A uma semana das
eleições em Honduras, as organizações que compõem a Frente Nacional Contra o
Golpe de Estado alertaram a comunidade internacional sobre as possíveis
intenções do governo de fato de reprimir pela força qualquer tentativa de
desconhecer o ilegítimo processo eleitoral. Apesar do evidente temor de um banho
de sangue, a população continua o seu processo de resistência e se organiza para
este 29 de novembro, com o apoio e a solidariedade de centenas de organizações
sociais que, em todo o mundo, estão pressionando seus governos a não
reconhecerem os resultados desta farsa eleitoral.
Para entender como a Resistência
está se
preparando para este evento, o Sirel
conversou com
Erasto
Reyes,
coordenador do Bloco Popular em San Pedro Sula e membro
da
Frente Nacional
Contra o
Golpe de Estado,
o
qual acaba de regressar de uma longa viagem pela
Europa
para divulgar para as pessoas e instituições desses países a situação que existe
em
Honduras.
-Qual é o clima
que se está vivendo nestes dias anteriores às eleições?
-Entre
a população há muita indignação porque os golpistas querem realizar uma eleição
a ferro e fogo, e isso está aumentando a capacidade de reflexão e de crítica
social e consciência política do povo. Há um grande debate sobre democracia e
direitos políticos do povo hondurenho e o desafio se converteu em construir uma
democracia com visão popular, que privilegie os bens e serviços básicos, o
acesso à terra e aos direitos trabalhistas. Tudo isso só podemos garantir com um
processo que nos leve a uma Assembléia Constituinte.
-Várias fontes apontam para
um aumento da
militarização no país, especialmente nas comunidades, e em algumas organizações,
como o Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos em Honduras (CODEH), que
advertiram sobre a existência de planos para reprimir severamente aqueles que se
opuserem à realização de eleições. O que você está vendo?
Não há dúvidas
de que todas as denúncias que estão surgindo são preocupantes para aqueles que
acreditam que a democracia não pode ser sequestrada pela chantagem, o sangue e a
ditadura. Vemos intensos movimentos de tropas militares e policiais se
deslocando por todo o país. Foram até chamados os reservistas do Exército para
reforçar o controle militar. Aconteça o que acontecer nos próximos dias, será da
responsabilidade deste governo de fato. No entanto, o povo que luta tem o apoio
dos povos do mundo, e nós sabemos que não estamos
sozinhos.
-Como vem se
dando o processo de renúncia dos candidatos que rejeitam o processo eleitoral?
-Ainda não temos dados exatos, no entanto existem várias dezenas de candidatos e
candidatas a deputados, prefeitos e vice-prefeitos que já renunciaram, e esta
semana ainda vai haver mais gente renunciando.
-Qual a sua opinião sobre a decisão do
presidente de
fato, Roberto Micheletti, de se afastar por uma semana do poder para tentar
"limpar" a imagem do processo eleitoral?
-É mais
uma tentativa para tentar corrigir a situação de ruptura constitucional
provocada pelo golpe de Estado e, assim, mascarar essa sujeira diante dos outros
países, cuja maioria já disse que não irá reconhecer estas eleições, nem as
novas autoridades eleitas. A única maneira de remendar isso tudo é restaurar a
democracia e, neste sentido, a atitude do presidente de fato está sendo outra
manobra para tentar confundir e atrasar ainda mais o retorno à ordem democrática
e constitucional.
-Qual
é o clima vivido em San Pedro Sula com respeito à campanha de desconhecimento
do processo eleitoral?
-Há
muito pouca campanha eleitoral e a Resistência está fazendo o seu trabalho de
chegar aos bairros e colônias para informar e criar consciência entre as
pessoas, para que tomem uma decisão que tenha a ver com a defesa dos direitos
econômicos, políticos e sociais . É tudo parte de uma aprendizagem que esperamos
aproveitar no futuro, para que possamos, hondurenhos e hondurenhas, maciçamente
envolvidos na política em diferentes espaços, como por exemplo a Candidatura
Independente, romper o tradicional bipartidismo que as pessoas identificam como
parte não só do golpe do Estado, mas também da crise histórica deste país.
-Como
vocês estão se preparando para o dia das eleições?
-Em 24
de novembro preparamos uma grande mobilização pacífica em San Pedro Sula e vamos
nos manifestar custe o que custar. Estamos também preparando outras atividades,
mas que ainda não podemos divulgar, mas que se enquadram sempre na luta pacífica
do povo com a finalidade de desconhecer estas eleições.
-Nos últimos
dias, a Plataforma de Solidariedade com Honduras, integrada pelas organizações
sindicais, agrárias e políticas de diferentes países da Europa, divulgou um
manifesto no qual conclama pelo desconhecimento do processo eleitoral em apoio à
luta do povo hondurenho. Quão importante é ter neste processo de luta o apoio
internacional?
-Esta plataforma surgiu de um esforço iniciado pelo Comitê de Solidariedade
Internacional de Zaragoza, Espanha, e nos últimos meses a companheira
Betty Matamoros e eu fizemos uma extensa viagem, passando por vários países
da Europa, para levar ao povo, instituições, grupos e partidos políticos
informações sobre o que estava acontecendo em Honduras e denunciar as
atrocidades cometidas contra o povo.
Para a
Frente
Nacional Contra o Golpe de Estado é extremamente importante contar com a
solidariedade dos povos da União Europeia e do mundo, para continuar
denunciando o que está acontecendo em nosso país. Também nos permite reforçar a
luta interna contra os grupos poderosos que querem continuar manejando o Estado
com violência e dividir o país. Esperamos que este manifesto contribua para
fortalecer a ação internacional e intensificar a pressão para que essas eleições
não sejam reconhecidas.
Essa
enorme solidariedade é algo histórico, e nós agradecemos infinitamente a todas
as organizações que se uniram a este esforço. Queria agradecer em especial à
UITA pelo trabalho solidário e informativo durante todos esses meses, que
foi de enorme importância para as organizações sociais e sindicais que lutam
contra o golpe.
Pedimos
à UITA o seu apoio constante nesse esforço, porque a nossa luta vai além
disso tudo. Precisamos de uma imprensa que diga a verdade ao mundo, baseada em
fatos reais, e é isso que a UITA tem feito durante todo este longo processo.
|