A violenta e brutal
repressão de 12 de agosto
passado contra os
manifestantes, além de
deixar um preocupante saldo
de espancados, torturados e
feridos, desembocou na
detenção de centenas de
pessoas, 24 das quais foram
encaminhadas aos juizados e
estão enfrentando uma
audiência inicial que poderá
resultar em uma condenação
injusta.
Alba Leticia Ochoa |
Bertha Cáceres |
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A audiência começou no dia
18 de agosto passado, na
Corte Suprema de Justiça,
cujas instalações foram
cercadas por centenas de
manifestantes que, uma vez
mais, foram às ruas para
demonstrar seu repúdio ao
golpe de Estado e para pedir
a liberdade de suas
companheiras e companheiros
que estão detidos ou que
receberam medidas
substitutivas e
alternativas.
Segundo Marco Antonio
Gómez, membro da equipe
auxiliar dos advogados de
defesa, “Estamos apoiando os
24 acusados, onze dos quais
com medidas substitutivas e
alternativas, 13 detidos na
Penitenciária Nacional. Foi
apresentada uma
inadmissibilidade contra um
membro do Ministério Público
e, logo após, um recurso de
anulação com base na
violação da Constituição.
Nesta audiência –continuou
Gómez– será definido
se requeremos ou não a
inadmissibilidade da
Promotoria e, depois,
iniciaremos uma série de
inspeções para demonstrar
que houve violações aos
direitos fundamentais dos
acusados, cometidas pelos
integrantes da Polícia e
membros do Ministério
Público, durante e depois
das detenções.
Apesar de todas estas
adversidades, as pessoas
acusadas estão unidas como
uma rocha. O moral é alto
porque sabem que há milhares
de pessoas reféns desta
situação e pedem sua
liberação”, concluiu o
advogado Marco Antonio
Gómez.
De acordo com o advogado
Víctor Fernández,
titular do grupo de
advogados de defesa, existe
a esperança de que o
julgamento caminhe bem, já
que foi possível provar com
evidências “a repressão
formal exercida pelo Estado
através dos órgãos policiais
e do Ministério Público.
Fica claro o abuso e o
desrespeito aos direitos de
defesa, à integridade
física, à leitura dos
direitos dos acusados, os
vexames, as lesões a que
foram submetidos”, lê-se em
uma nota difundida pelos
meios de comunicação afins à
Frente Nacional Contra o
Golpe de Estado.
Agressões e detenções
ilegais
“Todas as acusações são
mentirosas e estamos diante
de uma grande injustiça e
vamos provar isso, disse
Alba Leticia Ochoa,
coordenadora para a
América Central da Green
Forest Development
Foundation (GDF-CA),
ao sair da Corte Suprema de
Justiça, ainda com as marcas
no rosto da violenta
agressão física de que foi
vítima".
Alba Leticia
estava no Parque Central, a
poucos metros do Congresso
onde se desencadeou a
repressão, e interveio em
defesa de um jovem de 17
anos quando viu vários
policiais espancando-o com
selvageria.
“Saí do escritório por volta
de uma da tarde de 18 de
agosto passado e vi que a
Polícia estava batendo na
cabeça de um jovem com uma
barra de ferro. Eu gritei
para os policiais que não
continuassem batendo no
rapaz, e esse foi o meu
crime.”, lembra Ochoa.
Ato contínuo, ela foi detida
e levada para as instalações
do Batalhão Cobra, onde foi
repetidamente espancada e,
graças somente à presença de
seus familiares e das
organizações dos direitos
humanos, foi liberada, em
que pese ter recebido
medidas substitutivas e
alternativas à detenção.
A barbárie do regime
opressor
Para a Frente Nacional
Contra o Golpe de Estado,
esta manobra de processar os
manifestantes é uma nova
expressão da barbárie do
regime de fato1.
“É importante denunciar que
não se trata somente destas
24 pessoas em Tegucigalpa,
mas de muitas mais que vão
ser processadas em
diferentes partes do país, disse Bertha Cáceres,
diretora do Conselho Cívico
das Organizações Populares e
Indígenas de Honduras (COPINH)
ao Sirel".
Estas pessoas estão sendo
acusadas de um grande número
de delitos e, em nome da
Frente Nacional Contra o
Golpe de Estado,
repudiamos esta medida e
condenamos de maneira
enérgica esse processo,
declarando que nossos
companheiros e companheiras
são presos e perseguidos
políticos.
Não é possível que, além de
terem sido agredidos e
torturados pelas forças
especiais da Polícia, fossem
levados a centros ilegais de
detenção. E é incrível a
total ausência do Ministério
Público e da Promotoria dos
Direitos Humanos, que uma
vez mais estão demonstrando
sua cumplicidade com o golpe
de Estado”, concluiu
Cáceres.
No momento em que redijo
esta nota, a audiência na
Corte Suprema de Justiça
ainda não terminou e,
novamente, uma longa
caravana de centenas de
veículos e motos está
paralisando a circulação da
capital, protestando contra
o governo de fato.
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