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Honduras

O Prêmio Nobel da Paz

e os Esquadrões da Morte

Continuaram os assassinatos, perseguições e torturas durante as festas tradicionais. Os Estados Unidos abençoam o regime golpista. A comunidade internacional brilha pela sua ausência.

 

Não parou nem só um instante a política do terror implementada desde o dia 28 de junho passado em Honduras, retomando o fio da violência sistêmica dos anos 80. As organizações hondurenhas de direitos humanos continuam denunciando assassinatos, perseguições, ameaças e torturas contra membros da Resistência, assim como os preocupantes episódios de violência contra jornalistas comprometidos com a luta contra o golpe de Estado e a absurda tentativa do governo de fato de “passar uma borracha” em tudo o que aconteceu nos últimos seis meses.

María Yolanda Chavarría

Edwin Renán Fajardo

César Silva

César Silva

 

O Departamento de Estado norte-americano, através do seu funcionário Craig A. Kelly em visita a Honduras, pediu novamente ao presidente de fato Roberto Micheletti que abandonasse o poder antes do dia 27 de janeiro, data prevista para a transferência do mandato, e apoiou a proposta do futuro presidente Porfirio Lobo Sosa de decretar uma anistia geral que incluísse o próprio presidente legítimo Manuel Zelaya Rosales.

 

Dessa maneira, a administração Obama e vários países europeus pretendem livrar a cara do novo governo e torná-lo aceitável para o resto da comunidade internacional. No entanto, nem mesmo uma só palavra foi pronunciada sobre os inúmeros casos de violação dos direitos humanos que continuam ensangüentando o país.

 

Para o Comitê de Familiares de Presos Desaparecidos em Honduras (COFADEH), que no dia 1 de janeiro de 2010 realizou um plantão na Praça La Merced, rebatizada Praça dos Desaparecidos, em frente ao Congresso Nacional, em Honduras “está operando um esquadrão da morte com infra-estrutura terrorista, responsável por execuções, perseguições e mortes seletivas contra membros da Resistência, com o total conhecimento da Polícia e do Exército”.

 

Em um documento de conhecimento público nesta ocasião, esta histórica organização denuncia que “existe um padrão de violações sistemáticas aos direitos humanos cometidas pela mesma estrutura que rompeu a ordem constitucional no dia 28 de junho de 2009”.

 

As execuções de Walter Tróchez  e Edwin Renán Fajardo, editor dos documentários e reportagens produzidos pelo jornalista César Silva, além dos seqüestros e dos ataques continuados ao pessoal do jornal El Libertador e da Rádio Globo, confirmaria a existência desta infra-estrutura assassina que tem por objetivo semear o terror entre os membros da Resistência.

 

“Hoje estamos vivendo os primeiros dias de 2010, e o fazemos sob uma atmosfera de terror, com a qual os golpistas civis e militares, nacionais e estrangeiros, pretendem silenciar as vozes de milhões de legítimos hondurenhos e hondurenhas, que recusam a violência como forma de estabelecer o consenso e governar o Estado”, continua o documento.

 

Natal ensanguentado

 

Edwin Renán Fajardo Argueta, de 22 anos, membro ativo da Resistência, foi assassinado no dia 22 de dezembro de 2009 em seu apartamento em Tegucigalpa, e os seus assassinos tentaram, friamente, simular um suicídio por enforcamento. Nos dias que antecederam o assassinato, Edwin Renán Fajardo havia comunicado aos seus amigos que estava preocupado porque havia recebido várias mensagens de texto com ameaças em seu celular.

 

César Silva, jornalista independente comprometido em relatar e denunciar através dos seus vídeos os horrores do golpe de Estado, foi retirado de um táxi por três homens armados no dia 28 de dezembro de 2009 e levado a um cativeiro clandestino, onde foi agredido repetidamente para que desse informações sobre a Resistência e supostos depósitos de armas vindas do estrangeiro.

 

 “Na madrugada um dos seqüestradores entrou. Agarrou-me pelo pescoço, me jogou no chão, me chutou e colocou uma cadeira no meu pescoço para me sufocar. Atirou uma bolsa de água no meu nariz. Estava ficando asfixiado, e ele tentou colocar a bolsa na minha boca. Porém, do lado de fora gritaram:”Já te disse para não se meter em encrenca (em problemas), Deixe-o”, relatou o jornalista à imprensa internacional.

 

Ao chegar aos escritórios do COFADEH, depois de ter sido liberado após 24 horas de interrogatório selvagem, Silva relatou que os seqüestradores lhe disseram que um anjo da guarda salvou a sua vida.

 

Mais jornalistas ameaçados

 

O correspondente da Imprensa Latina, Ronnie Huete, o jornalista da Rádio Globo, Rony Martínez e a jovem jornalista do El Libertador, Suny Arrazola  foram repetidamente ameaçados de morte por celular e constantemente perseguidos, enquanto que o editor desse mesmo jornal, René Novoa, foi brutalmente agredido por membros do Exército e da Polícia enquanto estava em um táxi.

 

Desde o golpe de Estado, os jornalistas do El Libertador foram submetidos a constante repressão e o repórter gráfico Delmer Membreño teve que fugir para o exílio depois de ter sido seqüestrado e brutalmente torturado.

 

A brutalidade deste regime opressor voltou-se até contra uma das “avós da Resistência”.

 

María Yolanda Chavarría, de 70 anos, foi detida por três policiais e transferida para um quarto escuro de um posto policial no dia 22 de dezembro de 2009. Segundo relatou ao COFADEH, os policiais a continuaram insultando e lhe disseram que era uma delinqüente e que haviam tirado fotos enquanto estava com a Resistência.

 

Não à anistia

 

Diante desta situação, o COFADEH fez um apelo à comunidade internacional para que “não feche os olhos para este país centro-americano e o declare em situação de alerta máximo com relação aos direitos humanos.

 

É extremamente urgente que, antes do simulacro de transferência de mandato no próximo dia 27 de janeiro, e mesmo depois desta data, as organizações multilaterais abram em Honduras representações “in situ” para coordenar as operações de salvamento das lideranças sociais e políticas que se opõem aos assaltantes do poder.

 

 Honduras avança de forma acelerada, longe dos olhares internacionais, para um estado de absoluta fragilidade que deve sofrer interferência - continua o apelo do COFADEH.

 

Para os perseguidos e perseguidas por esta ditadura, exigimos julgamentos não viciados e respeito ao devido processo, liberdade para os quatro presos políticos na Penitenciária Nacional e o retorno seguro de quase uma centena de pessoas que saíram forçadamente de Honduras, pela ameaça eminente às suas vidas.

 

Sem processo constitucional popular não há paz nem tranqüilidade possíveis. Sem um novo Pacto Social e consenso político mínimo, nenhuma governabilidade será possível”, conclui o documento.

 

Em Manágua, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

13 de janeiro de 2010

 

 

 

Fotos: voselsoberano.com y Giorgio Trucchi

 

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