Diante da obtusa atitude do governo de
fato de não querer restaurar a
democracia e dos contínuos episódios de
violência e repressão contra o povo
organizado, a Frente Nacional Contra o
Golpe de Estado realizou a sua primeira
Assembléia de Delegados e Delegadas dos
18 departamentos do país, para analisar
o contexto sócio-político nacional,
definir e aprovar as linhas estratégicas
comuns, assim como sua estrutura
organizacional e funcionamento em nível
nacional e internacional.
Israel Salinas |
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Padre
José Andrés Tamayo |
“Foi um debate muito interessante do
qual participaram delegados de todo o
país e pelo qual aprovamos a proposta
dos delineamentos estratégicos para a
luta contra o golpe, e para os níveis de
organização, comunicação e finanças
–disse ao Sirel o secretário
geral da Confederação Unitária de
Trabalhadores de Honduras (CUTH)
e membro da direção colegiada da
Frente Nacional Contra o Golpe de Estado,
Israel Salinas–.
Foi formada uma Coordenação Nacional
provisória, por um período de três
meses, integrada por representantes de
todas as regiões, e esperamos que, uma
vez restituída a ordem constitucional, o
movimento de resistência se transforme
em algo permanente, assumindo o nome de
Frente Nacional de Resistência
Popular, com o objetivo de avançar
em direção a uma Assembléia Constituinte
democrática e popular, com a
participação dos diferentes setores
sociais.
Nos demos, também, um prazo de três
meses para completar o processo de
organização da Frente em nível
territorial
–continuou Salinas–,
com representações em nível nacional,
regional, departamental, municipal, de
bairros e comarcas, com o objetivo de
continuar nos fortalecendo e agrupar
mais gente para os desafios que nos
esperam em curto, médio e longo prazo”.
Na Assembleia também foi abordado o tema
das eleições, e os delegados decidiram
repudiar o processo eleitoral se antes
não for restaurada a ordem institucional
com a volta do presidente Manuel
Zelaya.
“Aqui não se trata apenas de considerar
as eleições ilegais e ilegítimas, mas
sim de desenvolver toda uma estratégia
para boicotá-las”, sentenciou o
secretário geral da CUTH.
Nestes últimos dias, os candidatos dos
dois partidos tradicionais, o Partido
Liberal e o Partido Nacional, têm sido
objeto de fortes críticas da parte de
membros da Resistência. No domingo, dia
6, um protesto popular foi duramente
reprimido pela Polícia, Exército e
simpatizantes liberais que protegiam a
atividade do candidato deste partido,
Elvis Santos.
Os delegados reunidos nesta primeira
Assembléia acordaram, também, em
constituir uma Comissão Internacional
que se encarregará de coordenar as ações
de apoio que, nesse âmbito, surjam na
Frente, canalizar as informações sobre
ações de solidariedade internacional,
propiciar a formação mundial de Comitês
de Solidariedade e a incorporação de
emigrantes hondurenhos nas ações de
resistência.
Continua a mobilização diária
Depois de 75 dias de resistência
constante e pacífica, a Frente
Nacional Contra o Golpe de Estado
decidiu dar novo impulso à luta através
de jornadas de mobilização em nível
nacional, concentrações nacionais em
Tegucigalpa, caravanas de veículos em
todo o território hondurenho, e o apoio
incondicional às organizações de
direitos humanos, à estóica luta das
organizações camponesas e do SITRAINA,
afiliado à UITA, que desde o dia
28 de junho mantêm ocupadas as
instalações do Instituto Nacional
Agrário (INA), além da luta do
magistério.
“As pessoas estão muito animadas e
continuam somando-se ao protesto, não só
na capital, mas em todo o país. Pedimos
a todos os povos do mundo, aos
trabalhadores e trabalhadoras, que se
solidarizem com a nossa luta. Estamos na
reta final e necessitamos que se aumente
a pressão contra este governo de fato”,
concluiu Salinas.
Continua a repressão
Foi formada uma Coordenação
Nacional provisória, por um
período de três meses,
integrada por representantes
de todas as regiões.
Esperamos que, uma vez
restituída a ordem
constitucional, este
movimento se transforme em
algo permanente, assumindo o
nome de Frente Nacional de
Resistência Popular, com o
objetivo de avançar em
direção a uma Assembleia
Constituinte democrática e
popular, com a participação
dos diferentes setores
sociais |
Na tentativa de emudecer as múltiplas
vozes contra o golpe, o governo
provisório e a alta hierarquia da igreja
católica novamente se voltaram contra o
padre José Andrés Tamayo, pároco
de Salamá, departamento de Olancho, e
reconhecido defensor dos recursos
naturais do país e membro da Frente
Nacional Contra o Golpe de Estado
que no passado foi vítima de vários
atentados.
O sacerdote, de origem salvadorenha,
obteve a nacionalidade hondurenha depois
de ter vivido mais de 25 anos no país.
“Neste momento a Imigração iniciou os
trâmites para anular a minha
naturalização e me expulsar do país, explicou o padre Tamayo ao
Sirel.
Trata-se de uma perseguição política
contra a minha pessoa, e estão me
acusando de instigar o povo contra o
governo de fato, só por estar
participando ativamente das marchas”.
Neste embate repressivo contra o pároco,
também está participando a alta
hierarquia da igreja católica, que
parece não ter digerido as repetidas
denúncias do padre Tamayo, que
vinculam as autoridades do setor
religioso com o golpe de Estado.
“O bispo da Diocese de Olancho, Tomás
Andrés Mauro Muldoon, me deu um
ultimato para que eu abandonasse a
paróquia de Salamá até o dia 31 de
agosto. Está claro que nem mesmo a
igreja está aprovando a minha
participação na resistência ao golpe de
Estado.
No entanto, me manterei firme. Não posso
trair o povo porque seria como trair os
meus próprios ideais. Vou continuar
acompanhando o povo aconteça o que
acontecer”, concluiu o padre Tamayo.
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