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Honduras

Honduras – 39 dias do golpe de Estado

Querem lacrar a Rádio Globo,

a voz do povo em resistência

Continua a repressão. Feridos e detidos em San Pedro Sula.

Grande mobilização na capital

 

A política do cabresto e do garrote implementada pelo governo de fato, a partir de 28 de junho, é mais uma das peças para reprimir violentamente a mobilização pacífica que estava ocorrendo na cidade de San Pedro Sula e ao pretender lacrar e sequestrar os equipamentos da Rádio Globo, uma das poucas vozes que ainda se recusam a alinhar-se com a ditadura na mídia que impera no país.

David Romero

 

De acordo com documentos que vazaram até a Rádio Globo, existe uma ordem de “fechamento definitivo e confisco ou apreensão das instalações e equipamentos” da emissora, solicitada pelo advogado José Santos López Oviedo em nome da Auditoria Geral Militar das Forças Armadas.

 

Esta petição foi apresentada à Comissão Nacional de Telecomunicações (CONATEL), organismo regulador das comunicações em Honduras, acusando a Rádio de vários delitos como “sedição”, ter “interesses contrários à soberania”, “difundir calúnias difamatórias e insultos contrários a honra da pátria”, incorrendo assim no delito de “atentar contra a ordem pública e a paz da nação", conforme se lê no texto da mesma.

 

“Trata-se de um atentado velado que concretiza o que vem sendo promovido, desde o dia do golpe de Estado, para silenciar a nossa Rádio - disse David Romero, diretor geral da Rádio Globo.

 

Apresentaram um documento à CONATEL solicitando o fechamento e o confisco de todos os equipamentos da Rádio Globo, alegando que estamos incitando à insurreição e à violência, e usam como argumento uma declaração do senhor Andrés Pavón presidente da Comissão dos Direitos Humanos de Honduras (CODEH) feita nesta Rádio, dizendo que “estamos em insurreição porque o artigo 3º da Constituição admite”.

 

Diante desta obtusa pretensão de silenciar um dos poucos meios de comunicação que continuam denunciando o golpe de Estado, David Romero garantiu que vão utilizar de todos os mecanismos legais para impedir esta afronta.

 

“Esperamos que recuem e não cometam este erro. O documento acaba de dar entrada na Mesa de Direitos Legais da CONATEL  e esperamos que nos notifiquem oficialmente porque, até o momento, não recebemos nada. Enquanto isso, já temos uma equipe de advogados que está preparando a defesa e vamos continuar trabalhando normalmente”, garantiu o diretor geral da Rádio Globo.

 

Uma total rejeição a esta medida violadora do direito à livre expressão veio também de Frank La Rue, Relator especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para a Liberdade de Opinião e Expressão.

 

“Estou em Honduras em uma visita pessoal para observar a situação da liberdade de expressão. Eu me reuni com vários meios de comunicação, jornalistas e organizações de direitos humanos, e todos expressaram preocupação, mas nunca pensei que pudessem chegar ao ponto de querer fechar esta emissora.

 

Acredito –continuou La Rue– que é claramente uma violação à liberdade de expressão, não só pelo fechamento de uma Rádio, mas também porque é uma infração ao direito do povo hondurenho de ter acesso à informação. Não se pode utilizar as diferenças políticas ou ideológicas para fechar um meio de comunicação”.

 

O representante das Nações Unidas condenou também a pretensão de usar o direito penal para combater o trabalho informativo realizado pela Rádio Globo.

 

“A meu ver é uma manobra absurda e grosseira. A utilização do direito penal para criminalizar a divergência de opiniões, a crítica e a oposição às políticas públicas sempre é o recurso de regimes autoritários que não querem permitir espaços democráticos.

 

Com esta tentativa fica demonstrado que estamos diante de um governo de fato que está acabando com os espaços democráticos”, concluiu La Rue, informando que nos próximos dias emitirá um comunicado de imprensa em Genebra e apresentará um relatório aos Conselhos de Direitos Humanos e de Segurança da ONU.

 

A multidão marcha novamente

 

O movimento popular voltou a marchar no dia 4 de agosto pelas ruas da capital hondurenha. Milhares de pessoas caminharam de forma pacífica diante das instituições e corporações privadas, entre elas a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CONADEH), a Televicentro e a Procuradoria da República, coniventes com o golpe de Estado. As pessoas pintaram as paredes destes locais com slogans que expressam absoluto repúdio ao papel que estes organismos vêm desempenhando até agora.

 

Foram vividos momentos de tensão quando um guarda de segurança da corporação Televicentro, propriedade do magnata da comunicação José Rafael Ferrari, disparou para o ar tentando impedir que os manifestantes se aproximassem, sendo logo apoiado por um grande contingente policial do Comando Especial Cobra (COECO).

 

“O governo de fato endureceu a repressão contra a resistência popular. Ontem reprimiram a mobilização em San Pedro Sula e houve dezenas de feridos e detidos, mas não vamos nos desmobilizar - disse o coordenador do Bloco Popular e membro da condução colegiada da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, Juan Barahona.

 

Eles acham que vamos nos desmobilizar e esta é a resposta. Amanhã vamos começar a Marcha Nacional de Resistência Popular: as pessoas do país inteiro vão se mobilizar, percorrendo aproximadamente 110 quilômetros para chegar a San Pedro Sula e Tegucigalpa”, explicou ao Sirel.

 

Mais repressão

 

Na segunda-feira, 3 de agosto, a mobilização da resistência popular em San Pedro Sula foi brutalmente reprimida com um padrão bem parecido ao utilizado no dia 30 de julho passado, em Tegucigalpa.

 

“Estávamos bloqueando a estrada nos arredores de San Pedro Sula quando a Polícia, sem qualquer conversa, começou a nos atacar brutalmente. Tiraram as pessoas dos carros e começaram a espancá-las, quebraram os vidros de vários veículos e nos perseguiram até o Parque Central, contou Gustavo Mejía, membro da Coordenação Nacional de Resistência Popular (CNRP).

 

Foi uma verdadeira caçada contra qualquer pessoa que encontrassem pela frente, e até os jornalistas foram agredidos. No final, houve muitos feridos e detidos, inclusive crianças e idosos, e estamos muito preocupados porque uma mulher que foi ferida ainda está desaparecida.

 

Nos próximos dias –concluiu Mejía– continuaremos com as mobilizações, e para a quinta-feira, 6 de agosto, organizamos uma grande concentração com pessoas vindas de sete departamentos, prevista para durar pelo menos quatro dias”.  

 

Em Tegucigalpa, Giorgio Trucchi

Rel-UITA

7 de agosto de 2009

 

 

 

 Fotos: Giorgio Trucchi

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