 15 de outubro.
O
presidente Zelaya
e a Resistência mantêm o dia 15
de outubro como data final para a
restituição do presidente.
"Nós mantemos o nosso ultimato, e
esperamos que até esta data seja
alcançado um acordo final –disse Juan
Barahona, membro da direção da
Frente Nacional Contra o Golpe de Estado
e delegado da Resistência no
diálogo–. Não importa se as comissões
chegaram a um acordo sobre 90 por cento
dos pontos, pois se não se der a
restituição do presidente Zelaya,
é inútil o resto do Acordo de San José.
Respondendo a perguntas de um meio de
comunicação internacional sobre o porquê
de ele ter deixado o diálogo,
Barahona disse que "devido a não
concordar com a assinatura das atas, já
que havia alguns pontos com os quais a
Resistência não estava de acordo,
como por exemplo, renunciar à Assembleia
Constituinte.
Procuramos uma saída através da
assinatura sob reservas, mas os
golpistas se opuseram. Nós conversamos
com o presidente Zelaya e
decidimos nomear um substituto, que é o
advogado Rodil Rivera, que vai
participar na qualidade de assessor do
presidente Zelaya”.
Esta decisão da Resistência de
deixar o diálogo não só responde ao fato
de não querer criar desconfiança e
dúvidas na base no momento da
assinatura, apesar de que sob reservas
ou protesto, algo que vai contra um dos
pontos inegociáveis, que é a Assembleia
Constituinte. Também não queremos dar
instrumentos ao governo de fato para
atrasar ou abandonar o diálogo, alegando
haver divisão na comissão de negociação
do Zelaya.
"Se o presidente Zelaya não for
restituído, iremos continuar com nossas
manifestações nas ruas e vamos iniciar
um processo de não reconhecimento do
processo eleitoral. Ao mesmo tempo, não
vamos desistir da Assembleia
Constituinte, independentemente do que
for acordado e assinado na mesa de
diálogo”, concluiu Barahona.
Enquanto Honduras continua
debatendo-se em uma crise que atingiu os
seus 110 dias, o presidente de fato
Roberto Micheletti decidiu decretar
feriado nacional para o dia de ontem, para celebrar a qualificação
da seleção hondurenha à Copa do Mundo. E
não é para menos.
|