Entre as tantas
demonstrações de oposição ao
golpe de Estado, se destaca
a combativa resistência do
Sindicato dos Trabalhadores
do Instituto Nacional
Agrário (SITRAINA), filiado
à UITA, que continua
apoiando e participando da
ocupação das instalações
dessa instituição, apesar
das ameaças e perseguições
do governo provisório. Para
saber em detalhes os
pormenores deste processo de
resistência, Sirel dialogou
com Samuel Antonio Sánchez,
ex-diretor e atualmente
filiado ao SITRAINA.
-Como vocês chegaram à
decisão de ocupar as
instalações do Instituto
Nacional Agrário (INA)?
-Como consequência do golpe
de Estado, o SITRAINA
iniciou um processo de
defesa das instituições do
país. Conversamos com várias
organizações camponesas e
decidimos ocupar as
instalações do INA
por tempo indeterminado. Já
estamos há mais de 50 dias
resistindo.
A ocupação se realizou como
forma de rejeição à
autoridade imposta pelo
governo provisório, já que
não podemos aceitar o novo
diretor que foi designado.
Neste momento, as dez
seccionais do SITRAINA
estão mobilizadas para
apoiar as organizações
camponesas e realizaram
várias ocupações em todo o
país.
-Como tem sido a relação,
aqui na capital, com o
diretor que lhes impuseram?
-O senhor Eduardo
Villanueva fez
declarações dizendo que
pretende chegar a um acordo
conosco e com as
organizações camponesas. No
entanto, não podemos confiar
porque há o temor de que
estejam perseguindo o
objetivo de alterar ou
desaparecer com todos os
expedientes que pertencem
aos camponeses. Para nós, as
organizações camponesas
devem ter a legítima
representação no INA
e, neste sentido, foram
emitidos dois comunicados
nos quais são apresentadas
as nossas demandas.
-Qual é o conteúdo destes
comunicados?
-O não reconhecimento do
governo provisório, a volta
das instituições
democráticas e que se
aplique a Lei de Reforma
Agrária, porém no marco das
mesmas instituições, já que
qualquer atitude do governo
provisório é nula. O
SITRAINA está apoiando
estas organizações
camponesas nas suas justas
demandas.
São os camponeses os
beneficiários da Reforma
Agrária, e são eles os donos
dos seus expedientes. Nós os
apoiamos até que se resolva
esta situação, porque não é
possível negociar com um
diretor que usurpou o cargo
do antigo diretor José
Francisco Funes.
-Quanta gente está mantendo
a ocupação do INA?
-São aproximadamente 100
pessoas permanentes, e o
SITRAINA está
apoiando-as com doações e
alimentos. É difícil porque
o desgaste físico e
econômico é grande, mas
vamos seguir adiante.
-Houve perseguição por
parte das forças repressoras
do governo provisório?
-Vieram com a ameaça de que
iriam nos desalojar, mas os
companheiros camponeses
estão dispostos a lutar e
defender o que acreditam ser
propriedade deles, como é o
INA, que foi pensado
e criado para eles. O
SITRAINA estará com eles
permanentemente.
-Qual tem sido a
participação do SITRAINA nas
mobilizações a nível
nacional?
-O SITRAINA tem dez
seccionais que desenvolveram
um trabalho estratégico
importante em todos os
departamentos onde estamos
presentes. Nossa linha de
luta reivindicatória, a
favor dos direitos dos
camponeses, é permanente.
-Como se sai desta situação
tão difícil e complicada?
-Depois de 52 dias, o povo
vem demonstrando uma
extraordinária capacidade de
resistência. Não temos
muitos recursos, ninguém nos
dá dinheiro para desenvolver
estas atividades
permanentes, no entanto as
pessoas continuam
participando das marchas,
passando fome, dispostas a
arriscar sua integridade
física.
Isto já é uma vitória,
porque não se trata apenas
da volta do presidente
Manuel Zelaya, mas sim
de uma profunda mudança da
Constituição que seja para
os pobres e não somente para
os ricos. O povo está motivado e
continua nas ruas, e isto
será o nosso instrumento
para a vitória.
-O SITRAINA é filiado à
UITA, organização
internacional que se fez
presente de imediato para
apoiar os seus filiados e
para informar sobre o que
está acontecendo no país.
Como avaliam este trabalho?
-Quando falamos de presença
internacional neste momento
tão difícil, sempre dizemos
que a UITA tem sido a
instancia que
verdadeiramente tem
respondido, e nos tem
acompanhado na luta, com a
sua solidariedade e apoio.
Por isso continuamos
permanentemente com a UITA e
continuamos de maneira firme
e coerente com nossos
princípios |